Da Redação
Brasília – O Brasil não tem nenhum acordo comercial ou mesmo um parceiro isolado capaz de ajudar o país a preencher o vácuo criado no intercâmbio com os Estados Unidos diante do tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump às exportações brasileiras. O que o país precisa fazer para mitigar os efeitos do “tarifaço” é “abrir seu mercado, reduzir os efeitos do chamado “custo Brasil”, mas essas não são tarefas simples e demandam tempo”. A avaliação foi feita pelo presidente-executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, ao analisar os efeitos dessas tarifas sobre o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos.
Blocos como a Associação dos Países do Sudeste Asiático (ASEAN), a União Europeia (UE) e a Área de Livre Comércio da Europa (EFTA), ou países como a Índia, Canadá e México, entre outros, são apontados pelo governo brasileiro como parceiros a serem abordados na busca de novos mercados para os produtos que o Brasil deixará de exportar para os Estados Unidos.
Apesar de considerar esse esforço “válido”, o executivo da AEB destacou que “o Brasil enfrentará grandes dificuldades na abertura de novos mercados porque o mundo inteiro quer abrir novos mercados. Imaginemos que se o Brasil deixar de exportar determinados produtos e procurar desviar essas exportações para, por exemplo, a América do Sul, vai bater de frente com a China, que tem preços baixíssimos e são praticamente insuperáveis. O mesmo acontecerá em relação à União Europeia, que também pratica preços muito mais competitivos que o Brasil”.
Após reconhecer as dificuldades a serem enfrentadas pelas empresas brasileiras nessa busca por mercados alternativos para os produtos brasileiros no exterior, José Augusto de Castro destaca que “é preciso buscar novos mercados, sim, ainda que essa não seja uma tarefa fácil. Uma alternativa seria empresas multinacionais desviarem para o Brasil as compras que elas fazem em um determinado país, como forma de ajudar à filial brasileira, tarefa igualmente complexa e de longo prazo de execução”.
Um obstáculo intransponível chamado “custo Brasil”
E a alternativa mais viável –e também quase impossível de se concretizar- para aumentar as exportações brasileiras e recuperar pelo menos parte das perdas criadas pelo “tarifaço” está na redução dos elevados custos de produção enfrentados pelas empresas brasileiras.
Segundo José Augusto de Castro, “se não reduzirmos nossos custos, não vamos conseguir exportar mais. E essa é uma decisão interna e não externa, tem que sair de dentro para fora. A implantação da reforma tributária é um primeiro de muitos outros passos que precisam ser dados para tornar o Brasil mais competitivo no comércio internacional”.
Voltando a falar sobre os acordos comerciais como instrumento de abertura de mercados para o país, o presidente da AEB lembrou que, passados 25 anos, até hoje o acordo entre o Mercosul e a União Europeia ainda não saiu do papel, enquanto outros acordos foram concluídos mas ainda não aguardam a aprovação pelo Congresso.
Em média, o tempo transcorrido entre a assinatura de um acordo comercial pelo governo brasileiro, sua aprovação pelo Congresso Nacional e entrada em vigor é de quatro anos e meio, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), mas existem acordos que só passaram a vigorar após dez anos ou até mais.
Nesse contexto, ele afirma que “não existe nenhum acordo comercial capaz de ajudar o Brasil a aumentar suas exportações hoje. O que resta hoje é correr os mercados, negociar, tentar oferecer preços competitivos e, eventualmente, sacrificar as margens de lucro, se e quando isso for possível. Em resumo, o cenário não é simples. Pelo contrário. Conquistar novos mercados quando todos os países estão nessa mesma trajetória, vai ser uma tarefa bastante difícil”.
O post Brasil não tem alternativa para substituir mercado dos EUA no enfrentamento do tarifaço de Trump, diz especialista apareceu primeiro em Comex do Brasil.