Uma das discussões mais complexas dos videogames é definir o que é e o que não é um jogo independente, ou melhor, um indie. No The Game Awards 2023, por exemplo, tivemos a polêmica de Dave the Diver, que concorreu na categoria de Melhor Jogo Indie, apesar de ser financiado pela Nexon, uma grande publisher sul-coreana.
Os limites entre jogo indie, AA e AAA estão cada vez mais turvos e mais difíceis de definir. O que faz um jogo ser indie é o tamanho da equipe? O orçamento? O tipo de financiamento? Enfim, é uma questão muito complexa.
De qualquer maneira, o selo indie segue sendo usado e normalmente representa um segmento muito positivo para a indústria de games por seu alto nível de experimentação, precificação justa e qualidade. Engana-se quem pensa que apenas estúdios AAA podem trazer jogos com gráficos bonitos, pois muitos desenvolvedores independentes conseguem chegar ao realismo com as ferramentas disponíveis no mercado.
–
Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.
–
Pensando nessas verdadeiras obras de arte independentes, listamos 7 jogos indie assustadoramente realistas que todos deveriam jogar.
7. Hellblade: Senua’s Sacrifice
Para já começar com polêmica, Hellblade: Senua’s Sacrifice é um jogo que se encontra em uma zona cinzenta. O estúdio por trás do game de aventura e terror, a Ninja Theory, enfrentou desafios em parcerias com diferentes publishers ao longo do tempo, incluindo Capcom, Bandai Namco e até mesmo a Sony.

Após passar por dificuldades e ficar à beira da falência, o estúdio do Reino Unido criou o conceito de “indie AAA”. A ideia consiste na produção de um jogo com escopo de um AAA, principalmente nos gráficos, mas com orçamento e equipe reduzidos. E deu certo.
Em 8 de agosto de 2017, o terror psicológico Hellblade: Senua’s Sacrifice chegava ao PC e PlayStation 4 com uma proposta inovadora. Acompanhamos uma guerreira celta chamada Senua, que busca reviver seu amor, Dillion, enquanto enfrenta uma psicose que testa seus limites mentais.
O jogo foi muito elogiado na época por sua qualidade gráfica, que realmente alcançava muitos títulos AAA, apesar de ser uma experiência linear e curta para os padrões dos blockbusters. Hoje, a Ninja Theory faz parte do guarda-chuva do Xbox Game Studios e já lançou a continuação, Senua’s Saga: Hellblade II, tida como um dos jogos mais bonitos de todos os tempos, mostrando que a ambição técnica sempre esteve na filosofia do estúdio.
6. Kena: Bridge of Spirits
Apesar de adotar um estilo mais cartunesco, Kena: Bridge of Spirits brilha quando o assunto são texturas de qualidade e iluminação de tirar o fôlego. Desenvolvido pelo estúdio indie Ember Lab e lançado para PlayStation 4, PlayStation 5 e PC, o jogo ficou conhecido por seu alto nível gráfico, comparando-se a animações cinematográficas de ponta de estúdios como a Pixar.
O jogo de ação e aventura apresenta Kena, uma jovem guia espiritual que parte em uma jornada em busca de um santuário sagrado na montanha. Ao longo da aventura, a heroína encontra os Rot, pequenos companheiros espirituais que a auxiliam tanto no combate quanto na resolução de quebra-cabeças.

Kena: Bridge of Spirits foi recebido de forma positiva pela crítica e ganhou os prêmios de Melhor Jogo Independente e Melhor Jogo Independente de Estreia no The Game Awards 2021. Isso mesmo: o título foi o primeiro da Ember Lab e já entregou um nível gráfico e uma direção de arte excepcionais.
5. Visage
Jogos de terror frequentemente abraçam gráficos realistas para intensificar os sustos e criar atmosferas esmagadoras. Visage é um excelente exemplo de título indie que alcançou um nível gráfico impressionante para um projeto financiado via Kickstarter.

Visage é um jogo de terror psicológico lançado em 2020 pelo estúdio independente SadSquare Studio. A experiência é focada em resolução de quebra-cabeças, narrativa e atmosfera opressiva, se passando em uma casa assombrada.
Com fortes inspirações no saudoso Playable Teaser (P.T.) de Hideo Kojima, Visage se destaca pelos eventos aleatórios que acontecem e assustam até os jogadores mais corajosos, incluindo luzes piscando, vultos e assombrações. Outro ponto forte do jogo de terror indie é sua mecânica de sanidade, que quanto mais baixa, maior a aparição de eventos paranormais.
Visage é um excelente exemplo de como estúdios independentes têm potencial para entregar conteúdo de qualidade próxima — e, às vezes, até superior — à dos jogos AAA. Com um início brutal e atmosfera aterrorizante, Visage não pode passar batido na lista de fãs do gênero e de entusiastas de gráficos de ponta.
4. Chernobylite
Trinta anos após o acidente nuclear de Chernobyl, o cientista Igor Khymynyuk retorna à cidade devastada na Ucrânia em busca de sua esposa, Tatiana. Chernobylite foi desenvolvido pelo estúdio indie Farm51, que na época contava com apenas 20 membros, reforçando seu status de jogo independente apesar do notável apelo gráfico.
Chernobylite é um jogo de sobrevivência com elementos de terror onde exploramos os fenômenos causados pelo acidente nuclear de Chernobyl com gráficos de tirar o fôlego até hoje. O título é outro que surgiu a partir de financiamento coletivo e foi lançado após dois anos de acesso antecipado no PC, em 2021.

Para recriar o mapa, a Zona de Exclusão de Chernobyl foi escaneada em 3D pela Farm51, garantindo uma fidelidade gráfica ainda maior. Embora esteja disponível nos consoles, Chernobylite se destaca no PC, principalmente em máquinas de ponta, nas quais os jogadores podem explorar configurações gráficas robustas sem perder desempenho.
3. Luto
A essa altura, é inegável que P.T., de Hideo Kojima, fez escola quando o assunto é terror psicológico em corredores domésticos. Assim como Visage, Luto entrega gráficos de tirar o queixo, acrescentando ainda mais terror à sua experiência.
Luto é um jogo de terror psicológico desenvolvido pelo estúdio indie espanhol Broken Bird Games. O título explora temas pesados como luto, saúde mental e isolamento, elementos que são elevados pela maestria gráfica na direção de arte, na iluminação e no design, além de sua poderosa narrativa atmosférica.

Assim como Visage e P.T., Luto também se passa em uma casa mal-assombrada, onde o protagonista precisa explorar o ambiente e resolver quebra-cabeças para tentar escapar de um lugar tomado por forças sobrenaturais.
Outro fator que pesa na qualidade gráfica é o desempenho. Muitos jogos entregam visuais que beiram o realismo, mas sofrem com bugs e problemas de otimização. Luto segue na direção oposta, garantindo fidelidade gráfica mesmo em transições rápidas entre cenários e mundos.
2. Exit 8
Ainda no terror, o indie Exit 8 fez bastante sucesso entre os criadores de conteúdo. O jogo é um terror psicológico labiríntico com elementos de walking simulator, desenvolvido pelo estúdio indie japonês Kotake Create.

O título se passa em corredores de uma estação de metrô japonesa realista baseada no conceito de lugares liminares e que parece não ter fim. Apesar dos personagens com baixo nível gráfico, os corredores se destacam por seu nível de realismo impressionante, principalmente quando falamos em reflexos e iluminação.
Exit 8 foi desenvolvido na Unreal Engine 5 em apenas 9 meses e com baixo orçamento, pensado para ser um jogo curto em que os jogadores repetem os mesmos cenários. Talvez seja isso que a Ninja Theory queria dizer com “indie AAA”, já que tanto Exit 8 como Hellblade usam de uma qualidade gráfica impressionante, mas em jogos relativamente curtos e cenários que não exigem tanto.
O sucesso do jogo foi tanto que rendeu um filme, lançado neste ano, trazendo os mesmos corredores assustadores, mas realistas, que vimos no game.
1. Unrecord
Imagine um jogo com gráficos tão realistas que geram dúvidas se o projeto é de fato real. Esse é o caso de Unrecord, um FPS fotorealista que simula a visão de uma bodycam policial e assusta por sua qualidade gráfica. O título foi revelado em 2023 com um gameplay impressionante compartilhado pelo estúdio DRAMA, composto por apenas dois desenvolvedores e um freelancer.

O estúdio não busca criar um simples simulador de tiroteio, mas se aproximar de jogos com foco tático e narrativo, como Ready or Not e Firewatch. Ou seja, a DRAMA quer explorar um lado mais estratégico da ação. Para criar os gráficos fotorrealistas, os desenvolvedores usaram a Unreal Engine 5, combinando ativos próprios, de terceiros e da biblioteca Megascans.
Para simular uma bodycam, o estúdio aplicou diversos filtros para piorar a imagem, afinal estamos falando de uma câmera de baixa qualidade, deixando tudo ainda mais real. Além disso, a movimentação da câmera também é bem factível, acompanhando o movimento do corpo do policial.
Trata-se de um projeto em desenvolvimento que teve apenas algumas demonstrações de gameplay, portanto, sua viabilidade ainda é incerta. Não entenda mal, o jogo existe, mas não sabemos se o produto final corresponderá ao que foi mostrado. Se for lançado um dia, poderá ser o título mais realista de todos os tempos, mas uma boa jogabilidade ou um desempenho minimamente adequado pode ser uma pedra no sapato da DRAMA.
7 jogos indie assustadoramente realistas
Realistas ou não, jogos independentes já provaram, mais de uma vez, serem uma força motora na indústria dos games, trazendo novos estilos de artes, mecânicas inovadoras e redefinindo gêneros.
Apesar de qualidade gráfica e de performance serem centro de discussões acirradas na atual geração, esses pontos são irrelevantes quando não agregam de forma ativa ao design do jogo e objetivo dos desenvolvedores. De nada adianta um jogo ser extremamente realista quando sua jogabilidade é atravancada e não serve a ninguém.
Mas quando estúdios unem gráficos avançados à atmosfera e a história que tentam contar, podemos dizer que achamos ouro, e a coisa é ainda mais fantástica quando pensamos em jogos independentes que alcançam esse feito. Pensando neste cenário, confira 8 jogos indie com gráficos de tirar o queixo.
- Unrecord
- Exit 8
- Luto
- Chernobylite
- Visage
- Kena: Bridge of Spirits
- Hellblade: Senua’s Sacrifice
Leia também no Canaltech:
- 12 jogos antigos com gráficos surreais até hoje
- 10 melhores jogos feitos por Hideo Kojima
- 10 melhores jogos de terror para tremer na base
Vídeo: Para quem vale a pena o PlayStation 5 Pro?
Leia a matéria no Canaltech.