
O fim de outubro foi marcado por uma debandada geral de criadores de conteúdo, que agora estão abandonando The Sims e o programa EA Creators Network de forma massiva. Cada vez mais produtores e influenciadores têm deixado o programa de parcerias e o jogo, afirmando que vão expandir a criação para outros títulos.
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De fato, a Electronic Arts está em um momento incerto em meio a uma venda total para o Fundo de Investimentos Públicos da Arábia Saudita e outras companhias, negócio esse que movimenta US$ 55 bilhões e não é muito bem visto pela comunidade.
Mas, afinal de contas, por que tantos criadores de The Sims estão abandonando o jogo? O que explica esse movimento e por que a EA está preocupada com isso?
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Criadores de conteúdo abandonam The Sims
O êxodo de The Sims começou no fim de outubro, com alguns criadores notáveis de países como os Estados Unidos e Reino Unido deixando a comunidade do jogo, como Lilsimsie, James Turner, Plumbella, Steph0Sims, entre outros. A principal justificativa para a saída é justamente a venda da Electronic Arts.
Vários deles anunciaram seus desligamentos do programa EA Creators Network, um tipo de programa de afiliados que permite aos criadores de conteúdo acessar testes de The Sims, participar de eventos, solicitar códigos de jogos e por aí vai. É importante notar que o programa não é voltado apenas para The Sims, mas também engloba todos os jogos da EA.
No entanto, o que começou como um movimento silencioso e aparentemente isolado começou a tomar proporções maiores na semana passada, com a saída de vários outros criadores da comunidade de The Sims.
Uma dessas saídas mais notáveis foi a da criadora conhecida como Vixella, com mais de 1,7 milhão de inscritos no YouTube e mais de 12 anos criando conteúdo sobre The Sims. “Devido à recente aquisição da EA e suas parcerias com IA, decidi me retirar da EA Creator Network”, contou Vixella em uma publicação em seu canal do YouTube.

A criadora de conteúdo afirmou que continuará jogando The Sims e criando conteúdos sobre a franquia enquanto busca diversificar sua criação para outros jogos, ao contrário de muitos outros que abandonaram de vez a franquia.
“Continuarei jogando The Sims em meu canal por todas as pessoas que encontraram conforto e paz em meu conteúdo nos últimos doze anos com esta franquia, mas eu simplesmente não consigo me ver associada à Creator Network vendo a direção que a EA está tomando neste momento”, disse Vixella.
EnglishSimmer, outra criadora de The Sims, anunciou que deixará o jogo totalmente. “Não vou criar conteúdo, destacar ou comprar novos pacotes/conteúdo do The Sims”, contou em uma publicação em seu canal.
Abandono de The Sims tem explicação?
Todos os criadores de conteúdo que compartilharam seus motivos para abandonar o EA Creators Network, bem como a decisão de deixar a produção em torno de The Sims, apontaram a venda da Electronic Arts como o principal motivo da debandada.
Na verdade, a EA é criticada pelos fãs de The Sims desde que adquiriu a Maxis (The Sims, SimCity, Spore) em 1997. O estúdio conhecido por suas experiências de simulação sofreu severas baixas desde que foi comprado, além de problemas de microtransações: se você quer adquirir todos os conteúdos extras de The Sims 4, saiba que terá que desembolsar mais de R$ 6 mil, por exemplo.
Em 2015, o principal escritório da Maxis em Emeryville, Califórnia, foi fechado e a EA absorveu as propriedades intelectuais do estúdio. Não entenda mal, a Maxis segue existindo, mas como uma espécie de zumbi, sem identidade ou poder de escolha dentro da publisher norte-americana.
Agora, a maior preocupação dos criadores é em torno da aquisição da Electronic Arts pelo Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita e as companhias Silver Lake e Affinity Partners, esta última comandada pelo CEO Jared Kushner, genro do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O negócio se trata de um consórcio que deve movimentar US$ 55 bilhões, com previsão para conclusão no próximo ano.

A Arábia Saudita vem expandindo cada vez mais seus investimentos e aquisições em diversos segmentos, como esportes e entretenimento. O país já conta com ações e dinheiro investido no time de futebol inglês Newcastle United, a franquia de golfe LIV e eventos de boxe.
Na indústria dos games, a Arábia Saudita atua por meio da subsidiária Savvy Games Group, que adquiriu estúdios como a Niantic, estúdio por trás de Pokémon GO, e é o maior acionista externo da Nintendo, além de deter 96% das ações da SNK, por exemplo. Ou seja, não é de hoje que o país vem crescendo neste setor.
Vemos aquisições bilionárias no setor de games há anos, desde a aquisição da Activision Blizzard King pela Microsoft ou a Square Enix ocidental pelo Embracer Group. Então qual é a novidade aqui?
O grande problema, de fato, é que muitos acusam a Arábia Saudita de promover eventos e investimentos pelo mundo para passar uma imagem pública positiva num contexto geopolítico global, enquanto mascara o principal problema que o país sofre internamente e que os governantes negam há anos: questões relacionadas a direitos humanos.
Muitos criticam a postura do país com relação aos direitos e tratamento dado às mulheres, à comunidade LGBT e até temas como pena de morte. Em entrevista à BBC Sports, o editor do Video Games Industry Memo, George Osborn, afirmou que a aquisição da EA é uma vitória gigantesca para a Arábia Saudita. “A EA é a empresa perfeita para o que a Arábia Saudita quer alcançar em termos de sua influência”, contou o especialista, “Para a Arábia Saudita, é uma vitória enorme. Se é para todos os outros, essa é uma questão diferente.”

Neste contexto, é possível compreender o temor da comunidade de The Sims e criadores de conteúdo. The Sims é amplamente conhecido pelo suporte e apoio a causas LGBTQIAPN+ e a minorias como as mulheres. Esse histórico, no entanto, estaria sendo ameaçado pela compra da Electronic Arts pelo fundo saudita, do país onde relacionamentos entre duas pessoas do mesmo sexo biológico são proibidos por lei, por exemplo.
“Queríamos garantir que vocês saibam que deixamos a EA Creator Network, pois essa aquisição e futuros proprietários não se alinham com nossas crenças ou valores”, afirmaram as criadoras de conteúdo de The Sims por trás do canal do YouTube CarynandConnieGaming. O pronunciamento das criadoras ecoa da mesma forma por vários outros criadores, sendo a maioria deles mulheres.
Electronic Arts afirma que Arábia Saudita não irá influenciar seus jogos
Após a debandada em massa de criadores de conteúdo de The Sims, a Electronic Arts se pronunciou na última quinta-feira (30), afirmando que a Arábia Saudita não irá interferir nos projetos criativos da companhia, caso o acordo seja fechado.
Em comunicado, a empresa afirmou: “A EA vai manter o controle criativo e nosso histórico de liberdade criativa, que prioriza as exigências dos jogadores, vai permanecer intacto”.
A EA também ressaltou que o negócio não irá afetar os pilares da empresa e acrescentou: “Nossa missão, valores e compromisso aos jogadores e fãs ao redor do mundo continuarão inalterados” e “Vamos continuar a ser guiados por nossos valores culturais de criatividade, pioneirismo, paixão, determinação, aprendizado e trabalho em equipe”.
A equipe por trás do desenvolvimento de The Sims também se pronunciou sobre o caso, afirmando em uma publicação no X (antigo Twitter) no dia 24 de outubro: “Somos continuamente inspirados por nossos incríveis jogadores e criadores; pela sua imaginação, criatividade e pela alegria que vocês trazem ao The Sims todos os dias”. O comunicado também afirma que: “Nossa missão, valores e compromisso permanecem os mesmos. O The Sims sempre será um espaço onde você pode expressar seu eu autêntico”.
A message from The Sims Team 💚 pic.twitter.com/DtVaf0UOjk
— The Sims (@TheSims) October 24, 2025
Apesar do pronunciamento do time por trás de The Sims, a comunidade segue cética, principalmente porque não há como saber o tamanho do controle da Electronic Arts, e quais partes desses comentários são realmente verdade e quais são uma espécie de cortina de fumaça tentando abafar o caso.
Mesmo com os pronunciamentos e comentários oficiais, tanto os criadores de conteúdos de The Sims quanto a comunidade deram sua resposta e estão expandindo seus horizontes para jogos parecidos com The Sims. Vale lembrar que o mercado de simulação, agora aquecido com concorrentes como o iNZOI, oferece opções para os criadores que não aceitam mais a ‘cortina de fumaça’ da EA.
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