Ghost of Yōtei: o que é real e o que é ficção no novo jogo do PS5?

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Sequência do aclamado Ghost of Tsushima, lançado em 2020, Ghost of Yotei leva o jogador de volta para o Japão Feudal, mas desta vez ao ano de 1603, na ilha de Hokkaido, para viver uma história de vingança protagonizada pela mercenária Atsu. Os entusiastas da cultura japonesa devem estar se perguntando: o quanto da história do jogo é real?

A verdade, como em grande parte dos casos, é que o jogo apresenta uma grande mistura entre história e ficção. Há muitos elementos reais, como a ambientação e alguns personagens, como o clã Matsumae, o Monte Yōtei, o povo Ainu, a Batalha de Sekigahara e as roupas e armas usadas no game. Muito, no entanto, é uma licença poética para fisgar o jogador, como a própria Atsu, sua história e o rol de inimigos que ela enfrenta.

Vamos destrinchar a historicidade da mais nova aventura samurai do PlayStation 5?


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O que é real em Ghost of Yōtei

Para começar, vamos tratar do que é realmente histórico na aventura samurai, iniciando pelo cenário. Desde o primeiro jogo, a ambientação é fiel à época, com a maioria dos lugares, cidades e paisagens sendo uma recriação bem-feita das ilhas japonesas. As belas vistas, a propósito, foram grande fonte de inspiração: Jason Connell, diretor criativo da franquia, relatou ter se maravilhado com o reflexo do Monte Yōtei no Lago Tōya, definindo o local para o segundo game.

As armas são um aspecto histórico preciso em Ghost of Yotei, como o enorme arco yumi: ponto para o jogo (Imagem: Sucker Punch/Sony Interactive)
As armas são um aspecto histórico preciso em Ghost of Yotei, como o enorme arco yumi: ponto para o jogo (Imagem: Sucker Punch/Sony Interactive)

Em Ghost of Tsushima, historiadores mais puristas reclamaram da presença das katanas, famosas espadas samurai, já que elas ainda não existiam na época da invasão mongol retratada no jogo. Ghost of Yōtei já escapa desse problema ao ser ambientado mais tarde na história: das katanas às espadas mais longas (odachi), lanças (yari) e arcabuzes (tanegashima), as armas realmente existiam e eram usadas na época, bem como a maioria das roupas e armaduras. Ponto para o realismo histórico ao game.

Ponto realista importante é a situação política do Japão: muitos personagens comentam sobre os acontecimentos do sul, com batalhas e rebeliões acontecendo por todo o país. Embora se passe em Ezo (atual ilha de Hokkaido), o jogo cita eventos importantes, com a própria protagonista Atsu afirmando ter participado da importante Batalha de Sekigahara, em outubro de 1600.

A decisiva batalha marcou o fim do Período Sengoku, que abrigou inúmeras guerras civis, rebeliões e movimentações sociais. A vitória de Tokugawa Ieyasu levou ao início do período Edo e sagrou o daimyo como o primeiro xogum: a propósito, para os curiosos, na série televisiva Xógum: A Gloriosa Saga do Japão, o personagem Toranaga é totalmente baseado em Ieyasu.

Os personagens de Ghost of Yōtei estarem lidando com as consequências do final do período Sengoku é um ponto a favor da precisão histórica. A presença dos Ainu também é bastante interessante do ponto de vista histórico: eles são considerados um povo aborígene do Japão e Rússia, tendo língua e cultura bem diferentes das japonesas, incluindo tatuagens, longas barbas e convivência com ursos.

A aparição do povo Ainu em Ghost of Yotei é uma mostra de precisão histórica, já que esses aborígenes habitavam o norte da ilha de Hokkaido na época (Imagem: Sucker Punch/Sony Interactive)
A aparição do povo Ainu em Ghost of Yotei é uma mostra de precisão histórica, já que esses aborígenes habitavam o norte da ilha de Hokkaido na época (Imagem: Sucker Punch/Sony Interactive)

Vivendo em regiões como Hokkaido e ilhas e continente russo, esse povo foi sendo assimilado à força pelos japoneses nos períodos seguintes ao jogo, época em que se limitavam a comercializar e manter uma convivência tácita com o povo Yamato, que viriam a ser considerados os japoneses modernos. Aos interessados, uma obra que trata bem do tema é o anime Golden Kamuy.

O que é ficção em Ghost of Yōtei

Apesar dos acertos, há muito de ficcional em Ghost of Yōtei, a começar pela própria protagonista, Atsu. Não é impossível que uma mercenária tenha existido em algum momento do Japão, mas não há registros de uma filha de ferreiro ganhar fama como onryo e caçar uma família arquirrival pela ilha de Hokkaido.

Os Seis de Yōtei e o próprio Lorde Saito, a propósito, também são invenções para temperar as atividades do jogo. É verdade que existiu um clã japonês chamado Saito, que reinava sobre a província de Mino, no centro-sul do Japão. O problema é que o fundador do clã, Saito Dosan, se envolveu em tramas políticas que levaram à morte de vários de seus filhos.

Saito e os Seis de Yotei são personagens totalmente ficcionais, bem como a própria Atsu, sendo o que temos de ficção no jogo (Imagem: Sucker Punch/Sony Interactive)
Saito e os Seis de Yotei são personagens totalmente ficcionais, bem como a própria Atsu, sendo o que temos de ficção no jogo (Imagem: Sucker Punch/Sony Interactive)

O último sobrevivente, Saito Yoshitatsu, morreu em 1561, e seu filho, Saito Tatsuoki, morreu na Batalha de Tonezawa, em 1573, alguns anos após ter perdido, em batalha, o castelo de seu clã para Oda Nobunaga, figura importante do período Sengoku.

Embora possamos extrapolar a licença poética do jogo e imaginar que algum sobrevivente misterioso do clã possa ter fugido e se abrigado em Hokkaido, o que a história diz é que o clã Saito foi extinto completamente em 1567, tornando a trama completamente ficcional.

Pelo lado bom, é mais fácil termos surpresas ao jogar Ghost of Yōtei, já que a jornada de vingança de Atsu é totalmente nova — e, talvez para a sorte dos gamers, não tem como sofrer spoilers vindos de historiadores.

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