A nova fase dos óculos inteligentes: menos acessório, mais computador

Tecnologia

Os óculos inteligentes finalmente chegaram a um ponto de virada. Depois de anos sendo tratados como acessórios curiosos — úteis, mas limitados —, esses dispositivos começam a se consolidar como a próxima grande plataforma computacional.

Em análise no CNN Tech nesta quarta-feira (24), Adriano Ponte propõe uma leitura clara dessa evolução, separando o que são apenas óculos “conectados” do que pode, de fato, substituir o smartphone no médio prazo.

A chave para entender essa mudança está em uma linha do tempo bem definida, dividida em três estágios. Cada um deles amplia o papel dos óculos no dia a dia e deixa mais claro por que, agora, a indústria voltou a apostar pesado nesse formato.


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Primeiro estágio: óculos que ouvem, mas não veem

O ponto de partida são os chamados óculos de áudio. Exemplos como os Amazon Echo Frames e os JBL Soundgear Frames mostram bem essa fase inicial.

A proposta é simples e funcional: permitir ouvir música, atender chamadas e interagir com assistentes de voz sem isolar o usuário do ambiente, já que o som é transmitido por condução aberta.

 JBL Soundgear Frames funcionam como uma espécie de fone de ouvido em forma de óculos (Imagem: Ivo Meneghel Jr. / Canaltech)

Esses modelos apostam na discrição visual e na praticidade, mas têm uma limitação clara: são completamente “cegos”. Não há câmeras, não há telas, não há contexto visual. Eles funcionam como um fone de ouvido distribuído no rosto — úteis, mas longe de representar uma nova plataforma.

Segundo estágio: óculos que veem o mundo

A grande virada aconteceu com o Meta Ray-Ban. Aqui, a equação muda ao adicionar visão ao sistema. Com câmeras de alta qualidade e integração com IA multimodal, esses óculos conseguem enxergar o ambiente, entender o que está ao redor e registrar momentos do ponto de vista do usuário.

É esse modelo que viabiliza transmissões ao vivo, registros espontâneos e interações mais inteligentes com assistentes de IA, que passam a interpretar imagens e situações reais.

Ainda assim, existe uma limitação importante: toda a resposta continua sendo auditiva. O usuário fala, o sistema vê, mas a informação volta apenas em forma de áudio.

Ray-Ban Meta (Gen 2)
Ray-Ban Meta (Gen 2) (Gabriel Furlan Batista/Canaltech)
Ray-Ban Meta (Gen 2)
Ray-Ban Meta (Gen 2) (Gabriel Furlan Batista/Canaltech)
Ray-Ban Meta (Gen 2)
Ray-Ban Meta (Gen 2) (Gabriel Furlan Batista/Canaltech)
Ray-Ban Meta (Gen 2)
Ray-Ban Meta (Gen 2) (Gabriel Furlan Batista/Canaltech)
Ray-Ban Meta (Gen 2)
Ray-Ban Meta (Gen 2) (Gabriel Furlan Batista/Canaltech)
Ray-Ban Meta (Gen 2)
Ray-Ban Meta (Gen 2) (Gabriel Furlan Batista/Canaltech)
Ray-Ban Meta (Gen 2)
Ray-Ban Meta (Gen 2) (Gabriel Furlan Batista/Canaltech)

Mesmo assim, esse estágio foi crucial. Como destaca Adriano Ponte, o Meta Ray-Ban provou algo que parecia improvável poucos anos atrás: as pessoas aceitaram usar câmeras no rosto, desde que o design fosse socialmente aceitável e o uso fizesse sentido.

Terceiro estágio: a era do display e da realidade aumentada

É no terceiro estágio que os óculos deixam de ser acessórios inteligentes e passam a disputar espaço com o smartphone. Adriano Ponte chama esse momento de “a era do display”, materializada por projetos como o Meta Orion (ou Meta Display) e pela recém-lançada plataforma Android XR.

A diferença aqui é fundamental. Os óculos deixam de apenas captar informação do mundo e passam a devolver conteúdo visual diretamente ao campo de visão do usuário, por meio de projeções holográficas. A experiência deixa de ser passiva e se torna imersiva.

Meta Display marcou um ponto de virada nos óculos inteligentes (Imagem: Divulgação/Meta)

Na prática, isso significa ver setas de navegação flutuando na rua enquanto você caminha, legendas de tradução aparecendo sob o rosto de alguém em tempo real ou instruções de uma receita sobrepostas à bancada da cozinha. A IA não apenas responde: ela contextualiza visualmente.

Óculos como sucessores do smartphone

O ponto central da análise é que, com a chegada do display e de um ecossistema de software maduro, os óculos inteligentes deixam de ser complementos e passam a ser candidatos reais a substituir o celular em várias tarefas.

Navegação, comunicação, tradução, consumo de informação rápida e até produtividade passam a acontecer sem tirar um dispositivo do bolso.

O Meta Ray-Ban mostrou que o formato é socialmente viável. Agora, os modelos com display e plataformas como o Android XR tentam resolver o passo seguinte: transformar os óculos no principal ponto de contato entre usuário, IA e mundo digital.

Ainda há desafios evidentes — custo, bateria, conforto e privacidade —, mas a trajetória ficou clara. Os óculos inteligentes não são mais uma promessa distante. Eles estão, pela primeira vez, tentando ocupar o lugar que hoje pertence ao smartphone.

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