Não é de hoje que grandes empresas do mundo da tecnologia prometem um futuro revolucionário com óculos inteligentes: basta ver que fim levaram produtos como o Google Glass, que sucumbiu diante do seu próprio design questionável. Mas será que se trata apenas de um produto lançado antes de seu tempo, ou as armações vão eventualmente substituir os celulares?
Em 2021, o Canaltech noticiou que a Apple teria planos de substituir o iPhone, seu principal produto, pelos óculos inteligentes dentro de dez anos. Embora esse prazo ainda não tenha se esgotado, algumas movimentações de mercado já permitem ver se o projeto é viável.
Na época, algumas promessas foram feitas em relação aos futuros óculos, como:
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- A capacidade de substituir as principais funções dos celulares, como a realização de ligações, navegação em redes sociais e consumo de conteúdos em geral;
- Ajudas de navegação avançadas, com elementos projetados na lente para mostrar o caminho;
- Sensores avançados, como acelerômetro e detector de posicionamento, atuando em conjunto com algoritmos;
- Projeção em tempo real, e armação parecida com a dos óculos tradicionais;
- Desempenho aprimorado com o 5G, para navegação rápida e pouca latência.

Algumas dessas promessas estão mais próximas de serem cumpridas com o patamar atual de desenvolvimento dos óculos, mas outras estão relativamente distantes. E os primeiros sinais, pelo menos para a Apple, não se mostraram tão positivos.
Quando lançou o Vision Pro, a Apple imaginou um mundo de computação espacial que aparentemente não caiu no gosto do público. Afinal, agências apontam que seu desempenho de vendas ficou abaixo do esperado pela marca.
É fato que o Vision Pro não faz parte do mesmo mercado dos óculos inteligentes, já que tem um design muito mais pesado e chamativo, além de maior poder de processamento. Mas a falta de relevância do dispositivo, que parou de ser citado pouquíssimo tempo após seu auge, é um alerta.
Desafios dos óculos inteligentes no dia a dia
O mercado de dispositivos vestíveis na região do rosto tem uma característica clara: o design deve ser prioridade em relação aos outros aspectos. De nada adianta ter um produto muito eficiente, se ele fica “esquisito” no rosto, que é a parte mais exposta visualmente de qualquer pessoa.
Algo nesse sentido foi dito até mesmo por um engenheiro do Google em 2022, que apontou se sentir “estúpido” quando usava os óculos inteligentes da empresa.
Isso significa que os óculos precisam ser leves e discretos. E esse é o principal desafio das grandes marcas no momento, já que não é tarefa fácil encaixar uma série de componentes avançados dentro de um espaço tão limitado.

Quando (e se) isso for resolvido de forma consolidada, outro potencial problema a ser enfrentado é o convencimento de que os óculos são alternativas melhores que os celulares. Afinal, eles representariam a inovação mais intrusiva já vista em termos de tecnologias de uso diário.
Basta pensar no que esse tipo de solução reservaria para as rotinas: será que grande parte da população está disposta a receber notificações e outras distrações diretamente no campo visual?
Além disso, quais malefícios esse tipo de distração pode trazer para quem usa? É sequer seguro usar esse tipo de dispositivo na rua em locais movimentados?
E mais: em um mundo onde até as geladeiras estão sujeitas à invasão de anúncios, será que esse tipo de ameaça não ronda a discussão sobre óculos inteligentes? Não soa muito agradável enfrentar uma avalanche de informações literalmente a todo lado que se vê.
São todas questões que, se não resolvidas de forma harmoniosa, vão distanciar os óculos inteligentes das rotinas da população.
O problema da autonomia
Por mais óbvio que seja, para substituir os smartphones, os óculos precisam funcionar sem os smartphones. Esse tipo de desafio ainda não foi superado, por mais bem-intencionadas que tenham sido as tentativas até agora.
Talvez o exemplo mais evidente tenha sido o rápido surgimento de ferramentas de inteligência artificial (IA), lançadas há alguns meses com a proposta de realizar serviços de forma mais eficiente que os celulares. É o caso do Rabbit R1 e do AI Pin.
Ambos fracassaram por diversos motivos, mas um deles chama a atenção: eles nunca funcionaram de forma independente dos celulares. Ou seja, poucos são os incentivos para carregar um acessório + um celular, se o próprio celular já dá conta do recado.
Parece uma situação parecida com a dos óculos: para se popularizarem, é preciso que funcionem com praticidade e eficiência suficientes para deixar o celular na gaveta. O horizonte em relação a essa questão ainda é nebuloso.
Afinal, seria necessário que os óculos tragam componentes semelhantes, como chipset, sistemas de resfriamento, baterias, alto-falantes e outros — tudo em um espaço muito mais limitado, já que o design é quem manda.
Um futuro mais promissor
Embora o caminho para um mundo com menos smartphones e mais óculos inteligentes ainda tenha uma série de dificuldades, não há como negar que as principais marcas estão explorando esse campo. E é justamente esse tipo de esforço que pode tornar o prazo da Apple, de 2031, mais viável.
A própria Maçã já estaria realizando esforços intensivos para lançar seus primeiros óculos inteligentes de formato compacto. Os rumores mais recentes apontam que a empresa já registrou um dispositivo do tipo, com assistência em tempo real por IA, e tradução automática de conversas, entre outros recursos.
Ao mesmo tempo, a Meta mostrou seus avanços mais relevantes com os Meta Glasses Display, que já podem ser comprados atualmente com projeção do WhatsApp na tela e visual discreto, entre outros atributos. Não é suficiente para substituir um celular, mas já mostra um trajeto relativamente promissor.

Diante do que foi previsto pela Apple, já se passaram quatro anos, e ainda faltam seis. Parece um tempo viável para colocar óculos no mercado e torná-los populares — entretanto, colocá-los em um patamar suficiente para substituir os smartphones nesse prazo ainda parece um objetivo distante.
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