Audiência expõe impasse entre pagar direitos autorais e permitir o uso por IAs

Tecnologia

Especialistas que participaram de uma audiência sobre o pagamento de direitos autorais no contexto do avanço da inteligência artificial (IA) generativa apresentaram algumas divergências. O debate foi promovido pela Comissão Especial sobre Inteligência Artificial da Câmara, que analisa o PL 2338/23 — já aprovado pelo Senado.

Em sua fala, realizada no dia 2 de setembro, o secretário de Direitos Autorais e Intelectuais do Ministério da Cultura, Marcos Alves de Souza, defendeu que os operadores de IA generativa devem manter o registro dos materiais usados no treinamento das ferramentas.

O secretário pontuou ainda que os operadores devem sempre remunerar os autores e artistas pessoas físicas tanto em relação aos dados de entrada (input) quanto às obras geradas (output).


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De acordo com Souza, o PL respeita a Constituição porque prevê a remuneração compensatória — mesmo sem autorização prévia —, como estabelece a Lei de Direitos Autorais.

“O PL é razoável porque, ao afastar a regra da autorização prévia, ele ainda assim consegue seguir a Constituição, evitando criar um embaraço para o desenvolvimento tecnológico”, ressaltou o secretário.

O diretor-geral da Associação Brasileira de Música e Artes (Abramus), Roberto Corrêa de Mello, também defendeu, na audiência do dia 9 de setembro, o pagamento de direitos autorais, ressaltando que a legislação brasileira é modelo no mundo em relação a esse tema.

“O respeito aos criadores não vai empobrecer em nada a IA. A IA vai sobreviver às custas de nós, os criadores, que devemos ser devidamente remunerados por isso”, enfatizou.

Comissão Especial sobre inteligência Artificial
Especialistas participam da Comissão Especial sobre Inteligência Artificial da Câmara dos Deputados (Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)

Argumentos de que o treinamento de IA difere do uso da obra

Segundo o professor Juliano Maranhão, da Universidade de São Paulo (USP), o treinamento de IA não viola os direitos autorais porque não utiliza obras individuais, mas sim modelos com diversos dados e informações.

Maranhão pontuou que a insegurança jurídica e o afastamento de investimentos em IA no Brasil são possíveis consequências de vincular a remuneração de criadores ao que estabelece, hoje, o modelo tradicional de direitos autorais no país.

Na mesma linha, Pedro Henrique Ramos, diretor-executivo do Centro de Estratégia e Regulação (Reglab), afirmou no dia 9 de setembro que, com a falta de uma exceção para treinar dados, o Brasil fica para trás nos avanços relacionados à IA.

“Se continuarmos nesse caminho, não vamos ajudar os detentores. As empresas vão fazer a conta: ou excluem os modelos brasileiros, ou treinam seus data centers fora do país, onde as regras são mais simples”, destacou Ramos.

Uma alternativa apresentada pelo executivo do Reglab é que novos artigos protejam o que é gerado pelas ferramentas e usado pelas pessoas, com o intuito de garantir o valor cultural das obras, mas sem bloquear tecnologias que ampliam o processo criativo.

Relator do projeto, o deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) afirmou que o PL 2338/23 não vai encerrar as discussões e que analisará as contribuições recebidas para aperfeiçoar o texto aprovado pelo Senado.

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