Bruno Perottoni (*)
O comércio exterior vive um dos períodos mais transformadores de sua história. Em um ambiente econômico cada vez mais ágil e interconectado, as empresas que mais crescerão na próxima década não serão necessariamente as maiores, mas sim as mais eficientes.
Digitalização, blockchain, inteligência artificial, acordos multilaterais e estratégias de reshoring e nearshoring se unem em torno de um mesmo propósito, ganhar eficiência e competitividade em um ambiente global em constante mudança.
A digitalização do comércio exterior vai muito além da simples informatização de processos. Trata-se de uma mudança estrutural na forma como empresas operam, negociam e competem internacionalmente. O que antes exigia dias de trabalho manual hoje pode ser
automatizado, reduzindo custos operacionais, riscos e tempo de resposta.
A IA é o novo normal nesse contexto, mas seu uso ainda é, em muitos casos, superficial. Muitas empresas usam essa tecnologia apenas como uma ferramenta de busca ou análise de dados, quando o seu verdadeiro potencial está na automação inteligente de ponta a ponta. A tendência é que a adoção se torne mais estratégica e sofisticada, com sistemas capazes de prever demandas, identificar oportunidades de mercado e até mesmo negociar termos contratuais.
Enquanto a digitalização aprimora processos, o blockchain está revolucionando a forma como o dinheiro circula no comércio internacional. O tempo de esperar dias por umaliquidação bancária está ficando para trás. O comércio internacional opera agora em tempo
real, e empresas que ainda dependem exclusivamente de bancos tradicionais perdem
agilidade e margem competitiva.
Neste contexto, as stablecoins surgem como protagonistas dessa transformação, afinal são moedas digitais estáveis que unem segurança, liquidez e velocidade, permitindo transações 24 horas por dia, sete dias por semana, sem intermediários ou restrições de horário bancário.
Mais do que meios de pagamento, essas moedas começam a ser usadas como instrumentos de hedge cambial e diversificação patrimonial, oferecendo proteção ágil e de baixo custo contra a volatilidade das moedas locais.
Setores com maior potencial de crescimento no comércio exterior
No Brasil, o agronegócio segue sendo o carro-chefe da balança comercial, mesmo passando por algumas transformações. O setor caminha para um modelo cada vez mais tecnológico e sustentável, em que rastreabilidade, transparência e responsabilidade socioambiental se tornam diferenciais competitivos.
Consumidores globais estão dispostos a pagar mais por produtos que tenham boas práticas ambientais e de bem-estar animal. Tecnologias como blockchain e IoT já permitem essa rastreabilidade ao longo de toda a cadeia produtiva.
Outro setor com enorme potencial é o de energia. Com um dos maiores recursos naturais do mundo em fontes eólicas, solares, hidrelétricas e de biomassa, o Brasil pode não apenas alcançar a autossuficiência, mas se posicionar como um importante exportador estratégico
de energia limpa. Empresas que investirem agora em tecnologia e contratos sustentáveis tendem a liderar esse movimento nas próximas décadas.
Ao mesmo tempo, a geografia do comércio global está se redesenhando. A Europa ainda mantém uma postura mais protecionista, enquanto a Ásia se mostra mais pragmática e aberta à cooperação com a América Latina. Movimentos de reshoring e nearshoring também abrem novas oportunidades, tornando países latino-americanos mais atrativos pela proximidade geográfica, fusos compatíveis e custos competitivos.
Entretanto, ainda há desafios. A logística brasileira continua sendo um dos principais gargalos à competitividade. A forte dependência do modal rodoviário e a lentidão dos avanços em infraestrutura comprometem a agilidade das exportações e importações. A
volatilidade cambial também pressiona margens e exige uma gestão técnica de riscos e, nesse contexto, as stablecoins e contratos inteligentes começam a despontar como alternativas modernas e eficientes para mitigar a exposição.
O cenário global também se mostra cada vez mais instável e interconectado. Guerras tarifárias, tensões geopolíticas e mudanças regulatórias podem alterar cadeias de valor de um dia para o outro. Diante disso, empresas precisam desenvolver agilidade estratégica e
capacidade de adaptação para prosperar em meio à incerteza.
O Brasil tem um enorme potencial para ampliar sua presença global, especialmente em setores como agronegócio modernizado e energia limpa. Mas essas oportunidades só serão conquistadas por quem estiver disposto a abraçar a transformação digital e cultural do
comércio exterior. A próxima década será das empresas que buscam eficiência, inovação e velocidade. No comércio internacional do futuro, o maior risco não é errar, mas sim ficar parado enquanto o mundo muda.
(*) Bruno Perottoni é Diretor de Tesouraria do Grupo Braza.
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