E se a vida extraterrestre pudesse sobreviver com raios cósmicos em vez do Sol?

Tecnologia

Segundo análises de alguns cientistas, raios cósmicos poderiam substituir a luz solar como fonte essencial de energia em luas e planetas distantes, mesmo sem atmosfera — a teoria gera o que se chama de “zona radiolítica habitável”, expandindo a possibilidade da vida para os planetas mais gelados e escuros do universo. 

Apesar da grande maioria da vida na Terra tirar sua energia bioquímica do Sol, há exceções: no fundo do mar, onde fontes hidrotermais jogam calor e energia química no oceano, há vida prosperando, bem como nas rochas a muitos quilômetros de profundidade, onde hidrogênio, metano, enxofre e amônia alimentam o metabolismo lento de micróbios extremófilos.

A vida radiolítica 

Os raios cósmicos, resumidamente, são partículas energéticas que se originam longe do Sistema Solar, provavelmente vindas de supernovas. Elas são carregadas, sendo elétrons, prótons ou núcleos atômicos de hélio. Considera-se que eles são radiação ionizante, o que significa que podem causar problemas ao corpo humano. Mas nem toda vida é afetada negativamente por eles.


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Os raios cósmicos atravessam a superfície de planetas e luas sem atmosfera ou campo magnético, potencialmente alimentando reações atômicas que poderia sustentar a vida microbiana (Imagem: OSAKA METROPOLITAN UNI/KYOTO UNI/R. TAKESHIGE)
Os raios cósmicos atravessam a superfície de planetas e luas sem atmosfera ou campo magnético, potencialmente alimentando reações atômicas que poderia sustentar a vida microbiana (Imagem: OSAKA METROPOLITAN UNI/KYOTO UNI/R. TAKESHIGE)

Viajando em velocidades próximas à da luz, os raios cósmicos são energizados o suficiente para penetrar por vários metros da crosta de um planeta sem campo magnético ou atmosfera. Isso significa que eles não conseguem chegar à Terra, mas perfuram planetas como Marte e luas de Saturno e Júpiter, como Titã e Encélado.

Quando atravessam a superfície e chegam até o gelo d’água, a energia do impacto pode quebrar as moléculas de H2O e liberar elétrons no processo, que, por sua vez, podem ser usados por vida simples microbiana como fonte de energia — é o que chamamos de radiólise.

A cientista Dimitra Atri, da Universidade de Nova York, junto a uma equipe, calculou o máximo de biomassa que poderia sobreviver graças ao fluxo de raios cósmicos em Marte e nas luas Europa e Encélado, também estimando quão profundamente seria o habitat de tal vida nos corpos celestes.

A lua saturnina Encélado é a principal candidata a sustentar biomassa advinda de vida microbiana alimentada por raios cósmicos (Imagem: Divulgação/ESA)
A lua saturnina Encélado é a principal candidata a sustentar biomassa advinda de vida microbiana alimentada por raios cósmicos (Imagem: Divulgação/ESA)

Em Encélado, lua com 504 km de diâmetro e um oceano subterrâneo congelado, as chances são as mais promissoras, com biomassa máxima — alimentada por raios cósmicos — de 400 milionésimos de grama por cm³. Pode não parecer muito, mas lembre de que um único micróbio possui massa de um trilionésimo de grama.

Já em Marte, o máximo de biomassa seria de 110 milionésimos de grama por cm³, também contida no permafrost. Isso poderia explicar a detecção de metano na atmosfera do planeta, uma anomalia conhecida há tempos. Na lua Europa, por fim, a dezenas de quilômetros de profundidade, os sais poderiam conter água líquida capaz de gerar uma biomassa de 4,5 bilionésimos de grama por cm³.

Missões futuras, como a Europa Clipper, da NASA, e a JUICE, poderão investigar a possibilidade de vida nesses locais. O conceito expande o que chamamos de zona habitável, que seria capaz de abrigar a vida como a conhecemos na Terra, e põe na mira locais gelados e distantes como Plutão e exoplanetas longínquos, longe de luz solar. A vida, afinal, pode estar prosperando em locais que nunca havíamos imaginado.

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