À medida que os astronautas passam períodos mais longos no espaço, como os seis meses típicos na Estação Espacial Internacional (ISS), um problema de saúde vem se tornando cada vez mais evidente: alterações significativas na visão, que atingem cerca de 70% dos tripulantes em missões prolongadas. Essa condição foi identificada como Síndrome Neuro-Ocular Associada ao Voo Espacial (SANS, na sigla em inglês).
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No ambiente de microgravidade, líquidos corporais como sangue e fluido cerebroespinal se deslocam para a parte superior do corpo, provocando aumento da pressão intracraniana. Isso pode gerar inchaço no disco óptico, achatamento do globo ocular e alterações na retina, efeitos que se manifestam como visão turva, necessidade de óculos mais fortes ou dificuldade para leitura.
Essas mudanças foram registradas com profundidade em investigações como a Fluid Shifts, conduzida entre 2015 e 2020, que mapeou como o fluxo de sangue do cérebro se altera em órbita. A pesquisa VIIP (Visão e Pressão Intracraniana) complementou esses dados com exames de imagem e testes de acuidade visual em mais de 300 astronautas.
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Novas tecnologias e contramedidas promissoras

A NASA e outras agências espaciais têm investido em soluções para mitigar a SANS. Uma das mais promissoras é o uso de torniquetes nas coxas, que restringem o fluxo sanguíneo e podem ajudar a controlar o acúmulo de líquidos na parte superior do corpo. A investigação Thigh Cuff está testando a eficácia dessa técnica como ferramenta simples e prática a bordo.
Outra linha de estudo importante é o uso da tomografia de coerência óptica (OCT), como na pesquisa canadense SANSORI, que identificou alterações na rigidez dos tecidos oculares durante missões longas, fator que também pode explicar o desenvolvimento da SANS.
Com as futuras missões a Marte, que podem durar até três anos, a preocupação com a saúde ocular dos astronautas se intensifica. Pesquisas como a MHU-8 da JAXA já analisam mudanças genéticas e o uso de gravidade artificial como possíveis soluções.
Além de proteger astronautas, esses estudos trazem impactos para a medicina terrestre, com potencial de avanços no tratamento de glaucoma, miopia, hipertensão intracraniana e doenças causadas por repouso prolongado. O espaço segue sendo um laboratório crucial para entendermos e protegermos a visão humana, tanto em órbita quanto aqui embaixo.
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