
O uso da inteligência artificial (IA) em processos de captura e edição de fotos e vídeos tem sido um dos principais focos nos lançamentos de novos celulares, e, em alguns casos, as modificações nas imagens mudam completamente seu sentido.
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Essa nova realidade tem o potencial de mudar a forma com que narrativas são criadas, mas especialistas apontam que isso não é necessariamente algo ruim.
De acordo com Luca Pucci, fotógrafo de Moda e Publicidade, a distinção entre a captura e a realidade não é uma exclusividade dos tempos de IA:
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“A fotografia nasce mentirosa. Ela nunca foi um instrumento de mostrar a realidade pura. Sempre foi uma escolha — um enquadramento, uma percepção do artista, uma seleção do que fica dentro e do que fica fora.”

Por isso, ele aponta que a IA chega como uma forma de democratizar a técnica, com ajustes úteis em parâmetros como exposição e enquadramento de imagem. Mesmo assim, não se perde a autenticidade do ato de fotografar.
Mesmo assim, Pucci ressalta que a facilitação na manipulação das imagens tende a aumentar a desconfiança nas imagens. “Vamos nos perguntar: qual porcentagem disso é real?”, aponta ele.
As fotos estão ficando todas “iguais”?
Nos últimos anos, erros em fotografias tem resultados bem menos definitivos. Afinal, já existem recursos que servem para apagar elementos indesejados do enquadramento (como o Magic Eraser), melhorar o foco de imagens borradas (Photo Unblur), colocar sorrisos nas fotos em grupo, e mais.
No entanto, isso não significa que todas as fotos tendem a tomar uma mesma direção.
Pucci destaca o papel do letramento visual como algo que pode ajudar bastante na composição das fotos. Regras básicas dos cursos de fotografia, como regra dos terços e proporção áurea, ainda podem fazer a diferença entre um resultado bonito e algo “padronizado”.
“As pessoas olham pouco para imagens já criadas. É importante ver pintura, artes diversas, fotografia clássica, museus. Ver filmes de diferentes culturas, publicidade asiática, arquitetura alemã, design gráfico. Tudo isso cria repertório.”
IA nas câmeras: presente ou futuro?
Uma pesquisa feita pela Samsung mostra que, embora as necessidades de edição sejam resolvidas pela IA com grande eficiência, boa parte do público ainda não tem o hábito de usar as ferramentas com frequência.
O levantamento, feito na Europa, teve os seguintes resultados:
- 86% das pessoas notaram elementos de fundo que gostariam de remover;
- No entanto, apenas 26% dos entrevistados já usaram alguma ferramenta de IA;
- 57% das pessoas apontam que tirar fotos “as retiram do momento em que estão vivendo”.


Os resultados sugerem que há uma discrepância entre o uso da IA na fotografia amadora e em ambientes profissionais. Afinal, existem estúdios de produção audiovisual completamente baseados nessas ferramentas de edição avançada.
O fotógrafo Carlos Sales é diretor de uma dessas empresas. Seu trabalho criativo, que inclui a criação de campanhas publicitárias para grandes companhias, é totalmente baseado em IA.
Ele afirma que o processo criativo tem semelhanças em relação ao período “pré-IA”, ainda que agora ele demanda formatos novos:
“Hoje, ainda não existe ‘jogar a ferramenta lá e sair perfeito’. Nunca tive um trabalho em IA aprovado pelo cliente sem intervenção manual. É possível gerar boas imagens, mas ainda requer refinamento. Mesmo assim, houve um salto gigantesco — conteúdos que antes custariam milhões podem ser criadas por uma pessoa sozinha.”
Modelos de IA como eixos de padronização
Os próprios modelos de IA, muitas vezes, são os responsáveis por criar imagens homogêneas entre si, o que pode se refletir na edição ou na geração de conteúdos totalmente novos.
Sales cita o exemplo de uma tendência recente, em que pessoas geraram imagens abraçadas a seus ídolos. Por meio de um prompt que muita gente copiou, todos os resultados ficaram iguais, com a mesma cortina branca de fundo e moldura de Polaroid, por exemplo.

Segundo ele, essa padronização é mais evidente quando o uso da IA é superficial.
Os conteúdos utilizados como fontes para essa geração ainda refletem diretamente os resultados e a real variação das imagens.
Nesse sentido, modelos mais recentes já têm a preocupação de representar pessoas diferentes. Sales aponta que o Midjourney, por exemplo, era muito “americanizado”, ou europeu, tudo dentro de um padrão definido.
“Para obter algo mais diverso, precisava trabalhar mais, ajustar mais. Aqui no Brasil, especialmente, era difícil: quando mencionávamos ‘Brasil’, ele entregava uma estética ruim, parecida com banco de imagens barato”
Ele aponta que isso levou à necessidade de usar outros países de referência no prompt, como as Filipinas e a Colômbia, já que “traziam pessoas visualmente mais próximas da estética brasileira”.
Mesmo assim, ele aponta que os modelos mais recentes já têm mais variedade e menos jeito de IA: “Estamos chegando num ponto em que não dá mais para distinguir”, complementa.
O futuro da fotografia com IA
O futuro da IA na criação e edição de fotos ainda é difícil de prever em detalhes.
Sales aponta que suas tarefas e rotinas criativas atuais não devem ser as mesmas em questão de alguns meses. Trata-se apenas de uma revisão cronológica em relação ao que foi visto em um passado recente:
“A primeira campanha que fiz não faz mais sentido no processo que uso hoje. As ferramentas mudam muito rápido: Atualmente, já geramos imagens em 4K, embalagens perfeitamente legíveis, pessoas realistas. De um dia para o outro os modelos evoluem.”
Ele não acredita que daqui a cinco anos o “hype” seja apenas produtoras de IA — afinal, as grandes empresas já estão adotando IA no fluxo de trabalho de forma “natural”.
O fotógrafo ainda destaca que, por conta disso, o futuro ainda demanda diversas discussões de caráter ético em relação ao uso da IA: “A IA é poderosa e perigosa, e por isso este é o momento de discutir limites, regular e entender os impactos”, completa ele.
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