Recuo no tarifaço de Trump expõe necessidade de diplomacia para defesa de setores que não foram beneficiados, diz especialista

Notícias

Especialista em comércio exterior, Jackson Campos afirma que fator central na retirada da taxa de 40% foi a pressão do mercado interno americano e que Brasil ainda tem muito a negociar

Da Redação (*)

Brasília – A retirada das tarifas de 40% sobre produtos como carne, café e frutas pelos Estados Unidos animou o mercado exportador brasileiro. Sem distorção dos preços e recuperando a competitividade, diversos produtos já estão retomando o fluxo normal de exportação e reconquistando o mercado americano.

Entretanto, ainda há muito para ser discutido entre os presidentes Lula e Trump, já que outros setores continuam sendo impactados. O prejuízo no mercado interno chegou aos US$3 bilhões segundo um estudo da BMJ Consultoria para o CNI. Os produtos industrializados foram os mais impactados, respondendo a mais de 27% de todas as perdas com o tarifaço.

“Os setores de bens manufaturados e produtos industriais, especialmente partes e peças, componentes, máquinas e itens de maior valor agregado que competem em margens estreitas sofreram muito. Qualquer tarifa compromete a viabilidade econômica da exportação. As relações comerciais que foram afetadas não se restabelecem imediatamente, porque compradores nos EUA podem ter buscado outros fornecedores durante o período de sobretaxa, dificultando essa retomada”, afirma o especialista.

Por mais que o recuo americano tenha ocorrido em um momento onde os países negociam e que a diplomacia brasileira esteja conseguindo abertura para negociar diretamente com Trump, o especialista em comércio exterior, Jackson Campos, explica que o ponto central nessa movimentação foi a pressão interna nos EUA.

“A inflação é um tema central na política dos americanos e ver os preços do café e da carne subirem vertiginosamente não agradou ninguém. Os empresários, público onde boa maioria apoia o republicano, viram essa jogada como um gol contra, porque passou a prejudicar a produção de suas empresas. Claro que a diplomacia brasileira tem sido muito importante, mas a pressão de grupos apoiadores do presidente americano contra essas medidas causou mais impacto imediato para que houvesse mudanças”, explica Campos.

Cautela

Olhando para o mercado nacional, os empresários respiraram aliviados, mas ainda é muito cedo para uma comemoração grande. Sem seguir o padrão de uma negociação comum, o presidente Trump cria uma sensação de bomba-relógio no mercado, podendo anunciar taxas e decisões controversas a qualquer instante.

Campos afirma que não é possível cravar que as tarifas não retornem ou que exista uma nova incerteza na parceria comercial entre EUA e Brasil por conta do comportamento do governo republicano.“

O histórico recente da política comercial americana mostra que decisões tarifárias podem ser revistas com rapidez, dependendo de pressões domésticas e estratégias geopolíticas. Por isso, operadores logísticos, exportadores e indústrias continuam monitorando cada sinal de mudança. O mercado recebe o movimento atual como positivo, mas mantém uma postura de prudência, dado que as negociações ainda estão em andamento e o ambiente não está totalmente estabilizado”, diz.

Ele também afirma que as negociações ainda devem continuar pois outros setores estão sendo sufocados com a perda deste mercado. “A diplomacia brasileira ainda tem muito a fazer, setores como o madeireiro e moveleiro ainda dependem do desenrolar desses encontros e se vem contra a parede. É preciso continuar buscando soluções para os nossos produtos sem permitir que os EUA influenciem a política e o mercado interno brasileiro”, conclui.

 

O post Recuo no tarifaço de Trump expõe necessidade de diplomacia para defesa de setores que não foram beneficiados, diz especialista apareceu primeiro em Comex do Brasil.