Suíços liberam modelo de IA totalmente aberto

Tecnologia
Resumo
  • Um projeto suíço apresentou o Apertus, modelo de IA open source que aposta na transparência total de dados e processos.
  • Disponível em versões de 8B e 70B parâmetros, o sistema libera pesos, código-fonte e todos os componentes sem qualquer restrição.
  • A iniciativa pretende atender às leis europeias de proteção de dados e fortalecer a soberania digital, oferecendo alternativa pesquisa e empresas.

Uma joint-venture entre universidades suíças anunciou, nesta terça-feira (02/09), o lançamento do Apertus — “aberto”, em latim —, um modelo de linguagem (LLM) totalmente open source que busca ser uma alternativa transparente aos sistemas de IA das grandes empresas de tecnologia, como o ChatGPT da OpenAI.

O projeto, liderado pela Escola Politécnica Federal de Lausana (EPFL), deve fornecer acesso público irrestrito a todos os componentes, desde os dados de treinamento e código-fonte até os pesos do modelo e documentação técnica.

Segundo os desenvolvedores, o desempenho do sistema é comparável ao do Llama 3, da Meta, lançado no primeiro semestre de 2024. Entretanto, o foco é oferecer uma base segura e acessível para pesquisadores, setor público e empresas, especialmente europeias.

O modelo já está disponível para download em duas opções, com 8 bilhões e 70 bilhões de parâmetros, através do site da organização Swiss AI. A iniciativa também disponibiliza um chatbot com o modelo nacional.

Uma IA “totalmente aberta”?

A principal bandeira do Apertus, como já indica o nome, é a transparência. Enquanto muitos modelos, incluindo alguns de código aberto como o DeepSeek, da China, liberam partes de seu funcionamento, eles ainda mantêm em segredo os dados e métodos usados no treinamento.

O consórcio responsável pelo Apertus, por outro lado, publicou toda a documentação, incluindo os pesos do modelo — os parâmetros da IA para chegar aos resultados —, o código-fonte do processo de treinamento e os conjuntos de dados utilizados.

Tudo foi liberado sob uma licença permissiva de código aberto, que autoriza inclusive o uso comercial. Com isso, qualquer pessoa com recursos suficientes pode, teoricamente, recriar o modelo do zero.

Ao expor o processo, os criadores pretendem facilitar a identificação de vieses, falhas e “alucinações”, além de garantir conformidade com as rígidas leis de proteção de dados da Europa, como o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (GDPR), forte inspiração da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) brasileira.

Entre as big techs essa decisão ainda é polêmica. A Meta, que popularizou o acesso aos pesos treinados com a família de modelos Llama, estaria considerando, segundo o New York Times, fechá-los. Na contramão, a OpenAI, que ainda opera seu modelo mais avançado de forma fechada, pretende lançar um novo modelo para competir entre as IAs abertas.

Mais IAs soberanas

Os criadores do Apertus admitem que não têm a intenção de superar em performance bruta os modelos comerciais avançados, como do Google, OpenAI, Meta, Anthropic e xAI. A aposta é em um nicho que foca em segurança, acessibilidade e soberania de dados.

Segundo o portal Swissinfo, associações industriais suíças, como a Swissmem, que representa a indústria de engenharia, veem o potencial no modelo local por ele já nascer em conformidade com as regulações europeias. No entanto, alertam que a adoção dependerá de um balanço entre os benefícios da transparência contra o desempenho dos rivais internacionais.

O país europeu entra no mercado durante um movimento global por essas IAs soberanas, com diversos países já discutindo a necessidade de desenvolver modelos próprios para diminuir a dependência tecnológica das big techs norte-americanas e chinesas.

O Brasil é um deles. O país já desenvolve o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), que prevê a criação de um modelo de IA. Nesta semana, o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos confirmou que o Governo Federal pretende investir R$ 23 bilhões até 2028 no plano.

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