Rival brasileiro do Flipper Zero arrecada mais de R$ 800 mil no Kickstarter

Tecnologia
Resumo
  • O High Boy, criado por quatro estudantes brasileiros, arrecadou mais de R$ 800 mil no Kickstarter, superando em vinte vezes a meta inicial de US$ 7 mil.
  • O aparelho, inspirado no Flipper Zero, possui Wi-Fi integrado e é open source, com foco na comunidade latino-americana.
  • A Anatel pode apresentar desafios regulatórios, mas a High Code está preparando um setor jurídico para lidar com isso em 2026.

O High Boy é um aparelho para explorar (e hackear) diversas formas de conexão sem fio, como Wi-Fi e Bluetooth. Idealizado por quatro estudantes brasileiros, o produto tem inspiração no Flipper Zero, que ficou famoso por clonar NFC e RFID — e acabou proibido pela Anatel.

O aparelho está em fase de arrecadação na famosa plataforma Kickstarter. Até agora, ele tem feito sucesso, com mais de US$ 150 mil arrecadados (cerca de R$ 806 mil, em conversão direta). Isso representa um valor vinte vezes maior que a meta dos criadores, que era de US$ 7 mil (R$ 37 mil).

O grupo fundou a empresa High Code. Apesar de serem quatro brasileiros, a companhia tem sede em Montana, nos Estados Unidos, para viabilizar a logística internacional.

No Kickstarter, o aparelho é vendido com 25% de desconto e sai por US$ 120 (aproximadamente R$ 645). O prazo estimado para entrega é julho de 2026.

High Boy quer ser melhor que o Flipper Zero

Ainda que o aparelho laranjinha, que ficou famoso em 2022, seja a principal referência, o grupo brasileiro quer que o High Boy seja melhor que o Flipper Zero.

Dispositivo eletrônico branco e laranja Flipper Zero sobre mesa clara, cercado por ferramentas e componentes eletrônicos, como chaves de fenda, cabos coloridos, placas de circuito e um lápis. Na tela laranja aparece um desenho de golfinho, além do indicador de bateria “100%”. O nome “FLIPPER” está impresso na lateral, e há um cartão microSD parcialmente inserido.
Flipper Zero ficou conhecido como “Tamagotchi” hacker (imagem: divulgação)

Joje Mendes, da High Code, explica ao Tecnoblog que há três diferenças importantes entre os produtos. O primeiro item é o Wi-Fi integrado, que funciona tanto em 2,4 GHz quanto em 5 GHz — no Flipper Zero, isso depende de um módulo vendido separadamente.

Outro ponto é a comunidade, com foco no público latino-americano, especialmente brasileiro. “Mas abraçaremos todo mundo que quiser entrar na comunidade, não importa de onde”, diz Mendes. Para isso, o High Boy será open source.

Por fim, o grupo quer implementar a tecnologia LoRa, que tem longo alcance e é usada na Internet das Coisas, um recurso que o Flipper Zero não tem.

Mendes garante que não se trata de um produto projetado por outra empresa e apenas revendido, sendo a filosofia open source de hardware e software uma prova disso. “Publicamos todo o esquema elétrico da placa (PCBs) e código-fonte”, explica.

Na ficha de especificações técnicas, o High Boy lista NFC, RF sub-GHz, Bluetooth Low Energy (BLE), infravermelho e Wi-FI, além de entrada para cartões microSD e acessórios GPIO. E assim como o Flipper Zero, que usa um golfinho na interface, o aparelho brasileiro terá seu mascote: um polvo roxo chamado Octobit.

E a Anatel?

O Flipper Zero caiu em desgraça com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Ela considerou que Flipper Zero poderia ser usado para fins ilícitos e facilitaria a ocorrência de crimes. O órgão regulatório barrou encomendas do produto, apreendeu cargas e mandou de volta aos remetentes. Além disso, a agência se recusou a certificar o aparelho.

E não foram só as autoridades brasileiras que se posicionaram contra o Flipper Zero. O Canadá baniu o aparelho, e a Amazon proibiu as vendas do aparelho.

Print do site do Flipper Zero. Informa que "infelizmente, nossos distribuidores ainda não enviam o Flipper Zero para o Brasil. Tente outros países".
Loja oficial informa que Flipper Zero não pode ser enviado para o Brasil (imagem: reprodução/Tecnoblog)

Mendes diz que há um setor jurídico trabalhando para lidar com essa parte regulatória no início de 2026 — até porque o foco da High Code é o mercado nacional.

“Nós vetamos e desincentivamos qualquer uso ilegal ou irregular do High Boy”, explica Mendes. “O nosso foco é na educação e na tecnologia open source.”

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