Golpistas usam IA para conseguir reembolso de lojas online

Tecnologia
Resumo
  • Golpistas usam IA para criar imagens e vídeos falsos para fraudar reembolsos em plataformas de comércio online chinesas.
  • A AppZen identificou que 14% dos documentos fraudulentos em setembro de 2025 indicavam uso de IA, enquanto a Ramp bloqueou mais de US$ 1 milhão em notas suspeitas nos últimos 90 dias.
  • O uso de IA para adulterar imagens em pedidos de reembolso cresceu mais de 15% desde o início de 2025, segundo a Forter.

A disseminação de ferramentas de inteligência artificial capazes de gerar imagens e vídeos realistas começa a produzir efeitos colaterais claros no comércio eletrônico. Plataformas que dependem de provas visuais para validar pedidos de reembolso enfrentam um novo tipo de fraude: comprovantes fabricados digitalmente para simular produtos danificados ou defeituosos.

Anteriormente, tomamos ciência de que trabalhadores nos Estados Unidos estavam usando IA enviar notas e comprovantes falsos. Segundo a AppZen, cerca de 14% dos documentos fraudulentos analisados em setembro de 2025 tinham indícios de uso de IA, um salto expressivo em relação ao ano anterior. A fintech Ramp afirma ter bloqueado mais de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,6 milhões) em notas suspeitas apenas nos últimos 90 dias.

Como a IA está sendo usada para fraudar reembolsos

Já na China, relatos recentes indicam que consumidores passaram a enviar imagens e vídeos gerados ou alterados por IA para justificar pedidos de devolução. Em plataformas como RedNote e Douyin, vendedores e atendentes publicaram exemplos de supostos danos impossíveis de ocorrer na prática, como xícaras de cerâmica “rasgadas” em camadas ou etiquetas de envio com caracteres sem sentido.

Um dos casos que mais repercutiu envolveu a venda de caranguejos vivos. A comerciante Gao Jing recebeu vídeos que mostravam animais supostamente mortos na entrega, mas notou inconsistências. “Minha família cria caranguejos há mais de 30 anos. Nunca vimos um caranguejo morto com as pernas apontadas para cima”, disse a vendedora, em um vídeo que postou no Douyin. A fraude foi confirmada pelas autoridades, e o comprador acabou detido por oito dias.

Quais são os riscos para consumidores e plataformas?

O problema não se limita à China. A empresa americana Forter estima que o uso de imagens adulteradas por IA em pedidos de reembolso cresceu mais de 15% desde o início do ano. “Essa tendência começou em meados de 2024, mas acelerou no último ano, à medida que as ferramentas de geração de imagens se tornaram amplamente acessíveis e fáceis de usar”, disse Michael Reitblat, CEO e cofundador da empresa.

Segundo ele, nem é necessário que a fraude seja perfeita. Equipes de atendimento e revisão muitas vezes não têm tempo para analisar cada imagem em detalhe. Em alguns casos, grupos organizados chegaram a enviar mais de US$ 1 milhão (R$ 5,6 milhões) em pedidos fraudulentos em janelas curtas de tempo, usando IPs rotativos para dificultar a identificação.

Como resposta, alguns vendedores passaram a usar inteligência artificial para analisar imagens suspeitas. Ainda assim, as soluções são limitadas, e as plataformas nem sempre aceitam essas análises como prova. O risco, alertam especialistas, é que o endurecimento das políticas de devolução acabe prejudicando consumidores legítimos.

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