China e Estados Unidos participam de uma nova corrida espacial, agora voltada para a disputa sobre qual dos dois países conseguirá pousar novamente astronautas na Lua desde 1972. Mas quais podem ser os impactos caso os chineses alcancem esse feito antes dos norte-americanos?
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Os objetivos dos EUA relacionados a um pouso tripulado na Lua estão traçados no programa Artemis — especialmente com a missão Artemis 3, programada para acontecer em 2027.
Já a China planeja lançar, em 2030, uma expedição tripulada ao satélite natural. Para isso, os chineses devem utilizar o foguete Long March 10, a nave Mengzhou e o módulo lunar Lanyue.
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EUA consideram risco de perda da corrida
A possibilidade de os Estados Unidos perderem a corrida espacial para a China parece, de fato, preocupar os norte-americanos. Tanto que, no dia 3 de setembro, foi realizada uma audiência no Comitê de Comércio do Senado intitulada “Uma Lua Ruim Está em Ascensão: Por Que o Congresso e a NASA Devem Impedir a China na Corrida Espacial”.
O texto base informava que a audiência tinha o objetivo de avaliar como a política e os investimentos dos EUA podem promover a vantagem do país diante dos rápidos avanços espaciais dos chineses.
“A menos que algo mude, é altamente improvável que os Estados Unidos superem o cronograma projetado pela China”, enfatizou Jim Bridenstine, ex-administrador da NASA, durante a audiência.
Mike Gold, presidente de espaço civil e internacional da Redwire — empresa aeroespacial norte-americana especializada em infraestrutura espacial — destacou como um pouso da China na Lua poderia fortalecer laços comerciais do país com outras nações, como Rússia e Índia, por exemplo.
“Deixe-me colocar desta forma: a China pousa na Lua. No dia seguinte, vemos enormes benefícios [para eles] politicamente, com nossos olhos se voltando para eles, não apenas para a exploração espacial, mas para acordos de segurança nacional, para acordos comerciais”, afirmou Gold.
O executivo da Redwire também pontuou que o pouso de taikonautas no satélite natural antes dos astronautas norte-americanos pode gerar um “realinhamento global” que afetará a economia e a segurança nacional dos EUA em termos de diplomacia e geopolítica.

Disputa pelas regiões lunares com mais recursos
Gold também ressaltou que há objetivos relacionados ao acesso a recursos naturais da Lua em jogo.
“Se a América não for a primeira a retornar à Lua, corremos o risco de ceder as melhores reservas de gelo para a China”, disse.
A exploração desse recurso é especialmente importante em áreas como o polo sul lunar, cobiçado pelo fato de o gelo encontrado em crateras sombreadas poder ser utilizado para abastecer foguetes e servir como água potável.
Contudo, indícios apontam que a China esteja trabalhando primeiro em um pouso tripulado em latitudes médias — regiões intermediárias entre o equador e os polos do satélite.
Enquanto isso, missões robóticas chinesas como a Chang’e 7 e a Chang’e 8 devem pousar em pontos próximos ao polo sul para prospectar materiais como gelo e água e testar a capacidade de utilizar regolito lunar na impressão de tijolos em 3D — algo fundamental para a construção de bases na Lua.
Allen Cutler, presidente e CEO da Coalizão para Exploração do Espaço Profundo, afirmou em seu depoimento que a liderança da exploração lunar também terá como objetivo moldar o futuro da governança lunar e a assinatura de acordos internacionais.
“O país que pousar primeiro na Lua moldará as regras de engajamento no espaço nas próximas décadas”, disse Cutler.
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