Da Redação
Brasília – No mês de julho, o Brasil ampliou em 62,60% para US$ 659 milhões as importações de óleos combustíveis dos Estados Unidos e no período de janeiro a julho, as compras do produto americano totalizaram US$ 2,9 bilhões, com uma alta de 42,50%. Na direção oposta, as importações de óleo combustível da Rússia caíram 6,40% em julho, totalizando US$ 597 milhões e 14,40% nos sete primeiros meses do ano, acumulando a cifra total de US$ 3,4 bilhões.
Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Combustíveis (ANP), em julho, os Estados Unidos ultrapassaram a Rússia como maior fornecedor de óleo diesel, revertendo liderança russa que persistiu por vários meses. De acordo com a ANP, os Estados Unidos responderam por 45% do diesel importado pelo Brasil entre os dias 1º. e 21 de julho, enquanto a Rússia foi responsável 35%. Em 2024, segundo dados do setor e do governo, a Rússia forneceu mais de 60% do diesel importado pelo Brasil.
Os números acima são reveladores de uma tendência que deve se consolidar no decorrer deste segundo semestre. Para evitar sanções como a sobretaxa de 25% imposta pelo presidente Donald Trump à Índia exatamente pelo fato de o país ser o principal importador de petróleo e derivados russos, compras que, na visão do presidente americano, são decisivas no apoio à Rússia para o enfrentamento da guerra com a Ucrânia, o Brasil e as empresas brasileiras importadoras de óleos combustíveis começam a reduzir as importações do produto russo e a redirecionar as compras para os fornecedores americanos.
No próximo dia 15, os presidentes Donald Trump e Vladimir Putin vão se reunir para tratar do conflito na Ucrânia e a Casa Branca já acenou com severas punições a Moscou caso Putin não chegue a um acordo para colocar um fim na guerra que se arrasta há mais de três anos.
Uma dessas punições será replicar e até mesmo aumentar a tarifa adicional de 25% imposta aos indianos a todos os países que insistirem em ter relações comerciai ativas com a Rússia, como é o caso do Brasil.
O grande temor ante possível retaliação dos EUA
O tema vem sendo acompanhado com apreensão pelo governo brasileiro. E a tensão cresce à medida em que avança a crise sem precedentes na história das relações do Brasil com os Estados Unidos. O próprio presidente Lula da Silva já destacou que vê com preocupação a possibilidade de o Brasil vir a ser impedido de comprar os produtos russos e, mais, ser severamente punido pelas elevadas importações de óleos combustíveis de petróleo e fertilizantes, produtos dos quais a Rússia são o principal abastecedor do mercado brasileiro e que dificilmente poderá vir a ser substituído por um outro país.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), de janeiro a julho deste ano, foram importados US$ 2,4 bilhões em fertilizantes russos, valor superior em 27,6% ao total importado em igual período de 2024. Além da Rússia, Marrocos e Canadá compõem o trio dos três maiores fornecedores desse insumo crucial para o agronegócio brasileiro. O Brasil importa mais de 80% dos fertilizantes usados nas lavouras, No caso do potássio, mais de 95% são provenientes do exterior.
Com relação aos óleos combustíveis, nos últimos meses, as empresas privadas brasileiras importadoras do produto vêm retomando os contatos com as exportadoras americanas e estão preparando um plano de contingência depois que os Estados Unidos anunciaram a sobretaxa à Índia. Importantes distribuidoras e refinarias como Vibra, Ipiranga, Raizen, Refit e Atem, grandes importadoras do óleo russo começam a rever seus planos e podem começar a ativar as importações do produto americano.
Essas e outras empresas brasileiras foram responsáveis pela importação do equivalente a US$ 13 bilhões em óleo diesel da Rússia, desde que o país comandado por Vladimir Putin invadiu a Ucrânia, em 2022.
Dificuldade na substituição do fornecedor
Segundo especialistas, o Brasil deverá enfrentar dificuldades de encontrar substitutos para o diesel importado da Rússia caso Trump implemente novas sanções contra a Rússia. No último dia 15, o secretário-geral a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Mark Rutte, mencionou o Brasil entre os países que podem ser afetados pelas sanções secundárias americanas. Segundo a consultoria S&P, não será fácil para o Brasil buscar um fornecedor alternativo à Rússia pois, com a retaliação americana, o diesel dos Estados Unidos ficaria mais caro e pouco atrativo para as importações.
Para o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, haverá dificuldades em encontrar um supridor que atenda às necessidades de importação brasileira. Para ele, com a sobretaxa vai ser criada uma demanda global maior do que a oferta. Uma alternativa seriam os Estados Unidos, mas não é seguro se as refinarias americanas teriam condições de aumentar a produção de forma a atender a essa demanda extra.
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