Consumo de pornografia reprograma o cérebro de forma similar ao vício em drogas

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Assistir pornografia pode parecer uma atividade simples e inofensiva, mas pode se tornar um hábito bastante nocivo, causando sintomas parecidos aos do vício em drogas, como dependência, mudanças no comportamento e até mesmo abstinência. Em um estudo feito pela Faculdade Médica de Chengdu, na China, publicado em abril deste ano, cientistas investigaram como o cérebro reage ao consumo de pornô.

Foram estudados 21 adultos estudantes de faculdade, com diferentes níveis de consumo de pornografia e nenhum histório de uso de drogas. Dezesseis deles eram saudáveis, e 5 apresentavam obsessão crônica com o consumo de conteúdo pornográfico. As funções cognitivas e tempo de reação dos participantes foram monitorados antes e depois de assistir um vídeo pornô de 10 minutos, e sua atividade neural, sinais vitais e expressões faciais foram gravados durante o consumo do material.

Como o cérebro responde à pornografia

Segundo os cientistas, os resultados mostraram três mudanças principais no funcionamento do cérebro e do corpo humano:


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  1. Sequestro dos circuitos cerebrais de recompensa;
  2. Resposta emocional semelhante ao uso de drogas;
  3. Pensamentos enevoados.

Como se trata de uma atividade que traz prazer, o ato de assistir pornografia gera, no cérebro dos participantes com consumo crônico, uma resposta similar à das pessoas viciadas em cocaína e opioides (analgésicos pesados como heroina e morfina).

O consumo exagerado de pornografia pode gerar dependência e sintomas semelhantes aos de viciados em drogas como cocaína e heroina (Imagem: Christian Velitchkov/Unsplash)
O consumo exagerado de pornografia pode gerar dependência e sintomas semelhantes aos de viciados em drogas como cocaína e heroina (Imagem: Christian Velitchkov/Unsplash)

A conexão entre as áreas do cérebro responsáveis pela tomada de decisão, autocontrole e antecipação de recompensa aumentou, o que pode resultar no comportamento compulsivo, até mesmo priorizando o consumo de pornô em detrimento de trabalho, socialização ou outras atividades anteriormente preferidas pelo usuário.

A exposição frequente ao conteúdo pornográfico leva à liberação intensa e contínua de dopamina, aumentando a tolerância e dessensibilizando o espectador, que busca conteúdo mais extremo para ter as mesmas sensações de antes. A reação emocional, então, é semelhante à observada no uso de drogas.

Usuários de opioides experimentam calma intensa, euforia, alívio da dor e uma percepção enevoada do mundo. Isso diminui os batimentos cardíacos, algo observado nos usuários frequentes de pornografia. Suas expressões de prazer e felicidade enquanto assistiam ao vídeo de 10 minutos foram parecidas com a euforia relatada pelos usuários de drogas — foram vistos, no entanto, mais sinais de raiva e tristeza, indicando flutuações emocionais maiores.

O mais preocupante segundo os cientistas, no entanto, foi a falta de surpresa e presença de expressões anestesiadas no grupo viciado, como a calma dos usuários de opioides, indicando maior imersão e menor impacto emocional frente a conteúdo explícito. Sintomas de depressão e ansiedade também estavam mais presentes nos usuários crônicos.

A performance dos usuários frequentes de pornografia em tarefas de atenção e precisão foi muito baixa, indicando sintomas cognitivos preocupantes (Imagem: Reprodução/Freepik)
A performance dos usuários frequentes de pornografia em tarefas de atenção e precisão foi muito baixa, indicando sintomas cognitivos preocupantes (Imagem: Reprodução/Freepik)

Além disso, as funções cognitivas foram afetadas significativamente, com o tempo de reação e precisão de resposta em testes de cor e palavras sendo prejudicados tanto antes quanto depois do consumo do vídeo no caso dos usuários frequentes. A atenção e a capacidade de julgamento ficaram afetadas.

Enquanto alguns cientistas acreditem que pode ser perigoso comparar o uso de drogas ao consumo da pornografia, por serem problemas comportamentais diferentes e com consequências diversas, outros apontam que a baixa sensibilidade pode afetar a vida pessoal dos usuários, levando-os a reagir menos em casos de abuso sexual, por exemplo.

Para resolver o problema, há psicoterapias efetivas como a Terapia de Aceitação e Comprometimento, que foca na aceitação de pensamentos e impulsos negativos, mas redirecionando os pensamentos para o que importa no momento presente. Em um estudo de 2016, essa terapia gerou uma redução de 92% no consumo de pornografia após 12 sessões, com 54% dos participantes não consumindo mais o material após o tratamento.

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