Um autor americano chamado Cory Doctorow encontrou uma palavra capaz de resumir a frustração de milhões de usuários com as plataformas digitais: enshittification (ou “bostificação”, em tradução livre). Doctorow, escritor de ficção científica e ativista digital, popularizou o termo em ensaios publicados entre 2022 e 2023. Ele descreve um fenômeno que faz com que sites e aplicativos online se tornem progressivamente piores à medida que buscam aumentar seus lucros, prejudicando tanto usuários quanto anunciantes.
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O termo descreve um processo em três etapas: primeiro, uma plataforma é excelente para os usuários, como o Facebook conectando amigos ou a Amazon oferecendo um mercado confiável. Em seguida, quando a base de usuários se torna cativa, a empresa começa a explorar os usuários para atrair anunciantes. Por fim, quando os anunciantes também ficam presos, a plataforma passa a extrair valor de todos, piorando a experiência geral.
Doctorow explica que o processo é impulsionado pelos altos custos de troca, ou seja, o esforço necessário para abandonar a plataforma e levar consigo amigos, comunidade e dados. Quanto maiores os custos de saída, mais as empresas podem explorar usuários e anunciantes sem medo de perder negócio.
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Popularização do enshittification
Desde sua popularização, a enshittification foi usada para descrever não só as redes sociais, como jogos, televisão e até a política americana. Doctorow destaca que o fenômeno é “frustrante, desmoralizante e até assustador”, comparando a inteligência artificial (que ele vê como mal implementada) a “amianto digital”, uma metáfora que evidencia o risco invisível e prejudicial da tecnologia mal regulada.
Em 2024, Doctorow publicou o livro “Enshittification: Why Everything Suddenly Got Worse and What to Do About It”, detalhando seu conceito e propondo soluções, como a quebra de grandes empresas de tecnologia e regulamentações mais rigorosas.
A palavra criada pelo autor americano captura a frustração com plataformas digitais que se deterioram com o tempo. A enshittification é um alerta sobre os riscos do poder concentrado na tecnologia e da passividade dos usuários. Seu trabalho combina ficção, ativismo e análise crítica para lembrar que a internet poderia ser, e ainda pode ser, um espaço de empoderamento humano, se, de acordo com ele, fizermos escolhas diferentes.
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