A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) emitiu um comunicado em que proíbe o uso de alguns produtos medidores de glicose “não invasivos”, que dispensariam o uso de agulha. Apontado pela agência como um anel, o produto também já apareceu em posts de redes sociais em um formato que se parece mais com um oxímetro (em forma de pregador).
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De acordo com a agência, os dispositivos eletrônicos proibidos prometem, sem nenhuma base científica, monitorar a saúde dos consumidores e medir os níveis de glicose, oxigênio e atividade cardíaca sem precisar furar o dedo para retirar amostras de sangue – atraindo pacientes diabéticos e com problemas cardíacos com o monitoramento de forma superficial.
A medida, publicada na última terça-feira (2), proíbe a comercialização, distribuição, fabricação, importação, manipulação, propaganda e o uso dos seguintes produtos:
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- Anel para Acupressão Glucomax (todos);
- Glicomax (todos),
- Glucomax (todos) e
- Glucomax Pro (todos).
Além de não apresentar eficácia comprovada, os produtos não têm registro sanitário na agência reguladora. Os dispositivos estão sendo anunciados e colocados à venda em diversos sites de compras online e nas redes sociais: Instagram, Facebook e TikTok.
Os posts costumam ser patrocinados e, além disso, esses anúncios usam imagens de pessoas famosas para enganar os consumidores. Trata-se de um golpe, que não é novo.

Golpe antigo nas redes sociais
De acordo com o “Estadão Verifica”, posts patrocinados no Facebook – e tirados do ar ainda em 2024 – usavam a imagem do médico Dráuzio Varella. Ao clicar em “saiba mais”, como sugerido pela legenda, o usuário era redirecionado para um site falso que copiava a identidade visual da Shopee, mas com um endereço de domínio diferente do e-commerce.
Anúncios do GlicoMax ainda eram falsamente associados à Siemens Healthineers – empresa multinacional alemã especializada em tecnologia médica. Há diversas reclamações no site Reclame Aqui (reclameaqui.com.br/empresa/glicomax-shop) relacionadas ao falso equipamento.
As queixas variam de vítimas do golpe que não receberam o produto, até aqueles que receberam, na verdade, um simples oxímetro (um aparelho usado preso a um dos dedos das mãos para medir o nível de oxigênio no sangue).
Sobre as reclamações direcionadas à Siemens, a empresa tem respondido os usuários esclarecendo que o equipamento não faz parte de seu portfólio e que sua marca está sendo usada sem autorização para promover o suposto produto, gerador das reclamações no site.
Dá para medir glicose sem agulha?
Uma nota publicada pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) apontou que muitos dispositivos anunciados como inovadores não têm respaldo científico e devem ser evitados por pacientes com diabetes.
Sem agulha é possível medir a oxigenação e batimento cardíaco, mas para medição da glicose é necessário o sangue ou interstício, explica Márcio Krakauer, coordenador do Departamento de Tecnologia, Saúde Digital e Inovação da SBD.
“A Sociedade Brasileira de Diabetes não tem conhecimento deste produto”, acrescentando que o fabricante não fez nenhuma apresentação oficial do dispositivo à entidade médica.
O especialista lembra, ainda, que não existe estudo de segurança e de eficácia comparando os resultados destes e outros dispositivos com os exames conhecidos e usados no Brasil, como glicose capilar na ponta do dedo ou glicose intersticial, como os sensores de glicose.
A recomendação é para que as pessoas com diabetes evitem estes produtos e façam seus exames de forma tradicional.
“Em caso de dúvidas, fale com seu médico, muitos riscos estão envolvidos quando ocorre discrepância na medição da glicose”, orienta o médico.
A nota da SBD também inclui o posicionamento da Siemens Healthineers. A empresa afirma que o produto GlicoMax não faz parte do seu portfólio e que não possui ou administra os sites Siemens.Shop e Glicomax.com.
“Na América Latina não vendemos produtos para o público em geral, apenas para profissionais de saúde e eles possuem todos os registros sanitários em cada um dos países para comercialização”, diz o comunicado.
Vale lembrar que produtos eletrônicos de monitoramento de bem-estar sem registro ou regularização não oferecem garantia de qualidade, segurança e eficácia, representando sérios riscos à saúde e por isso não devem ser utilizados por quem precisa desses serviços.
Denúncias sobre produtos eletrônicos de monitoramento de saúde irregulares devem ser feitas à Anvisa, por meio da Ouvidoria ou pela Central de Atendimento (0800 642 9782).
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