Nem tente disfarçar que todo mundo sabe que você aí também gosta de uma certa safadeza na vida, afinal, sexo e erotismo fazem parte do ser humano. E nos quadrinhos esse tema se desenvolveu em várias vertentes, estilos e linguagens, com histórias com arte excepcional em álbuns que vão desde a sedução mais discreta e suave até os conteúdos pornográficos e obscenos — sempre provocativos, em menor ou maior grau de lascividade e conteúdo explícito.
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Todo mundo sabe que sexo, erotismo e pornografia sempre foram alvos de tabus, críticas conservadoras e até “demonização”. Mas o fato é que esse tipo de material não somente é excitante e prazeroso como também vem ajudando o mundo todo compreender melhor sua libido, sexualidade, fetiches de desejos — a luxúria e o desejo são inerentes ao ser humano, e os quadrinhos safados ajudam a compreender e lidar com isso de maneira mais leve e atraente.
E de onde veio essa sem-vergonhice toda? Bem, o erotismo em HQs aparece desde os “tijuana bibles” dos Estados Unidos, em publicações que ganharam fama entres 1930–50) e explodiram,e na Europa a partir dos anos 1960, com Barbarella e, depois, italianos como Crepax, Manara e Serpieri; no Japão, o tema deságua em vertentes de hentai e mangá adulto; no Brasil, os “catecismos” de Carlos Zéfiro viram fenômeno popular.
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Abaixo listamos os principais autores e publicações no lado mais despudorado da Nona Arte.
Itália

Guido Crepax — Valentina (1965–)
Ícone do erotismo sofisticado e onírico; além da série principal, Crepax adaptou História de O para HQ. Por seu traço e linguagem de montagem, é referência formal até hoje.
Milo Manara — Il Gioco/Le Déclic (The Click) (1983), Il Profumo dell’Invisibile (1986)
Erótico elegante com comentário social; obras que consolidam Manara como um dos autores mais vendidos e influentes do gênero.
Paolo Eleuteri Serpieri — Druuna / Morbus Gravis (1985–)
Ficção científica pós-apocalíptica com erotismo explícito e arte hiperdetalhada; serializada em Métal Hurlant e Heavy Metal; gerou jogo em 2001 e prequelas recentes.
França/Bélgica

Jean-Claude Forest — Barbarella (1962)
Considerada um marco dos “comics adultos” europeus, casando sci-fi psicodélica com sexualidade e espírito libertário dos anos 60
Georges Pichard & Georges Wolinski — Paulette (anos 1970)
Sátira erótica de costumes com desenho barroco característico de Pichard; publicada em revistas adultas francesas.
Alex Varenne — Erma Jaguar (anos 1980)
Erotismo gráfico e psicológico; séries publicadas em Libération e álbuns por editoras como Albin Michel e Catalan.
Estados Unidos
Underground comix & além
R. Crumb e a geração Zap Comix abriram espaço para sexualidade explícita e sátira, influenciando autores posteriores.
Gilbert Hernandez — Birdland (1990–91)
Spinoff adulto de Love and Rockets pela Eros Comix; mistura melodrama e sexualidade com o olhar autoral dos Hernandez.
Howard Chaykin — Black Kiss (1988)
Noir erótico chocante e controverso; alvo de apreensões e proibições, virou símbolo do embate sobre limites de conteúdo em HQs.

Reed Waller & Kate Worley — Omaha the Cat Dancer (1978–2008)
Romance erótico com personagens antropomórficos; esteve no centro de debates de censura que ajudaram a criar o CBLDF.
Alan Moore & Melinda Gebbie — Lost Girls (2006)
Releitura literária-erótica de heroínas clássicas; um dos projetos mais discutidos sobre erotismo como literatura gráfica.
Larry Welz — Cherry Poptart/Cherry (1982–)
Sátira pop sexualmente explícita, publicada por décadas no circuito alternativo.
Japão
Toshio Maeda — Urotsukidōji (1986–)
Título seminal do mangá/adulto moderno; Maeda populariza tropos que marcariam parte do hentai.
Go Nagai — Harenchi Gakuen (1968)
Comédia estudantil irreverente que detonou polêmicas e censura—ponto de virada para permissividade no mangá comercial.
Teruo Kakuta (“Kondom”) — Bondage Fairies (anos 1990)
Série sobre fadas adultas que ganhou circulação internacional e ajudou a fixar nichos do mercado ocidental de mangá erótico.

Gengoroh Tagame
Mestre do mangá gay e BDSM; influente tanto em obras explícitas quanto no mainstream internacional via My Brother’s Husband.
Brasil
Carlos Zéfiro — os “catecismos” (anos 1950–70)
Pseudônimo de Alcides Aguiar Caminha, autor de livretos eróticos clandestinos com tiragens populares; identidade revelada em 1991; influência reconhecida em exposições e livro-biografia.

HQs LGBTQIA+ marcantes

Tom of Finland
Ícone do homoerotismo gráfico, com histórias e tiras que moldaram a estética gay no século XX.
Gengoroh Tagame
Do explícito ao premiado My Brother’s Husband, sua obra ajudou a internacionalizar o mangá queer Ralf König. Humor e sexo em quadrinhos gays de grande circulação na Alemanha (ex.: Condom des Grauens)
Web & contemporâneo
Stjepan Šejić — Sunstone (2011–, Image/Top Cow)
Romance erótico-BDSM focado em consentimento, comunicação e relacionamento; nasceu como webcomic, virou best-seller em álbuns e segue em expansão de universo.

Oglaf (Trudy Cooper & Doug Bayne, 2008–)
Webcomic cômico-sexual de fantasia, multipremiado e celebrado pela diversidade e pelo humor.
Antologias Smut Peddler (Iron Circus Comics, 2012–)
Coletâneas de erotismo “sex-positive”, centradas em criadoras mulheres e diversidade de vozes.
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