
O furto das joias da coroa francesa no Louvre chocou o planeta, não apenas pelo valor histórico do acervo, mas pelo detalhe constrangedor revelado: o sistema de monitoramento usava como senha administrativa simplesmente “LOUVRE”. Em plena era de inteligência artificial, ameaças sofisticadas e ataques sem cliques, ver uma instituição icônica depender de uma senha tão óbvia é quase surreal. Quase porque essa realidade está longe de ser rara.
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Fica evidente o que a segurança digital nos força a repetir: não são os ataques mais glamourosos que derrubam empresas, são as falhas mais elementares. A segurança digital continua caindo por negligência com o básico, e isso vale tanto para museus centenários quanto para empresas modernas e digitalizadas.
Senhas fracas são a brecha mais subestimada do mundo
Muitos profissionais ainda veem infraestrutura física e sistemas de TI como mundos separados. Os resultados são: portas digitais abertas, políticas de acesso frágeis e ativos críticos defasados que continuam operando “porque sempre foi assim”. Vemos muitos casos com — uma senha óbvia — não revisada, sem MFA (autenticação multifator) e, no caso do Louvre executada sobre um Sistema Operacional antigo, já sem suporte a patches de segurança. Isso é praticamente um convite aos criminosos.
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No Brasil, não é incomum ver organizações modernas com senhas padrão, contas “de manutenção” ou mesmo com privilégios “admin” esquecidas e MFA aplicado só no que “parece crítico”. Não existe sistema “menos crítico” quando ele serve de porta de entrada para o resto da rede. A IoT “simples”, o servidor legado ou a conta de serviço sem dono, tudo isso costuma ser o primeiro passo de um ataque encadeado.
Você sabe quem tem a chave do seu “museu”?
Segurança começa com visibilidade: quem acessa, o que acessa, com qual permissão e por quanto tempo. Senhas longas, únicas e desvinculadas da marca; uso amplo de MFA; monitoramento contínuo de credenciais; revisão periódica de contas: isso não é “boas práticas”, é condição mínima para operar com credibilidade.
Identidades são o novo perímetro. E a corrupção/exposição de credenciais está entre os vetores mais frequentes de acesso inicial. Segundo o estudo da Tenable no Brasil, “Velhos hábitos são difíceis de morrer: como os desafios relacionados a pessoas, processos e tecnologia estão prejudicando as equipes de cibersegurança no Brasil”, 56% das empresas ouvidas admitem não integrar dados de identidade e privilégios em seus processos preventivos — evidência de que a entrada do invasor costuma ser humana ou de credencial, não um “zero-day” mirabolante.
CISOS, gestores e profissionais de segurança da informação precisam ter em mente que o básico ainda é o maior problema.
O incidente no Louvre e o reflexo no mundo corporativo
O episódio do Louvre virou assunto global, porém deveria virar estudo de caso para CFOs, CIOs e CISOs. Não importa se você protege obras renascentistas ou dados sensíveis de clientes: uma senha óbvia em um Windows sem suporte equivale a deixar a porta escancarada. Empresas brasileiras não estão imunes. Se um símbolo mundial da cultura caiu por descuido, o que dizer de ambientes empresariais com centenas de sistemas, terceirizados, contas temporárias e integrações?
Segurança é disciplina, e sua base é simples: credenciais fortes, governança de identidade e cultura de zero-concessão. Porque não existe firewall milagroso que salve uma falha básica e o atacante sempre começa pelo óbvio, antes do sofisticado.
Por fim, não recomendo zombar de casos como o do Louvre – quem ri hoje chora amanhã com o mesmo problema. Segurança não é mistério, é postura. Quem trata controle de acesso como detalhe contribui para manter seu ambiente numa exposição permanente de riscos.
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