Em março de 2011, o Japão foi abalado pelo mega-terremoto de Tōhoku, de magnitude 9,1, um dos terremotos mais fortes já registrados. O evento provocou um tsunami devastador. Ele aconteceu próximo à superfície do fundo do mar, contrariando as expectativas de que apenas regiões profundas da falha poderiam gerar eventos dessa magnitude. Diante desse mistério geológico, o Programa Internacional de Descoberta dos Oceanos (IODP) lançou a Expedição 405, também chamada de JTRACK. A missão buscou entender melhor como e por que falhas rasas conseguem produzir terremotos tão poderosos e tsunamis de grandes proporções.
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A bordo do Chikyu, maior navio de perfuração científica do mundo, mais de 60 pesquisadores de diferentes especialidades trabalharam em conjunto entre setembro e dezembro de 2024. O objetivo foi perfurar diretamente a zona de subducção onde a placa do Pacífico mergulha sob a placa de Okhotsk, exatamente o local da ruptura de 2011.
Foram extraídos núcleos de sedimentos a mais de 800 metros abaixo do fundo do mar, atravessando camadas de rochas, minerais e argilas. Esses registros funcionam como arquivos naturais que guardam a memória de milhões de anos de atividade tectônica. Materiais como a esmectita, uma argila escorregadia que reduz o atrito, chamaram a atenção por seu papel potencial na facilidade com que as placas deslizaram durante o terremoto.
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Descobertas e monitoramento em tempo real
Além da coleta de amostras, os cientistas instalaram um observatório de longo prazo dentro da falha. Esse equipamento monitora em tempo real a temperatura e a pressão dos fluidos na região crítica da ruptura. Esses dados ajudarão a identificar sinais sutis de instabilidade, fornecendo pistas sobre como e quando grandes terremotos podem ser desencadeados.
No laboratório, os núcleos retirados foram analisados em detalhes, escaneados por tomografia computadorizada, avaliados quimicamente e comparados com registros de tsunamis passados. Um dos focos da pesquisa é identificar sequências sedimentares que se formam após terremotos e tsunamis, funcionando como “cápsulas do tempo” da atividade sísmica.
Impacto mundial da pesquisa
Embora a missão tenha acontecido na costa do Japão, suas conclusões têm alcance mundial. Outras zonas de subducção, como as do Chile, Indonésia e Alasca, apresentam riscos semelhantes. Se rupturas rasas como a de Tōhoku também puderem ocorrer nesses locais, será necessário atualizar modelos de risco e planos de preparação para tsunamis.
Combinando experimentos de laboratório, modelagem numérica e monitoramento contínuo, os pesquisadores esperam compreender melhor a evolução das falhas sísmicas. O objetivo final é contribuir para a resiliência global frente a desastres naturais.
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VÍDEO | ALERTA DE TERREMOTO
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