Elson Fernandes de Lima (*)
No Dia da Amazônia, celebrado em 5 de setembro, o mundo volta sua atenção para a maior floresta tropical do planeta, um ativo inestimável na luta contra as mudanças climáticas e na conservação da biodiversidade. No entanto, sua importância vai muito além do papel ecológico. A floresta tropical é um motor econômico vital, um tesouro da bioeconomia nacional que tem o potencial de impulsionar o desenvolvimento não só para a região norte, como para todo o Brasil, principalmente, para as comunidades locais que tem sua sobrevivência garantida pela floresta.
A “economia da floresta” pode gerar valor incalculável graças a uma enorme variedade de produtos que vão muito além da madeira. Sabidamente, esses recursos são fibras, frutos como o açaí, castanhas, sementes, princípios ativos para cosméticos e medicamentos, e todos os serviços ecossistêmicos, que incluem manutenção dos recursos hídricos e dos estoques de carbono, turismo e até pesquisa, além de um potencial para itens ainda por serem “descobertos”. Dessa maneira, manter a floresta em pé torna-se muito mais estratégico do que a sua exploração predatória. Estudos do Banco Mundial, por exemplo, sugerem que a Amazônia pode rentabilizar cerca de US$ 317 bilhões por ano.
Não se trata, portanto, de isolar a área e mantê-la preservada. Muito pelo contrário. Há uma necessidade, cada vez mais urgente, de trilhar um caminho de desenvolvimento alternativo para a Amazônia que promova a inclusão, o uso sustentável e a conservação dos recursos naturais. E já existem muitos bons exemplos nesse sentido, o que falta é escalá-los por meio de políticas públicas, incentivos e novos modelos de negócios.
A Cooperativa Mista da Flona do Tapajós (Coomflona), no Pará, completou 20 anos agora em 2025 e prova que é possível conciliar a conservação da floresta com o desenvolvimento econômico e social. Outro exemplo interessante é do Mil Madeiras, no estado do Amazonas, que atua na mesma área há quase três décadas e já voltou ao seu primeiro talhão certificado – a premissa no manejo florestal responsável é que a colheita de árvores respeita o tempo necessário para que a floresta se recupere. As imagens provam que área se regenerou completamente. Afinal, o manejo responsável possibilita explorar a floresta respeitando seu ciclo natural de vida.
Já para os pequenos produtores de açaí da Amazonbai, no Amapá, o manejo trouxe de volta os peixes, as abelhas e o equilibro ambiental. Hoje, a comunidade coleta palmito na entressafra do açaí, vendem a polpa do chamado “ouro-negro” da Amazônia, construíram uma fábrica, exportam e tem uma consciência ambiental muito maior.
A Amazonbai tem ainda dois impactos verificados, que por reconhecimento dos serviços ecossistêmicos que a manutenção da floresta gera por estar em pé e bem manejado. Nesse caso, a manutenção da biodiversidade e estoque de carbono, lhes garante um patrocínio internacional que ajuda a manter o manejo responsável a todo vapor.
No entanto, mesmo com todo esse claro potencial, a floresta amazônica ainda não recebe o cuidado e a atenção que merece. Um exemplo evidente disso foi a medida provisória de ajuda lançada pelo governo para mitigar o impacto econômico do tarifaço americano que, apesar de ter atingido em cheio o setor florestal, a medida não o citava nominalmente. Outra polêmica foi a exclusão – depois revertida – de alimentos tradicionais da culinária paraense, como açaí e tucupi, do edital que tratava da alimentação durante a realização da COP-30, que será em Bélem.
É paradoxal que, em um momento de tanto debate sobre sustentabilidade, bioeconomia e matérias-primas renováveis, o setor que deveria ser a “menina dos olhos” do país ainda mereça atenção. Se queremos mesmo acabar com o desmatamento, sermos pioneiros da economia verde e termos um papel estratégico em um futuro mais sustentável, precisamos colocar cada vez mais o manejo florestal na discussão como uma forma de conservar a floresta em pé.
E isso precisa ir além dos mercados internacionais, mas preparar o mercado doméstico a procurar recursos sustentáveis e certificados. Pensar na floresta como um todo, biodiversidade, produtos não madeireiros, madeira, serviços ecossistêmicos, é, cada vez mais fundamental.
(*) Elson é Diretor Executivo do FSC Brasil® desde março de 2024, graduado em Ecologia (UNESP) e mestre em Ecologia Aplicada (ESALQ). Possui mais de 15 anos de experiência no setor florestal, tendo atuado em sustentabilidade, ecologia, conservação da biodiversidade e sistemas de informações geográficas.
O post Dia da Amazônia: o maior tesouro ecológico do país segue sem o devido reconhecimento apareceu primeiro em Comex do Brasil.