
Todo soulslike é um RPG de ação, mas nem todo RPG de ação é um soulslike. Sim, parece um paradoxo, mas o que agora é um gênero muito bem estabelecido pela FromSoftware e o gênio Hidetaka Miyazaki, já foi um subgênero de ARPG. Existem muitas diferenças entre os dois, algo que ficou mais evidente com o passar dos anos e mais títulos lançados. O primeiro mexe profundamente com suas emoções, já o segundo é uma grande aventura bem pontuada com diferentes desdobramentos.
Soulslikes trouxeram não só a dificuldade, como também mundos extremamente decaídos e mórbidos, sem esperança, além de uma narrativa subjetiva, com muita coisa fazendo sentido para alguns jogadores, mas não para a maioria. O gameplay também é bem diferente dos RPGs de ação tradicionais. O ponto central das diferenças entre ambos é o desafio, criando um ciclo de frustração e êxtase sem igual.
A vida não é fácil
No nosso dia a dia, costumamos falar que “a vida não é fácil”, e de fato isso é verdade. Existem inúmeros desafios que precisamos enfrentar em décadas de uma vida, pelo menos, saudável. Vencer cada uma delas traz um senso de realização e superação, independentemente do que seja.
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Jogos soulslike são assim, mas extremamente condensados, já que estamos falando de uma aventura que dura algumas dezenas de horas. Esses jogos são concebidos para serem difíceis em dois pontos principais: gameplay e narrativa. É difícil de jogar e difícil de entender a história que está sendo contada ali.
Em se tratando do primeiro elemento, ele é o que mais frustra qualquer jogador que tenta jogar um título desse gênero. Essa dificuldade está atrelada ao combate (embora a física – cair em precipício – seja algo que derrube muitos jogadores), que exige reflexo, paciência, build adequada e estar na região certa no momento certo.
Os inimigos, normalmente, causam muito dano, e não importa em que parte do jogo você esteja. Alguns deles podem te matar com um tapa. Ou seja, você morre muito em um soulslike. Por isso, é necessário uma perseverança sem igual, já que se trata de uma tentativa após a outra, persistente e pacientemente.
Mas aqui vale mencionar algo importante: muito do desafio desse tipo do jogo está ligado à habilidade do jogador, mas existe inteligência no meio também. Não adianta nada persistir por um caminho que exige um nível mais alto, continuar com uma build quebrada e desbalanceada, armas fracas, não entender o padrão dos inimigos. Afinal, a vida nos ensina que tentar algo repetidas vezes esperando resultados diferentes é pura ignorância. Adapte-se.
Por que é bom sofrer em um soulslike?
Não é masoquismo, longe disso. Na verdade, antes de partirmos para a resposta, que é um tanto simples, vale dizer que nem todos gostam desse sentimento negativo e logo abandonam o jogo soulslike que estão jogando. Aos que que permanecem e persistem, só resta a superação do desafio.
Eu disse que não é masoquismo, sabe o porquê? O prazer não está no sofrimento em si que o jogo traz, junto da frustração de tentar e tentar e não conseguir (ou demorar muito para ter êxito), o prazer está no sentimento que a superação desse desafio traz, simples assim.
A psicologia nos ensina que, mediante a superação desses entraves, batalhas e desafios, existe uma recompensa neurobiológica: o corpo libera endorfinas, que é um analgésico natural, gerando esse sentimento de prazer, ou até mesmo de euforia. É por isso que você vibrou como nunca quando venceu a Malenia em Elden Ring pela primeira vez.
Para jogar um game difícil assim, é preciso dopamina para termos concentração. Depois da superação do desafio, toda a endorfina liberada pode ajudar a manter ainda mais a dopamina, “renovando” o ciclo de atenção, mantendo você ligado para continuar na jornada.
Até mesmo a filosofia nos ensina sobre esse “prazer em sofrer” quando jogamos títulos soulslike. “O que não me mata, me fortalece” é uma conhecida frase do filósofo Friedrich Nietzsche, reforçando que o senso de realização e aumento da autoestima vem depois de vencer um desafio.
Isso sempre existiu nos games
O gênero soulslike não é o primeiro a trazer tudo isso ao gamer. A indústria de videogames existe há mais de 40 anos e nesse tempo todo, muitos games desafiadores foram lançados: Battletoad, Ghost ‘n Goblis, outros mais mainstream como Super Mario Bros. e Super Metroid; alguns indies icônicos e mais modernos como Cuphead e Celeste. Enfim, a lista vai longe.
Porém os soulslike, que começaram com Demon’s Souls em 2008, inovaram o fator “desafio” em RPGs de ação, que até então eram jogados de uma forma muito diferente (vide os primeiros The Witcher, Mass Effect e Dragon Age, além de The Elders Scrolls e Diablo, por exemplo). Eles tinham seu próprio nível de dificuldade, mas não exigiam destreza nos controles como os games do tipo Souls.
O próprio gênero foi mudando com o tempo. No início, com Demons’s Souls, a trilogia Dark Souls e Bloodborne, todos funcionavam de forma muito parecida. Então veio Sekiro, da própria FromSofware, que mudou a dificuldade (mais para uns, menos para outros), além de vários soulslike que foram aparecendo na última década, cada um fazendo do seu próprio jeito.
Se você não está familiarizado com esse tipo de jogo, acredite se quiser, existem outros jogos soulslike mais difíceis como Lies of P, Khazan: The First Berserker, Lords of the Fallen e Nioh. Qualquer que seja, tudo o que foi dito aqui se aplica a todos. E cuidado: se gostou do menos difícil, você vai atrás do mais difícil, é um ciclo vicioso.
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