
A Opera lançou oficialmente o navegador Neon, que conta com agentes de inteligência artificial para executar ações na web. As possibilidades sugeridas pela companhia são variadas: fazer compras, comparar produtos, resumir informações, encontrar vídeos, organizar emails e muito mais.
A promessa é, nas palavras da própria empresa, combater a ineficiência da web e aumentar a produtividade. O serviço custa US$ 19,90 mensais (cerca de R$ 110, em conversão direta). O Tecnoblog teve acesso a uma versão de testes do Opera Neon. Eu usei o navegador durante cinco dias nas minhas tarefas pessoais e profissionais e conto como é a experiência.
Conhecendo o Opera Neon
A interface do Opera Neon é praticamente idêntica à de qualquer navegador, a não ser por uma barra extra de abas. Funciona assim: as abas inferiores são tradicionais, e você pode abrir uma página da web em cada uma delas. Já as abas superiores receberam funcionam como grupos; a Opera deu a elas o nome de “tarefas”.
Toda vez que você manda um prompt para a IA do Neon, ele considera apenas as abas que estão dentro daquele grupo. Assim, você pode dar uma ordem, mudar para outra tarefa, dar outra ordem, e assim sucessivamente. Dá para executar várias ações em paralelo e ainda continuar navegando, sem que a interface vire uma bagunça.

O Neon tem três possibilidades de uso para IA. O Chat é um assistente — como o ChatGPT, o Gemini e outros — capaz de dar respostas, produzir textos e analisar imagens, por exemplo.
Já o Make é um criador. A ideia dele é realmente gerar páginas, web apps, guias, relatórios, joguinhos e mais. O resultado fica hospedado em um serviço da própria Opera e pode ser acessado pela web — inclusive por outros navegadores. De certa forma, me lembrou o Canvas do Gemini.
Mas grande parte da “mágica” está no Do, que navega na web e executa ações em páginas, usando como base os comandos do usuário.
Mande fazer, mas não pare para ver
Ao selecionar a opção Do, o Neon entende que aquele comando deve resultar em uma tarefa no navegador. O navegador envia o prompt para a nuvem e recebe de volta uma “receita”, dividida em pequenas ações, que serão executadas localmente no browser.
Se você parar e ficar acompanhando a ação, vai perceber que o processo é bastante lento, repetitivo e cheio de tentativas e erros. Nos dias em que usei o Neon, percebi que o melhor é fazer um pedido e deixá-lo trabalhando enquanto você faz outra coisa.

A melhor analogia que encontrei para explicar a utilidade do Do é pensar em uma máquina de lavar ou em um robô aspirador. Uma pessoa possivelmente consegue lavar roupa ou limpar a casa de um jeito melhor, mais cuidadoso ou até mais rápido. No entanto, isso demanda tempo. A grande vantagem em usar esses equipamentos é que eles nos liberam para fazer outras coisas.
Com os navegadores de IA, a lógica é parecida: delegue a ele tarefas mecânicas e vá fazer coisas mais importantes, que realmente precisam da sua criatividade e inteligência.
Quanto mais específico, melhor
Leva algum tempo até se acostumar com o nível de detalhamento necessário para que as tarefas saiam do jeito que você deseja.
Um dos meus primeiros testes foi “procure um adaptador USB-C para fone de ouvido”. O Neon fez do jeito mais direto possível: abriu a Amazon, digitou o termo na busca e colocou o primeiro resultado no carrinho. Aí eu percebi que o prompt foi pouco detalhado: o adaptador escolhido custava mais do que o triplo dos outros da loja.
A Opera sabe disso. Na demonstração que o Tecnoblog acompanhou, um exemplo envolvendo compras tinha um prompt bem mais detalhado: “procure na Amazon teclados mecânicos de topo de linha com preço superior a US$ 200 e avaliação superior a 4 estrelas e abra todos os produtos encontrados em novas abas”.
O porta-voz da empresa ainda pediu para o Neon criar uma tabela comparando os resultados, sem comprar nem colocar no carrinho nenhum deles. A escolha, portanto, ficava a cargo de um humano. Tentei novamente procurar adaptadores, dessa vez com mais sucesso: listei lojas, especifiquei preços e avaliações. O Neon fez uma tabela com as opções disponíveis.
Entendendo as possibilidades reais
“Inspirado” por esse exemplo, tentei uma nova tarefa. Pedi para o Neon entrar no site de um pet shop específico e colocar três itens no carrinho: um sachê para gatos castrados, um pacote de areia e uma ração para cães adultos. Determinei a marca do sachê e da ração, e indiquei duas opções para a areia.
Não especifiquei quantidades, mas a ideia era realmente essa, já que poderia alterar manualmente no carrinho. Também não pedi para concluir a compra, para evitar possíveis problemas.
A ideia desse prompt era direcionar ao máximo o navegador, transformando uma lista de compras em uma ação prática, que pouparia o meu tempo. A ação foi quase perfeita, mas novamente esbarrou na falta de detalhes: o sachê e a areia foram escolhidos corretamente, mas ficou faltando especificar o tamanho do pacote de ração — ele escolheu o de 15 kg, e geralmente eu compro o de 3 kg.
A ferramenta não é muito confiável para tarefas mais complexas. Dei um comando para trocar a ração pelo peso desejado, mas o navegador só removeu do carrinho o pacote de 15 kg, ignorando o resto.
Percebi que não teria sucesso dessa forma e recomecei do zero. Abri uma nova tarefa e refiz o prompt com os detalhes que ficaram faltando, mas não deu certo: desta vez, o Neon não conseguiu passar da página inicial do pet shop. Só quando fiz uma terceira tarefa consegui, finalmente, montar o carrinho com os itens que precisava.
É uma questão de aprendizado e adaptação. Nós não estamos acostumados a pensar “preciso comprar um pacote de ração de 3 kg da marca X para cães de raças pequenas”. Nós pensamos “preciso comprar ração” e, no processo, pegamos os itens de costume. Nós pensamos “preciso comprar um adaptador de fone” e vamos pesquisando aos poucos, aprendendo o preço, lendo avaliações. Para a IA conseguir um resultado mais satisfatório, você tem que aprender a antecipar situações, prever possibilidades e só então escrever o prompt.
Um ajudante para o trabalho
Deixando um pouco de lado as tarefas pessoais, experimentei um pouco o Neon na minha atividade como jornalista aqui no Tecnoblog.
Meu trabalho como repórter envolve acompanhar notícias no Brasil e no mundo, além de checar se algum serviço caiu e quais são as tendências no interesse do público. Tive a ideia de tentar automatizar isso com o Neon.

Fiz um prompt bem detalhado, indicando quais sites a IA deveria acessar, como grandes portais, agregadores de notícias e ferramentas como o Google Trends. Também listei temas que nos interessam e temas que não entram na nossa produção. O resultado final deveria ser uma lista, sem duplicatas.
Mais uma vez, o funcionamento foi demorado. Em alguns momentos, precisei intervir — ao tentar entrar no DownDetector, o navegador teve problemas com o captcha, por exemplo.
O resultado foi razoável. Recebi de fato uma lista com manchetes de notícias e tendências, separadas por tema e acompanhadas de uma breve explicação. Mesmo assim, havia itens duplicados, e as fontes não foram indicadas — esse último problema pode ser melhorado em uma nova versão do prompt.
Apesar de interessante, a impressão que dá é que isso pode atrapalhar e gerar mais trabalho, como verificar se não há nenhuma alucinação na lista final. Ainda sigo pensando em maneiras de adaptar o navegador ao meu uso.
Cards com prompts ainda precisam de refinamentos
O Opera Neon ainda tem mais alguns recursos. Um deles é a possibilidade de usar cards, que são prompts predefinidos. Eles podem ser incluídos em comandos feitos no chat ou na navegação.
Funciona assim: há um ícone de cartas na caixa da página inicial do Neon. Ali, você pode selecionar os cards que deseja. No entanto, mesmo que seja um prompt completo, você precisa digitar alguma coisa para poder enviar.

Há uma espécie de loja da Opera com vários deles. O usuário pode salvar e também editar, caso queira um resultado mais personalizado. E por fim, os cards podem ser usados em conjunto.
Os exemplos são bem variados. Um card transforma uma lista de tarefas desorganizada em uma matriz de Eisenhower. Outro cria uma relação de itens para uma viagem, com base no destino, duração e clima. Alguns são ainda mais complexos, podendo analisar informações financeiras de empresas ou currículos de fundadores de startups.

Na prática, eu não achei a experiência tão fácil assim, já que, na lista de seleção, o card não exibe as informações necessárias para funcionar. Também não dá para deixar um prompt salvo ali e só enviar, já que é obrigatório escrever alguma coisa.
Conclusão: tecnologia é interessante, mas ainda engatinha
Nos últimos anos, a IA impressionou com respostas articuladas, códigos úteis e vídeos cheios de detalhes. Colocar essa tecnologia em um navegador para que ele possa realizar tarefas com alguma independência é mais um desses feitos. No entanto, ainda há imperfeições. Não é sempre que um robô consegue se entender com páginas web dos tipos mais diversos, sem uma API ou um SDK para fazer o meio de campo entre as duas partes.
Superar a “ineficiência da web”, como a Opera falou, realmente não é fácil. O Neon tenta, mas nem sempre consegue, e quando consegue, nem sempre o pedido inicial foi bom o suficiente para justificar a espera.
Se eu pudesse dar uma humilde sugestão, seria esta: colocar o chatbot para fazer algumas perguntas ao usuário até chegar a um prompt mais preciso para realizar a tarefa. Pode parecer chato, mas eu acho que é até mais humano: se você recebe um pedido de outra pessoa, tira dúvidas até entender, e se você faz um pedido, sempre está disposto a explicar melhor. Conversando a gente se entende — e isso também vale para a IA.