A IA no ensino superior carece de regulação; veja 7 instituições que se destacam

Tecnologia

A inteligência artificial generativa (IAG) avançou em muitos estágios desde o lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022, quebrando paradigmas na produção de conhecimento. Hoje, um chatbot pode participar e impactar todas as etapas desse processo de criação.

Além de produzir e revisar textos, as ferramentas de IA também têm capacidade para analisar e resumir conjuntos de dados, além de realizar buscas robustas na internet ou em outros bancos de dados, gerando relatórios técnicos complexos e de alta qualidade.

Contudo, esses avanços tecnológicos, acompanhados de grandes transformações na forma como as pessoas constroem e consomem conhecimento, ainda não foram acompanhados de diretrizes e regulamentações.


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Um exemplo disso é a ausência de protocolos para o uso de IA nas atividades das principais instituições de ensino superior (IES) no Brasil — públicas e privadas.

Levantamento com Instituições de Ensino Superior

Um levantamento feito pela Cátedra Oscar Sala da Universidade de São Paulo (USP) analisou os sites de 69 universidades federais, 38 estaduais, 35 católicas e 16 particulares de grande reconhecimento nacional. O objetivo era localizar normas, resoluções, guias, manuais e diretrizes para o uso da IAG em atividades acadêmicas.

A pesquisa contou com apoio de ferramentas de inteligência artificial, como o ChatGPT o3 e o Gemini 2.5 Pro, utilizadas para buscas avançadas e análise de dados disponíveis nos sites das instituições, entre 24 de julho e 6 de agosto de 2025.

Após a revisão manual dos dados apresentados sobre mais de 150 IES, os pesquisadores encontraram apenas sete documentos relacionados a diretrizes sobre inteligência artificial.

As instituições com textos regulatórios foram:

  • Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
  • Universidade Federal da Bahia (UFBA)
  • Universidade Federal de Goiás (UFG)
  • Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar)
  • Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp)
  • Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR)
  • Centro Universitário Senai Cimatec

A título de comparação, um estudo realizado em 2023 com foco em instituições dos Estados Unidos identificou 116 políticas de uso de IA.

ChatGPT
Instituições de ensino superior brasileiras ainda carecem de textos regulatórios relacionados à IA (Pexels/Matheus Bertelli)

As raras exceções

Entre as sete instituições, o destaque é a UFMG, que criou uma comissão permanente dedicada à inteligência artificial. O grupo elaborou regras e também pode ser acionado para esclarecer dúvidas, propor eventos, discussões e parcerias.

“Vale destacar que UFBA, PUC-PR e o Senai Cimatec lançaram guias mais longos e aprofundados sobre o uso da IAG em diferentes atividades de suas instituições. Unesp, PUC-PR e UFMG optaram por resoluções ou normativas, com destaque para o material da UFDPar pela sua completude. Já a UFG preferiu incluir regras sobre o uso de IA em seu guia de integridade acadêmica”, explicou Rafael Cardoso Sampaio, professor de Comunicação Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que participou da pesquisa.

O docente avalia que, apesar dos primeiros passos, o avanço ainda é pequeno diante dos desafios que a IAG traz para o ensino, principalmente considerando a facilidade com que os alunos acessam esses recursos tecnológicos.

Buscas bibliográficas, síntese de arquivos, tradução de textos e otimização da escrita já são atividades comuns com integração da inteligência artificial no ambiente acadêmico.

“Para os docentes, os mesmos recursos podem ser úteis na preparação de aulas e materiais didáticos, mas sua existência introduz um dilema central no processo avaliativo, uma vez que as ferramentas para detectar conteúdo gerado por máquina mostram-se pouco confiáveis”, ressalta Sampaio.

Impactos da falta de regulação da IA

A adoção de ferramentas de inteligência artificial em meio a um vácuo regulatório cria um problema generalizado para as instituições de ensino superior, já que instala um ambiente de insegurança jurídica e pedagógica.

No caso dos professores, um exemplo de impacto negativo é a situação de atribuir nota zero a uma atividade por uso indevido da IA sem respaldo de políticas institucionais claras ou métodos de detecção confiáveis.

Já os alunos, por sua vez, tendem a utilizar ferramentas de forma oculta, com receio de serem punidos por plágio ou desonestidade sem poder justificar o uso legítimo da tecnologia.

Segundo o professor da UFPR, o caminho para lidar com os avanços da IAG no setor educacional não é a proibição, mas sim uma regulação ética voltada às práticas pedagógicas.

“É necessário capacitar a comunidade para o uso crítico da tecnologia e, principalmente, adaptar os métodos avaliativos para que valorizem habilidades que a IA não replica, como pensamento crítico, criatividade, argumentação original e aplicação contextual do conhecimento”, defende Sampaio.

Computador em sala de aula
Flta de regulamentação atrapalha integração da IA à educação brasileira (Pexels/Startup Stock Photos)

Propostas para avançar na regulação

O especialista propõe algumas iniciativas para otimizar o uso da inteligência artificial nas IES brasileiras:

  • Criação de comitês multidisciplinares com docentes, discentes e especialistas para elaborar políticas de uso transparente e definir o que é apoio legítimo ou fraude
  • Estabelecimento de fluxos e protocolos para lidar com incidentes
  • Adoção de salvaguardas de LGPD e de propriedade intelectual
  • Responsabilidade compartilhada entre todos, com ferramentas validadas, contas institucionais e orientações sobre dados para reduzir riscos e conflitos

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VÍDEO | 3 USOS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO DIA A DIA

 

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