Crítica: Superman de Gunn é o mais humano de todos — e isso é ótimo

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O novo Universo Cinematográfico DC (DCU, na sigla em inglês) já começou há alguns começou oficialmente há alguns meses com a animação Comando das Criaturas. Mas não tem como realmente dar o pontapé inicial sem o maior de todos os heróis da DC Comics. Eis que o tão aguardado Superman de James Gunn finalmente está nos cinemas, e o saldo é muito positivo.

Em uma crítica SEM SPOILER, resumo abaixo algumas razões que fazem do mais humano Superman que já apareceu nos cinemas como também o mais fiel aos quadrinhos, e uma ótima maneira de iniciar a nova fase decenauta fora das revistas.

A sinopse oficial da DC Studios sobre novo filme do Homem de Aço descreve que o enredo é sobre “Superman embarcando em uma jornada para reconciliar sua herança kryptoniana com sua criação humana”.


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Na trama já compartilhada por Gunn em posts nas redes sociais e entrevistas das últimas semanas, os DCU vive um momento em que os meta-humanos, seres com poderes especiais, já estão caminhando sobre a Terra há pelo menos 300 anos.

Superman é um filme bem família com o heroísmo puro (Imagem: Reprodução/DC Studios)

No filme, há três décadas um bebê alienígena veio de outro planeta e há três anos ele se revelou ao mundo como o herói que passou a ser conhecido como Superman. E os espectadores iniciam a trama vendo justamente a primeira derrota do kryptoniano que passou a ser adorado pela população por seus atos de coragem e centenas de salvamentos já realizados em sua curta carreira.

Nunca bate, sempre apanha

Uma das coisas que podem surpreender muitos daqueles que não acompanham os quadrinhos do Superman e estão acostumados com aquela versão “divina” idealizada pelo diretor Zack Snyder é o fato do Homem de Aço encarnado por David Corenswet mostrar a caracterização que mais sofre e apanha em todas as adaptações do personagem nos cinemas ou na TV.

Nunca vimos Superman levar tanta surra e estar tão ameaçada por diversas vezes em uma mesma história fora dos quadrinhos. E isso tem tudo a ver com suas histórias originais, pois Clark Kent ama a vida e nunca está disposto a tirá-las, e sim defendê-las.

Portanto, assim como nos quadrinhos, Lex Luthor e sua mente brilhante estuda a quem considera um “inimigo a humanidade” — que, na verdade, é inimigo de seus planos pessoais de conquista de poder —, para encontrar diversas formas de aniquilar Kal-El.

O Lex Luthor de Nicholas Holt é o maior responsável por nos transformar este o Superman mais “frágil” e humano de todos. Holt encarna o lado mais cruel e invejoso do vilão, assim como o mais brilhante; aquele Lex que até pode não saber fazer, “mas sempre sabe que pode fazer”.

Então, os espectadores são bombardeados por diversas situações, para muitos inédita, de o Superman correndo real risco de vida durante o filme. E ao longo da projeção a trama prova que essa vulnerabilidade tem a ver com o fato de o próprio herói ter deixado sua raízes para se tornar um humano.

Nunca se viu um Superman tão ameaçado nos cinemas (Imagem: Reprodução/DC Studios)

Este Superman, assim como nos quadrinhos, sabe que nunca será um de nós. Mas ele ama tanto seu lar adotivo que protege a vida de todos a todo custo — cada vida importa, nem que seja de um castorzinho.

Prepare-se para, além de ver Superman apanhado como nunca, também acompanhá-lo salvando mais vidas do que já se viu em qualquer outro filme.

Efeitos práticos e especiais “bem casados” 

Gunn destaca três coisas em especial para que os telespectadores compreendam bem a esperança que o Superman representa, assim como é o conceito de heroísmo nesse DCU. O primeiro são os feitos do Homem de Aço com a ajuda dos efeitos especiais.

No quesito técnico audiovisual, o filme está redondinho. A crítica que muitos podem manter sobre o traje do Superman é um exemplo de como o diretor conseguiu equilibrar os efeitos práticos com os criados pelo computador. 

Dá para notar que as pessoas sabem que o Superman usa uma roupa, um símbolo, e não algo coladinho que represente seu poder. Isso também humaniza o herói, alinhando-o com o tom do filme; e diminui a imagem sexualizada construída em torno dos super-heróis em caracaterizações anteriores.

Veja bem, o estilo cafona e infantil de sua roupa que nem mesmo mostra músculos se torna imprescindível no momento que Superman aparece literalmente cobrindo as pessoas, inclusive crianças, com seu próprio corpo, para defendê-las de monstros, explosões e prédios caindo.

O temperamento de Guy Gardner é o mesmo dos quadrinhos (Imagem: Reprodução/DC Studios)

Então, o contraste entre o que é real e o que é imaginário fica menor quando notamos a verossimilhança do comportamento, movimentos e atitudes em torno dos efeitos audiovisuais. Isso transforma o filme, com as cores brilhantes, em filme em que as coisas fantásticas que acontecem por ali não entrem em conflito com os aspectos mais “pé no chão”.

Quem o Superman salva?

Um dos maiores erros em tramas de super-heróis, e que geralmente são cometidas nas séries de TV e streaming, é o fato de não sobrarem muitas linhas de narrativa envolvendo as pessoas “comuns”, “gente como a gente”, que são a razão de nossos defensores existirem, certo? Como um enredo vai mostrar por que um personagem é tão especial se não há a visão de quem precisa de sua ajuda?

Para isso, Superman usa uma trama política que mostra o conceito de heroísmo capaz de superar superar fronteiras ou tratados, em prol da defesa da vida. O Homem de Aço é questionado de maneira que nunca havia sido nos cinemas e pelas quais já foi penalizado nos quadrinhos em diversas ocasiões.

E, assim como nos quadrinhos, Superman dissolve quaisquer “desculpas políticas” em torno do salvamento de vidas; da defesa de pessoas em estado de vulnerabilidade que não tem a quem recorrer quando se tornam apenas números em guerras que nunca se envolveram.

Além disso, vemos novamente o Clark Kent em seu lado mais simples, descalço, comendo cereal no banquinho da Fazenda Kent em Smallville, ao lado de seus pais adotivos; e o núcleo humano que brilha bastante ao longo da trama.

Rachel Brosnahan traz os eternos questionamentos e racionalidade de Lois Lane, enquanto Skyler Gisondo caracteriza bem a faceta inconsequente que jovens curiosos como Jimmy Olsen têm frente a um grande mistério. 

O núcleo humano liderado por Lois tem grande destaque no filme (Imagem: Reprodução/DC Studios)

E as duas horas e nove minutos de duração da projeção dedicam bastante tempo de tela para cada ser vivo que precisa da ajuda do Superman, e ele aparece para salvar o dia. Ah, sim, e não podemos nos esquecer de Krypto: o cãozinho rouba a cena com participações muito mais importantes do que qualquer um poderia imaginar.

Integração com o DCU e referências

Ok, se este é o começo do DCU, então é necessário já criar algumas conexões com o universo em construção, certo? Sim, e isso é feito em Superman de maneira muito natural, a começar pela própria trama política em torno dos atos do Homem de Aço.

A organização hierárquica dos Estados Unidos revela a presença de Rick Flag Sr. (Frank Grillo), o pai do Rick Flag de Esquadrão Suicida de Gunn, que, a princípio, confirma-se como canônico na própria projeção.

A participação da Gangue da Justiça traz também diversas informações, sobre a existência da Tropa dos Lanternas Verdes à qual Guy Gardner (Nathan Fillion) faz parte, assim como grandes conglomerados dos quadrinhos, a exemplo da Stagg Industries, localizada em Star City, a cidade protegida pelo Arqueiro Verde.

Temos também a citação de Maxwell Lord (Sean Gunn) como o CEO por trás da Gangue da Justiça, o mesmo que liderou a Liga da Justiça Internacional dos quadrinhos; a tecnologia das Esferas-T do Senhor Incrível (Edi Gathegi) e as presenças da Garota-Gavião (Isabela Merced) e de Metamorfo (Anthony Carrigan), que, por si só, já abrem um enorme leque de exploração de tramas e personagens de seus cantinhos nos quadrinhos originais da DC Comics.

Há também algumas referências conectadas à Engenheira (María Gabriela de Faría) e ao vilão Ultraman, que nos levam às experimentações da LuthorCorp e de insinuações sobre as Terras paralelas outros grupos da DC Comics, como o Stormwatch, uma equipe secreta das Nações Unidas; e o Authority, um time de seres superpoderosos que passa a agir por conta própria acima dos governos — este último com seu próprio filme já confirmado por Gunn.

A Gangue da Justiça é uma amostra do que pode ser a Liga da Justiça no futuro (Imagem: Reprodução/DC Studios)

De quebra, parte dos planos de Lex lembram os de suas encarnações anteriores, assim como Eve (Sara Sampaio) é quase a mesma personagem dos filmes de Christopher Reeve; e o visual de Ultraman lembra demais a face inicial de Apocalypse, o monstro que um dia matou o Superman nos quadrinhos.

Para completar, Krypto nos conecta diretamente com o futuro do próprio DCU.

Superman vale a pena?

Este é o Superman mais fiel aos quadrinhos, aquele que se torna um outsider entre nós por amar os humanos ao ponto de seu maior poder ser justamente sua humanidade — e não as habilidades divinas recebidas com nosso sol amarelo devido à sua herança kryptoniana. 

Ao longo da projeção, vemos um alienígena com poderes de um deus se tornando um símbolo de esperança muito mais próximo de nós; alguém que possamos nos relacionar, mesmo que tenhamos vindo de outro planeta ou soltemos raios laser pelos olhos. 

Krypto é mais importante do que todos imaginam (Imagem: Reprodução/DC Studios)

Se você não gostar deste Superman talvez tenha se iludido com o personagem errado ao longo das últimas décadas, e, definitivamente, não vai gostar de mais nenhum, já que é a versão mais próxima dos quadrinhos.

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