
O estúdio italiano Santa Regione virou assunto na última semana ao ter seu jogo de terror Horses banido no Steam sem justificativa, segundo os desenvolvedores.
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Logo em seguida, um dia antes do lançamento oficial do título em 2 de dezembro, a Epic Games Store também decidiu pelo banimento do jogo, alegando que não permite a distribuição de jogos AO (Adults Only, ou ‘Apenas para Adultos’).
Mas, afinal, o que levou Horses ao banimento em ambas as lojas? Entenda o porquê de várias pessoas começarem a se preocupar sobre este caso e como isso pode afetar desenvolvedores indie no geral.
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Do que se trata o jogo Horses?
Para contexto, Horses é um jogo de terror com um estilo bizarro que coloca os jogadores em um emprego de verão de duas semanas em uma fazenda isolada. Lá, você deve cuidar de cavalos, mas descobre que, na verdade, são seres humanos nus com cabeças de equinos grudadas no pescoço. Sua proposta estranha coincide com o objetivo do estúdio de impactar os jogadores.

No entanto, a Santa Regione acabou ficando de mãos atadas ao ser comunicada de que seu jogo não poderia ser publicado no Steam, sem motivos aparentes. Isso não só significaria que o estúdio seria restringido a cerca de 75% do mercado de PCs (um duro golpe para qualquer estúdio indie) como também poderia ser o motivo para o fechamento da desenvolvedora.
Por que o Steam baniu Horses?
Toda essa história começou em 2023, quando a Santa Regione teria enviado Horses para a aprovação no Steam em uma versão inacabada para a criação da página da loja. Neste primeiro momento, a Valve rejeitou o pedido e afirmou de forma branda que não iria distribuir um jogo que retratava “conduta sexual envolvendo um menor”, apesar de a plataforma, segundo o estúdio, não apontar quais partes infringiam essas diretrizes.
Os desenvolvedores da Santa Regione acreditam que o trecho em questão pode ter sido relacionado a uma cena em que uma criança (filha de um personagem) andava nos ombros de um dos cavalos bizarros. O estúdio então teria alterado a cena, substituindo a criança por uma mulher de 20 anos de idade, tanto para evitar o problema quanto para adaptar melhor a história.
Mesmo com as alterações feitas, a Valve se recusou a reavaliar o jogo diversas vezes sem explicar o motivo exato, tomando a decisão definitiva de barrar Horses na loja.
Em entrevista ao GameDeveloper, o cofundador da Santa Regione, Pietro Righi Riva, afirmou se sentir “enganado e traído” pela Valve após 14 anos de negócios no Steam, esperando minimamente uma cortesia profissional para resolver o problema e não um “não, só porque sim”.

O estúdio investiu US$ 100 mil no desenvolvimento de Horses, sendo metade deste dinheiro vindo de amigos e doações. Sem o Steam, a Santa Regione pode fechar as portas em seis meses se não recuperar os custos de produção, o que pode ser improvável por não estar na maior plataforma de jogos para PC do mundo.
A equipe descreveu a situação como “assustadora, humilhante e condescendente”. O time estava com medo real de retaliação e escrutínio por criticarem publicamente e acusar a Valve de monopólio. No entanto, a história foi diferente. Em comunicado, a desenvolvedora italiana revelou ter recebido um “apoio esmagador” após compartilhar a situação, incluindo o anúncio público do GOG (plataforma de jogos da CD Projekt) de que promoveria e apoiaria Horses.
Epic Games também baniu Horses de última hora
Com lançamento previsto para 2 de dezembro de 2025 globalmente, Horses já estava certo para chegar nas plataformas do GOG, Itch.io, Humble Store e Epic Games Store. Porém, esta última comunicou a Santa Regione que não distribuiria o jogo na plataforma apenas um dia antes de ser lançado.
A Epic Games argumentou que Horses violava sua política por conter comportamento sexual explícito, abuso e maus-tratos a animais. Além disso, a dona de Fortnite alegou que o jogo teria sido classificado como Adults Only (AO) na IARC (Coalizão Internacional de Classificação Etária), o que o impossibilitaria de ser distribuído na Epic Games Store — que detém de 7% a 8% de mercado.
A Santa Regione refutou as alegações, afirmando que a nudez é pixelizada, não há sexo explícito e que Horses critica a violência em vez de promovê-la. Também apontaram que o jogo foi classificado como Mature (+18) e não AO, como a loja havia afirmado. Apesar de o estúdio apelar da decisão, a Epic Games negou o pedido 12h depois, sem explicações detalhadas.
Futuro de Horses segue incerto
No fim das contas, Horses foi lançado no GOG e Itch.io por R$ 20 (ou US$ 4,99). Apesar de ter sido banido das duas maiores plataformas de jogos no PC, o título acabou atraindo visibilidade da comunidade e da mídia, que criticaram a censura das grandes lojas. Horses também chegou ao Humble Store antes de ser retirado do ar na quarta-feira (3).

“Apoie o desenvolvedor; o Steam e a Epic são uns bebezões”, afirmou um usuário em uma análise de Horses no GOG. “Embora algumas das cenas no jogo sejam macabras, o jogo no geral não é ruim, se você consegue aguentar o Buffalo Bill de O Silêncio dos Inocentes. Tenho certeza de que você consegue sobreviver a isso”.
Apesar da comoção em torno do jogo, os desenvolvedores relataram suas frustrações com o banimento no Steam. “É assustador, humilhante e condescendente ouvir ‘não, só porque sim’ de entidades que detêm poder absoluto sobre sua estabilidade financeira”, contou o cofundador da Santa Regione. “Em um monopólio de fato, decisões opacas como essas podem determinar rapidamente a sobrevivência de um pequeno estúdio”, afirmou a empresa em comunicado.
O que dizem o Steam e a Epic?
Para esclarecer a situação, o IGN entrou em contato com o diretor de comunicações da Epic Games, Jake Jones, que declarou: “Estabelecemos diretrizes claras para o conteúdo que pode ser distribuído na Epic Games Store e encontramos violações dessas diretrizes durante nossa extensa análise.”
A Valve também emitiu um comunicado sobre o assunto ressaltando que “deu feedback ao desenvolvedor sobre o motivo pelo qual não poderíamos lançar o jogo no Steam, consistente com nossas regras e diretrizes de integração”, e que teria cogitado uma reavaliação “extensivamente”, mas a equipe interna de análise de conteúdo acabou decidindo ir contra a decisão.
Steam é um monopólio?
Muitos jogadores e desenvolvedores têm se preocupado com a condição do Steam como um monopólio. Neste ano, a plataforma liderou uma verdadeira guerra contra jogos com conteúdo adulto (NSFW) para atender à demanda de processadores de pagamento, assim como a plataforma de jogos independentes Itch.io.

Uma pesquisa contratada pela plataforma de distribuição Rokky, que envolveu 306 executivos da indústria de países como Reino Unido e Estados Unidos, apontou que 72% dos entrevistados acreditam que a loja está em uma posição de monopólio.
O Steam segue como a plataforma favorita dos jogadores graças a seus excelentes recursos, preços que vão ficando mais baratos do que jogos em consoles e por sua biblioteca que abraça tanto AAA quanto títulos indie. Essa liderança de mercado, no entanto, pode ser um risco se houver mudanças no modelo de negócios da empresa, reestruturações e até mesmo troca de executivos, deixando tanto os jogadores como os desenvolvedores à mercê de apenas uma empresa no mercado de jogos para PC.
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