Lembra da Players? Empresa ajudou a popularizar o PlayStation no Brasil

Tecnologia

Vamos viajar no tempo e retornar para o fim dos anos 1990 e início dos anos 2000. Você jogava no seu PlayStation, que exigia a presença de acessórios para aumentar a sua diversão: um controle, um memory card, uma capa para os discos que ajudava a organizar melhor entre vários outros.

Porém, você chegava em lojas ou camelôs e dificilmente encontrava os produtos originais. Afinal de contas, o próprio console demorou a ser vendido oficialmente no Brasil, quem dirá ter os demais itens e com preços adequados ao nosso mercado? Eles vinham de forma importada e com valores altos.

Nesta época não era difícil bater o olho nos produtos à venda e se deparar com a marca Players. O icônico “P” com uma bola de basquete no meio era reconhecida de longe e representou a única opção disponível para muitos dos jogadores. 


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Queria jogar com seus amigos e tinha 1 controle só? Eles resolviam isso a preços acessíveis. Acabou os slots do seu memory card? Não tinha problema, existiam vários modelos disponíveis para venda. Isso sem falar em cabos e adaptadores — caso os seus parassem de funcionar.

Imagem do DualShock
Só tinha um controle no seu PS1? A Players resolvia isso sem altos custos (Imagem: Divulgação/Sony)

A presença da Players no Brasil não ajudou apenas os jogadores em momento de necessidade, mas também foi uma das principais responsáveis pela popularização do PlayStation em nosso país.

Para celebrar a sua misteriosa e gloriosa história, o Canaltech ativou a máquina do tempo para te contar mais detalhes de como a Players democratizou o acesso dos gamers em uma época em que tudo custava tão caro quanto os dias atuais.

O que era a Players?

A Players surgiu de uma forma misteriosa nos anos 1990, com diversos acessórios subitamente surgindo nas prateleiras das lojas de videogames de todo o Brasil. É de conhecimento geral que ela era uma companhia nacional, mas não há qualquer informação oficial sobre seus responsáveis. 

Imagem da bandeira do Brasil
A Players surgiu subitamente no mercado brasileiro nos anos 1990 (Imagem: Reprodução/Pixabay)

De forma não-oficial, no entanto, algumas especulações giram em torno de sua história. A principal é que a companhia, na verdade, pertencia a outro grupo empresarial — que supostamente já tinha acesso à indústria gaming e redes de distribuição em todo o Brasil. 

E de onde surgiu a Players então, oras? Com a chegada do PlayStation, executivos viram uma oportunidade que não podia ser perdida no mercado. Rumores apontam que eles compravam os periféricos genéricos de países como a China e Taiwan para revender em nosso país.

Para não atrelar sua marca original à qualidade e não gerar problemas com as leis de licenciamento, foi adotada a nova “persona” para distribuir controles, memory cards e demais acessórios no Brasil — com presença em lojas de departamento, especializadas e supermercados. 

O que isso quer dizer? Simples: a Players teria sido uma marca de fachada. A suposição é de que existia um grupo maior por trás dela, com uma coordenação ímpar para vender os produtos pelo Brasil. E, de fato, não há registros, CNPJ ou qualquer informação sobre os donos dela no país. 

Como funcionava todo o “esquema”?

A companhia responsável pela Players executava o trabalho de importar diversos periféricos de países asiáticos e os rebatizava com a marca para vendê-los no Brasil. Seu objetivo era alcançar o público através com preços baixos e acessíveis, com foco no custo-benefício.

Ou seja, apesar deles serem clones da versão original do PlayStation, nenhum deles era replicado e produzido em massa no território nacional. Não era como na época do Phantom System, no qual a Gradiente fabricava a cópia e distribuía por todo o país. 

Imagem do Phantom System
A contrário do Phantom System, os controles da Players não eram fabricados no Brasil (Imagem: Reprodução/Gradiente)

Sabe a estratégia de ter o menor custo possível e vender o máximo que puder para ter lucros? Era exatamente isso que a Players fazia no Brasil. Eles compravam em massa, com preços minúsculos, adaptavam para a sua marca e vendiam por valores cujo lucro era rápido e garantido.

É válido lembrar que o acesso ao DualShock original, memory card e demais acessórios custava muito caro. Por eles não serem vendidos oficialmente por aqui, acabavam entrando através do mercado cinza e com preços baseados na cotação do dólar. Ou seja, comprar o oficial estava fora de questão para a esmagadora maioria dos jogadores. 

Porém, todo “esquema” tem uma falha e o da Players era a qualidade de seus produtos. A marca tinha uma recepção mista no mercado e comprar um dos acessórios era como participar de uma loteria: alguns davam sorte e tinham seu funcionamento perfeito. Outros, longe disso.

Estes eram conhecidos como o “controle do amigo”. Sempre que um amigo ou familiar ia jogar em sua casa, era cultura de que o dono do videogame ficaria com o acessório original enquanto a outra pessoa estaria à mercê da sorte com a réplica.

Imagem de crianças jogando videogame
O controle da Players era sempre do amigo ou daquele primo chato que aparecia para jogar (Imagem: Pexels/Tima Miroshnichenko)

Não era incomum encontrar controles da Players com botões duros, analógicos que ficavam moles rapidamente ou tinham a precisão de um gigante ao manusear uma agulha de costura. Isso sem falar nos memory cards, que rotineiramente corrompiam os dados salvos e tinham durabilidade questionável. 

Uma grande facilidade 

Mesmo com problemas, os produtos da Players se tornaram extremamente populares. Seu preço baixo compensava as adversidades, já que não era tão difícil assim comprar outro produto se o seu apresentasse quaisquer problemas com o passar do tempo.

Sem ele, milhares de pessoas sequer conseguiriam jogar com seus amigos ou conseguiriam salvar seu progresso nos games do PS1. Isso sem falar em casos de que seus controles e outros acessórios oficiais tivessem defeitos, com uma substituição veloz e acessível existente por perto. 

Ou seja, graças ao seu trabalho no Brasil que muitos puderam jogar. Pode não ter sido com a melhor qualidade possível, claro, mas ainda assim a Players deu acesso a grande parte da população. No fim das contas, era isso que realmente importava para quem não tinha tanto dinheiro na época.

Seu catálogo também era amplo e cobria as necessidades dos jogadores ao redor do país. Ela vendia controles translúcidos, memory cards (inclusive de alta capacidade, com até 120 blocos), multitap para todos curtirem os jogos de futebol ou de luta, volantes e pedais e as famosas pistolas Light Guns. 

Além disso, vale mencionar que eles estiveram presentes em outros países, com uma grande expansão para os demais territórios da América Latina — com os diversos produtos sendo vendidos em lojas da Argentina, Chile, Paraguai e outros países que estão ao nosso redor. 

A prensa de discos da Players

Fora os acessórios, a Players trabalhava com uma prensa própria de discos de jogos. E não era “qualquer coisa”, mas sim algumas das melhores mídias disponíveis no mercado — que perdiam, provavelmente, só para as originais da própria Sony.

Além dos CDs de alta qualidade, também se viam capas com materiais diferenciados e até caixas com um padrão elevado. Tudo isso indica que não era qualquer empresa de “fundo de quintal” que operava toda essa ação, mas sim alguma gigante do mercado nos anos 1990 e 2000.

Imagem dos jogos de PS1
Gravar, prensar imagens e trazer capas de qualidade não era uma operação simples no Brasil (Imagem: Reprodução/Enjoei)

Ao Canaltech, Fabio Santana — que trabalhou como editor nas revistas Gamers e Super Dicas PlayStation no início dos anos 2000 — contou como o mercado enxergava a atuação da Players no Brasil.

“Como editor da revista Gamers na época, a gente muitas vezes via a popularidade dos jogos pelo movimento das barraquinhas de jogos piratas. Nessa época, os CDs de PS1 da Players eram considerados os de maior qualidade, por serem prensados e terem boa impressão no próprio disco. Era difícil alguém ter jogos originais de PlayStation na coleção na época”, relata Fabio.

Ele também explica como a presença dos jogos da companhia expandiram a visão dos jogadores para além dos jogos mainstream. Desta forma, muitos passaram a conhecer experiências marcantes que não teriam dado oportunidade se não fosse pelo fácil acesso.

“As barraquinhas traziam todo tipo de jogo, sem muito critério, já que provavelmente o custo era baixo e a diversidade do acervo era um atrativo. Desse modo, os jogadores brasileiros tiveram contato com exclusividades do Japão e gêneros de nicho como visual novels”, aponta o ex-editor da revista Gamers.

Segundo Fabio Santana, este amplo catálogo também era um facilitador para as revistas explorarem jogos diferentes daqueles que circulavam no Brasil, naquela época.

“Na revista Gamers, nós publicávamos traduções de menus e enredos de diversos jogos japoneses porque eram alguns dos nossos favoritos, e nesse processo éramos uma porta de entrada para essa cultura de jogos orientais”, revela,

Porém, vale se atentar que não era possível fazer o que a Players fazia com equipamentos domésticos. Sua produção em massa, que tinha escala nacional e por toda a América Latina, rivalizava com outras fabricantes como a DVS e mostravam um trabalho técnico improvável demais de ter sido feito por amadores. 

Isto corrobora o fato abordado de outras questões, como o alto desempenho de sua estrutura de distribuição e a sua presença ampla no mercado. Eles não eram vistos apenas em camelôs e lojas de esquina, mas estavam presentes em grandes redes e com vendedores especializados em todo o país, de Norte a Sul.

O fim da Players

A Players ganhou muita força no PlayStation e ainda estava presente na vida dos jogadores na geração do PS2. No entanto, alguns percalços entraram em seu caminho e podem ter ajudado a encerrar a sua trajetória de sucesso.

Imagem do PlayStation 2
A Players durou até a geração do PS2 (Imagem: Divulgação/Sony)

Um deles é a presença de várias outras marcas de acessórios de baixo custo, que passaram a canibalizar o próprio mercado. A Clone, por exemplo, tomou muitas vendas dela na época. Isso sem mencionar que a marca era clonada por outros que usavam o nome igual para enganar o público.

O fatídico fim chegou na geração PS3 e Xbox 360. Com a presença da tecnologia wireless e recursos como o Sixaxis (do DualShock 3), trazer cópias e revendê-las tornou os custos da operação mais altos do que os lucros que retornaram para seus cofres. Ou seja, não compensava mais.

Em paralelo, Sony, Microsoft e Nintendo passaram a participar ativamente no mercado brasileiro. Seus videogames, jogos e acessórios já eram distribuídos de forma oficial e com preços adequados, o que criou um distanciamento maior da Players com o seu público-alvo. 

Mesmo sendo uma das maiores responsáveis pela democratização do acesso a jogos e acessórios, a formalização do mercado a impediu de seguir adiante. A natureza ilegal de parte do seu trabalho não conseguiu se segurar nem mesmo ao Xbox 360, que manteve o “espírito” do PS2 vivo. 

Suas atividades se encerraram, curiosamente, em paralelo ao que foi visto o fim do Greenleaf Group — responsável por distribuir jogos de PC para o Brasil, com operação nacional para trabalhar com games como Dark Colony, Grand Prix 2, Max Payne e outros.

Esta companhia atuava no Brasil desde os anos 1980 e também era responsável por importações e pelas revistas CD Expert (e suas variantes). Lembra-se delas? Aquelas que vinham com um disco de jogo incluso em todas as edições e eram amadas por quem tinha um PC em casa. 

Imagem da CD Expert
A CD Expert era publicada pela Greenleaf Group (Imagem: Reprodução/Heliel Games)

Ou seja, os gamers viram 2 das principais bases sumirem de forma misteriosa. Tanto o Greenleaf Group quanto a Players não possuem registros de seus proprietários e encerraram suas operações quase que simultaneamente, o que abalou o mercado de jogos eletrônicos do Brasil. 

Ambas tinham uma estrutura de fazer inveja na concorrência e expandir seu próprio negócio para além dos jogadores brasileiros e a preços acessíveis. Porém, as duas viram o seu modelo de negócio se tornar obsoleto.

No fim das contas, seus produtos hoje são vistos como relíquias para colecionadores e têm um grande valor entre o público. Mesmo em uma era sem memory cards e necessidade de tantos acessórios, o nome Players remete à uma época que os fãs se recordam com muito carinho. 

Dos anos 1990 até o fim da geração PlayStation 2, a companhia foi um dos maiores pilares da indústria gaming no Brasil. E não apenas deixou saudades, como um grande sentimento de nostalgia pelas memórias de jogar com nossos amigos e se divertir sem ter gastar muito dinheiro. 

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