SpaceX faz acordo para proteger a radioastronomia da interferência de satélites

Tecnologia

A SpaceX fechou um acordo com pesquisadores do Observatório Nacional de Radioastronomia dos Estados Unidos (NRAO) e desenvolveu um sistema de Compartilhamento de Dados Operacionais (ODS) para proteger radiotelescópios de interferências causadas por satélites em órbita baixa da Terra (LEO).

A iniciativa surgiu diante do fato de que grandes constelações de satélites — como a Starlink, da própria SpaceX — podem comprometer imagens de telescópios ópticos e interromper observações realizadas por radiotelescópios na Terra.

Essas interferências atrapalham, por exemplo, a detecção de ondas de rádio emitidas por galáxias distantes, buracos negros, estrelas de nêutrons e até mesmo sinais que poderiam indicar a presença de vida alienígena fora do Sistema Solar.


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Com a previsão de que o número de satélites em LEO aumente em cerca de dez vezes na próxima década, cresce a necessidade de garantir que descobertas científicas não sejam prejudicadas.

Rastros deixados por satélites Starlink no espaço
Rastros deixados por satélites da Starlink no espaço (Victoria Girgis/Lowell Observatory)

Comunicação entre radiotelescópios e satélites

O sistema ODS permite uma comunicação quase em tempo real entre observatórios de rádio e operadores de satélites. Com o compartilhamento de dados, os satélites podem ajustar dinamicamente suas transmissões para reduzir interferências.

Uma das principais inovações do sistema é a técnica Telescope Boresight Avoidance (TBA), desenvolvida pela SpaceX. Esse método permite que satélites equipados com antenas de matriz faseada redirecionem seus feixes de sinal para longe dos telescópios quando estiverem em determinada proximidade.

Outro recurso da TBA é a possibilidade de desabilitar temporariamente transmissões de satélites caso elas cruzem diretamente a linha de visão de um instrumento de observação astronômica.

“A comunicação aberta e frequente entre os cientistas da SpaceX e do NRAO foi fundamental no desenvolvimento deste sistema. Nenhuma abordagem pode resolver todos os problemas, mas o ODS é um passo importante para resolver esse desafio crescente”, ressaltou em comunidado Chris De Pree, diretor assistente de Gestão de Espectro do NRAO. 

Integração do sistema nas operações

A SpaceX já integrou esse recurso em suas operações, e o NSF Very Large Array (NSF VLA), no Novo México — que recebeu os primeiros testes — também já conta com o ODS. Outras instalações na Austrália e na Califórnia iniciaram a adoção do sistema em suas rotinas.

“O sistema ODS demonstra que a cooperação entre indústrias pode gerar resultados vantajosos para todos. Estamos entusiasmados com o potencial dessa estrutura se tornar um padrão global para a coexistência do espectro”, afirmou Bang Nhan, cientista do NRAO envolvido nas pesquisas.

A expectativa dos pesquisadores é que o sistema de mitigação de interferências se consolide como uma plataforma universal de compartilhamento de dados entre observatórios, satélites de monitoramento da Terra e operadores de constelações em todo o mundo.

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