A Mulher da Casa Abandonada: confira entrevista sobre série do Prime Video

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Chegou ao Prime Video nesta sexta-feira (15) os três episódios de A Mulher da Casa Abandonada, série documental da plataforma inspirada no podcast de mesmo nome lançado pela Folha de São Paulo em 2022.

Criado pelo jornalista Chico Felitti, que teve a ideia para sua história quando descobriu uma mansão em ruínas em um bairro nobre de São Paulo e ficou curioso pela existência de uma senhora um tanto peculiar vivendo no local, o podcast foi um fenômeno estrondoso na época de seu lançamento.

Responsável por revelar uma história criminosa ocorrida mais de 30 anos antes nos Estados Unidos, A Mulher da Casa Abandonada ganhou projeção nos noticiários, redes sociais e rodas de conversa da época, fazendo com que a casa virasse ponto turístico em São Paulo e levantasse muitos debates sobre seus desdobramentos.


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Série é versão e não adaptação do podcast

Segundo a diretora da série, Kátia Lund (Cidade de Deus), assim como “outros streamings e diretores”, ela também se interessou pelo caso logo de imediato, tomando a iniciativa de ligar para a Amazon e pedir para encabeçar a série caso eles comprassem o material original.

“Eu acho essa história muito forte, além de ser uma metáfora da história do Brasil, da sociedade, família, arquitetura, arte brasileira. Tem muitas camadas nessa história, então eu achei importante e interessante contá-la”, pontuou em entrevista exclusiva ao Canaltech.

Chico Felitti, que também atuou como produtor executivo e consultor criativo da série (além de agora também viver um personagem da história), contou ainda que Kátia propôs algo que ninguém até então havia sugerido: “fazer uma nova versão e não uma adaptação do podcast, contando esse caso com outra perspectiva e profundidade”.

Uma ideia que deu origem ao projeto lançado nesta sexta-feira no Prime Video.

História trata de crime bárbaro

Composto por três episódios de pouco mais de 30 minutos de duração cada, A Mulher da Casa Abandonada conta a história da personagem-título: uma mulher descoberta por Chico, a princípio devido a curiosidade e compaixão por sua situação, mas que se revela, na verdade, ser uma foragida do FBI.

Chamada Margarida Bonetti, ela e o ex-marido, Renê Bonetti, foram acusados de manter uma empregada em situação análoga à escravidão nos Estados Unidos, explorando Hilda Rosa dos Santos por quase 20 anos, até a vítima ser ajudada por vizinhos.

Embora Renê tenha sido julgado, condenado e ficado seis anos encarcerado, Margarida foi apenas indiciada no país, nunca tendo ido a julgamento porque fugiu para o Brasil. Uma história que, inclusive, teve grande repercussão jurídica nos Estados Unidos na época, levando à criação de uma lei que protege vítimas de trabalho forçado.

“Diferente de outros true crimes, esse crime não tem um corpo estendido no chão com sangue. É uma violência chocante, é um crime bárbaro, mas cometido entre quatro paredes. Então essas reencenações [da série] dão uma ideia dos relatos que a Hilda conta e também do relato dos vizinhos, investigadores e policiais”, explicou Mariana Paiva, roteirista do show.

Vítima contribuiu com depoimentos chocantes

Hilda Rosa dos Santos contribiu com vários depoimentos à série (Imagem: Divulgação/Prime Video)

São esses relatos citados por Mariana, aliás, que tornam a série ainda mais visceral, especialmente por muitos deles virem da própria Hilda, que diferente da época do podcast decidiu agora contar sua versão da história.

Ainda vivendo nos Estados Unidos, Hilda foi procurada pessoalmente por Kátia, com quem se sentiu confortável para contar o que aconteceu. A brasileira, no entanto, não tinha certeza se queria falar sobre o assunto para a série, mas acabou se decidindo ao perceber que podia ajudar outras pessoas com seus depoimentos.

“Ela queria falar comigo como pessoa, mas ela não queria falar para o mundo inteiro ou fazer um filme. Mas quando ela percebeu que ela podia ajudar [outras pessoas] contando essa história de novo, ela resolveu fazer as entrevistas, que de fato às vezes não eram muito confortáveis”, esclareceu a diretora.

Investigação de Chico aumentou número de denúncias

Esse sentimento de propósito foi algo também experimentado por Chico Felitti, que na época do podcast se deparou com uma repercussão inimaginável e de “balbúrdia”, como ele mesmo diz, da história, mas que teve impacto real de transformação na sociedade.

“Eu tive certeza de que eu havia feito a coisa certa e de que o trabalho havia encontrado algum sentido quando começaram a aumentar o número de denúncias de suspeita de trabalho analogo á escravidão doméstica no Brasil”, contou ao Canaltech. “[O número] dobrou no Brasil inteiro nas semanas seguintes, e triplicou em algumas regiões do país”

Podcast criado por Chico Felitti aumentou denúncias de trabalho análogo à escravidão doméstica (Imagem: Divulgação/Prime Video)

Com a série agora no ar, o jornalista também acha ser possível que outras mudanças como essa possam vir à tona, já que ao menos no que diz respeito A Mulher da Casa Abandonada, ele acredita que o trabalho de Kátia Lund, Mariana Santos e de toda e equipe do Prime Video abraçou e arrematou de vez as tramas da história.

“Um possível desdobramento [da série] é que a gente preste mais atenção em possíveis outros casos. […] Infelizmente o Brasil é um país que tem muitas histórias parecidas como essa a se contar e prestar atenção”, finalizou.

Com seus três episódios já disponíveis na plataforma, A Mulher da Casa Abandonada por ser assistida no Prime Video.

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