A demanda cada vez maior por inteligências artificiais (IAs) de alta performance levou a China a iniciar a instalação de um data center no oceano. A previsão é de que o sistema subaquático comece a funcionar em setembro de 2025.
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A construção do novo centro começou em junho deste ano e está sendo realizada a cerca de 9 km da costa de Xangai, considerada um dos polos de tecnologia da China.
A expectativa é que, após sua conclusão, o projeto traga grande economia de energia em comparação com os centros de dados instalados em terra firme. Isso será possível graças ao resfriamento natural proporcionado pela água do mar.
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Resfriamento dos data centers
Os centros de dados em terra consomem grandes quantidades de energia e água para resfriar os computadores. Isso é necessário porque os servidores funcionam sem parar e ficam muito próximos uns dos outros, o que gera calor suficiente para danificar os equipamentos.
Por esse motivo, cerca de 40% de toda a eletricidade consumida em centros de dados é destinada apenas ao resfriamento. Grande parte dessa energia é usada para resfriar a água, que depois circula no ambiente onde estão os computadores.
Normalmente, a água utilizada nesse processo é retirada de poços, rios, córregos ou de sistemas de reúso.
Já nos centros de dados submarinos, o resfriamento é feito de forma natural. Os sistemas usam tubulações que bombeiam a água do mar por radiadores instalados na parte traseira dos suportes onde ficam os servidores. Assim, o calor é absorvido e dissipado pela estrutura.
Em contato com o Scientific American, a Hailanyun Technology — responsável pela construção do data center na costa de Xangai — informou que avaliações da Academia Chinesa de Tecnologia da Informação e Comunicação (CAICT) indicaram que o projeto consome cerca de 30% menos eletricidade do que os centros de dados em terra.
Além disso, o sistema estará conectado a um parque eólico instalado em uma região próxima, que deve fornecer cerca de 97% da energia usada.

Detalhes do data center chinês
A previsão é que a primeira fase do centro na costa chinesa comece a operar em setembro, com 198 armários de servidores. Essa quantidade é suficiente para acomodar entre 396 e 792 computadores capazes de rodar ferramentas de IA.
Segundo a Hailanyun, o sistema terá capacidade computacional suficiente para concluir o treinamento de uma ferramenta como o GPT-3.5 — lançado em 2022 como versão do ChatGPT — em apenas um dia.
Ainda assim, o centro de Xangai é considerado pequeno quando comparado às estruturas em terra. Para efeito de comparação, um centro de médio porte no país abriga cerca de 3 mil armários de servidores, enquanto os maiores passam de 10 mil.
Legado do projeto da Microsoft
A iniciativa chinesa tem como inspiração o Projeto Natick, da Microsoft. Criado em 2013, mas com operações iniciadas em 2018, o objetivo era testar novas formas de tornar os centros de dados mais eficientes.
A experiência envolveu o mergulho de uma cápsula do tamanho de um contêiner, equipada com 855 servidores, que funcionou sem interferência por 25 meses e 8 dias na costa da Escócia.
No mesmo período, 135 servidores semelhantes foram mantidos em terra firme, servindo como base de comparação.
O estudo mostrou que apenas 6 dos 855 servidores submarinos apresentaram falhas, contra 8 dos 135 em terra — um índice de falhas cerca de 75% menor nas máquinas submersas.
Além da temperatura estável da água, o fato de os tubos com os armários de servidores serem preenchidos com nitrogênio, em vez de oxigênio, também contribuiu para o bom desempenho.
No entanto, em junho de 2024, a Microsoft informou que havia desligado o último de seus centros de dados subaquáticos e que não tinha planos de construir novas instalações desse tipo a curto prazo.

Impactos ambientais
Apesar dos bons resultados, a Microsoft reconheceu que seu data center submarino aqueceu as águas do local onde foi instalado.
Especialistas alertam que isso pode ser ainda mais preocupante durante ondas de calor marinhas — períodos em que a temperatura do oceano fica acima do normal.
O aumento adicional da temperatura da água devido ao funcionamento do centro, combinado com a redução de oxigênio na região, poderia trazer impactos significativos para a biodiversidade marinha.
Outra preocupação envolve o som. Um estudo publicado em 2024 no IEEE Xplore (ieeexplore.ieee.org) mostrou que centros de dados submersos podem ser danificados por ruídos emitidos por alto-falantes subaquáticos, levantando questões de segurança contra ataques maliciosos.
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