Geoffrey Hinton — conhecido como “padrinho da IA” — marcou presença no Ai4, um dos maiores eventos do mundo voltados à inteligência artificial aplicada em ambientes corporativos. E suas falas geraram grande repercussão na área da tecnologia.
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Prêmio Nobel de Física pelo seu trabalho em aprendizado de máquina (machine learning), Hinton foi um dos pioneiros no desenvolvimento de redes neurais, pesquisas que abriram caminho para as atuais ferramentas de inteligência artificial.
No Ai4, o cientista falou sobre a possibilidade de incorporar “instintos maternos” aos sistemas avançados de IA, além de discutir se tecnologias cada vez mais inteligentes poderiam, em algum momento, levar à imortalidade humana.
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Além do ex-diretor do Google, o evento contou também com a presença de outros nomes importantes do setor tecnológico, como Rohit Choudhary, cientista de dados da Apple; Rohit Patel, diretor do Meta Superintelligence Labs; e Yogi Pillay, chefe de Arquitetura de Soluções para Grandes Empresas da OpenAI.
Quem é Geoffrey Hinton?
Nascido em 6 de dezembro de 1947, em Londres, no Reino Unido, Geoffrey Hinton formou-se em psicologia experimental na Universidade de Cambridge em 1970. Em 1978, obteve o doutorado em inteligência artificial, e desde então direcionou suas pesquisas para esse campo.
Em seu pós-doutorado na Universidade da Califórnia, aprofundou-se no estudo das redes neurais — sistemas que simulam o funcionamento do cérebro humano e, quando aplicados à IA, permitem que algoritmos aprendam com experiências, de modo semelhante às pessoas.
Entre 1983 e 1985, Hinton utilizou conceitos da física estatística para criar a máquina de Boltzmann, um modelo capaz de aprender e reconhecer padrões em conjuntos de dados — um marco no avanço do aprendizado de máquina.
Em 2013, o Google contratou Hinton, interessado em aplicar suas descobertas para otimizar sistemas de inteligência artificial.
Após dez anos na big tech, o cientista decidiu deixar o cargo para ter mais liberdade em falar publicamente sobre os riscos da IA, conforme relatou ao The New York Times na época.
Um ano depois, em 2024, o “padrinho da IA” foi laureado com o Prêmio Nobel de Física ao lado do cientista John Hopfield, em reconhecimento ao impacto de seus trabalhos em machine learning, hoje presentes no cotidiano de bilhões de pessoas.

Inteligência artificial geral
No dia 12 de agosto, no Ai4, Hinton abordou a inteligência artificial geral (AGI, na sigla em inglês) — estágio hipotético em que sistemas artificiais poderiam compreender, aprender e se adaptar de forma semelhante ao cérebro humano, desempenhando praticamente todas as tarefas intelectuais realizadas por pessoas.
Ele afirmou ter reduzido sua previsão de quando a AGI será alcançada e pontuou que, atualmente, os especialistas já trabalham com um prazo que vai de cinco a vinte anos.
“Eu costumava dizer entre trinta e cinquenta. Agora, pode ser mais de vinte anos, ou apenas alguns”, declarou o cientista.
Ainda sobre o acelerado desenvolvimento das IAs, Hinton destacou que se arrependeu em ter focado apenas no funcionamento desses recursos ao longo da sua carreira, e pontuou que gostaria de ter pensado também em questões de segurança relacionadas ao uso dessas ferramentas.
IAs mais inteligentes que os humanos
Nesta seara de avanços, o futuro da inteligência artificial é visto muitas vezes como uma disputa por controle, onde os humanos precisam ter vantagem sobre a tecnologia. Contudo, Hinton disse no seu discurso que o controle sobre esses sistemas é apenas ilusório.
“Eles serão muito mais inteligentes do que nós. Imagine que você é responsável por um jardim de infância com crianças de três anos e trabalha para elas. Elas não teriam muita dificuldade em lidar com você se fossem mais inteligentes”, afirmou no evento em Las Vegas.
O cientista defendeu que, em vez de lutar pelo controle, pesquisadores devem projetar sistemas de IA com “instintos maternos”, capazes de proteger e cuidar dos humanos mesmo quando superarem nossa inteligência.
“Temos que fazer com que, quando eles forem mais poderosos e inteligentes do que nós, ainda se importem conosco”, disse o Nobel.

Avanços não significam imortalidade humana
Apesar dos debates acerca do ritmo de desenvolvimento da inteligência artificial, o cientista destacou que enxerga essa tecnologia como uma grande possibilidade de avanços médicos, como no desenvolvimento de tratamentos mais eficientes contra o câncer.
Ele também afirmou que o acesso das IAs a dados de pesquisas médicas e históricos clínicos pode acelerar diagnósticos em diferentes tipos de doenças.
No entanto, Geoffrey Hinton demonstrou ceticismo em relação à eliminação do envelhecimento, ressaltando que não acredita que a IA vá auxiliar os cientistas a alcançar a imortalidade humana.
“Não acredito que viveremos para sempre. Acho que viver para sempre seria um grande erro. Você quer o mundo governado por homens brancos de 200 anos de idade?”, ironizou durante seu discurso.
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