Para Henry Huiyao Wang, principal palestrante da Conferência Anual do Conselho Empresarial Brasil-China, relação futura será definida por mais investimentos chineses no país e pela transição para uma economia verde
Da Redação (*)
Brasília – A relação entre Brasil e China aprofunda-se em um contexto de rápidas transformações tecnológicas e geopolíticas. A China é o principal parceiro comercial do Brasil há mais de uma década, mas ainda há amplo espaço para novas sinergias que, ao mesmo tempo, ampliem a inserção chinesa na economia global e impulsionem a reindustrialização brasileira — sobretudo em infraestrutura, energias renováveis e mobilidade.
A avaliação é de Henry Huiyao Wang, um dos principais especialistas chineses em globalização e Presidente-fundador do Center for China and Globalization (CCG), que participou como keynote speaker da Conferência Anual do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), que teve como tema “Criando Sinergias em um Mundo em Transformação” e foi realizada em São Paulo, nesta segunda-feira (13). “Brasil e China estão entrando em uma nova fase de parceria, de cooperação econômica profunda”, afirmou Wang.
Um dos exemplos do novo momento são os crescentes investimentos chineses no país. Segundo Wang, desde o início de seu processo de abertura da economia para o mundo, há 47 anos, a China passou por fases. Na primeira, o foco era produzir internamente para consumo doméstico. Na segunda, era produzir na China para o mundo. Agora, chegou o momento de internacionalização das empresas, com produção em diversas partes do mundo, para o mundo. “A China está se globalizando e, se tiver que escolher um país para investir, o Brasil é grande, amistoso e temos uma excelente relação”, afirmou Wang.
Segundo ele, o valor total dos investimentos chineses no Brasil já é superior a US$ 79 bilhões, em áreas cada vez mais diversas. Durante sua apresentação, citou como exemplo linhas de transmissão, parques eólicos, a revitalização da antiga fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia, e o investimento de R$ 50 bilhões anunciado pelo TikTok, em seu primeiro data center no Brasil, no Ceará.
“Brasil e China já provaram que a parceria entre grandes nações pode ser pragmática e visionária. Estamos construindo pontes digitais de inovação e corredores verdes de investimentos”, disse Wang. “Caminhamos para uma relação para além das trocas comerciais tradicionais, em que desenvolvemos e produzimos inovação, governança global e compartilhamos tecnologias”.
Entre as propostas apresentadas pelo palestrante para aprofundar a cooperação bilateral estão a expansão do uso de moedas locais no comércio bilateral, o fortalecimento da transição verde com investimentos em hidrogênio e biocombustíveis, o estímulo ao turismo chinês no Brasil com mais voos e facilitação de vistos, e o intercâmbio educacional e acadêmico. “A próxima fronteira será o hidrogênio verde, o armazenamento de carbono e as smart grids. Podemos tornar a colaboração Brasil-China em um modelo global”, disse.
Alinhamento Estratégico
A conferência contou ainda com a presença de autoridades brasileiras e chinesas, além de representantes de empresas. O Embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, reforçou o compromisso do gigante asiático com o multilateralismo e a construção de uma economia mundial aberta, em oposição ao movimento protecionista puxado por economias desenvolvidas.
“A China permanece firmemente ao lado certo da história e opõe-se resolutamente a práticas de hegemonismo e tendências de desglobalização. Estamos comprometidos com o desenvolvimento de uma economia verde e sustentável”, declarou.
Já o Embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, Presidente do CEBC, destacou o crescimento e a diversificação do comércio bilateral, ainda muito concentrado, do lado brasileiro, em commodities.
“Estamos assistindo ao aumento da participação de micro, pequenas e médias empresas, e à diversificação da pauta comercial. Os investimentos chineses têm sido direcionados a setores estratégicos, colocando a China como vetor da reindustrialização do Brasil”, afirmou.
Neste ano, até setembro, a corrente de comércio entre os dois países já supera os US$ 128,9 bilhões, com saldo positivo de US$ 22,1 bilhões para os brasileiros. O país exportou para a China no período US$ 75,5 bilhões, e importou US$ 53,4 bilhões, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Secex/MDIC). Os valores das importações, das exportações e da corrente de comércio foram recordes para o mês de setembro.
Apesar dos desafios, o Embaixador chinês no Brasil, Zhu Qingqiao, ressaltou o caráter estratégico da parceria entre os dois países. “Como os maiores países em desenvolvimento do Hemisfério Oriental e Ocidental, China e Brasil compartilham aspirações comuns pela paz, desenvolvimento, cooperação e beneficiamento mútuo”, afirmou.
O Presidente do CEBC, Embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, reforçou relevância dos laços bilaterais: “Trata-se de uma relação que tem oferecido contribuições concretas para enfrentar os desafios de um mundo em transição acelerada”.
(*) Com informações do CEBC
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