Minerais críticos, infraestrutura digital e combustíveis de aviação são áreas em que Brasil e EUA têm complementaridades e encontram oportunidades concretas de cooperação para pesquisa e desenvolvimento
Ricardo Alban (*)
Vivemos um momento delicado nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, mas é também um período fértil, cheio de oportunidades. A imposição de tarifas adicionais sobre produtos brasileiros, que afetam mais de 77% da nossa pauta exportadora, exige uma resposta firme e serena. Essa resposta deve ser construtiva e estratégica. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reafirma que o caminho para superar este momento requer diálogo, cooperação e criatividade.
A inovação pode ser a ponte que reconstrói a confiança. Há três áreas em que Brasil e Estados Unidos têm complementaridades evidentes e encontram oportunidades concretas de cooperação em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I).
Primeiro, minerais críticos. O Brasil tem reservas abundantes de lítio, níquel, grafite e nióbio. Os Estados Unidos precisam diversificar suas fontes de suprimento desses minérios e reduzir a dependência de mercados concentrados.
Propomos criar um arranjo bilateral para desenvolver cadeias de valor locais, com foco em processamento, tecnologia e baixa intensidade de carbono. Com apoio mútuo em PD&I, o Brasil terá polo de minerais refinados competitivo e os EUA garantirão acesso seguro e diversificado a insumos estratégicos para sua indústria de alta tecnologia.
Segundo, infraestrutura digital. A demanda por data centers de alta capacidade, especialmente dedicados à inteligência artificial, cresce exponencialmente. O Brasil tem uma matriz energética limpa, conectividade internacional e mercado em expansão. Com cooperação em PD&I, podemos atrair investimentos, formar talentos e desenvolver soluções conjuntas em cibersegurança, automação e software.
A proposta é clara: transformar o Brasil em um hub regional de infraestrutura digital resiliente e eficiente, ao mesmo tempo em que os Estados Unidos ampliam seu mercado e sua rede de parceiros confiáveis para a expansão da inteligência artificial e da economia de dados.
Terceiro, combustíveis de aviação. O Brasil domina a produção de biocombustíveis e tem uma matriz de biomassa diversificada. Os EUA lideram em financiamento e pesquisa. Juntos, podemos acelerar rotas tecnológicas como a do etanol para aviação, desenvolver novos insumos e criar padrões globais de certificação baseados em intensidade de carbono reduzida.
A cooperação em combustíveis de aviação é uma oportunidade de liderança conjunta. O Brasil pode contribuir com escala e insumos de baixa intensidade de carbono e, os Estados Unidos, com tecnologia, financiamento e acesso a mercados globais. Um casamento promissor para mercados que se abrem, como o dos carros voadores.
Essas três agendas não são apenas técnicas. Elas são estratégicas. Elas mostram que, mesmo em tempos de tensão comercial, é possível construir pontes entre países que compartilham interesses e capacidade de inovação.
A CNI está pronta para liderar esse movimento. Apresentamos ao governo brasileiro medidas emergenciais para apoiar os setores mais afetados e levaremos nesta semana – nos dias 3 e 4 de setembro – uma missão empresarial aos Estados Unidos, com mais de 100 representantes do setor privado dos dois países, para ampliar os canais de interlocução e identificar complementariedades.
O Brasil tem vocação para ser protagonista. E a indústria brasileira está preparada para transformar desafios em oportunidades. Com cooperação, com inovação e com visão de futuro.
(*) Ricardo Alban é empresário e presidente da CNI
O artigo foi publicado na CNN, no dia 1 de setembro de 2025.
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