Desde que a Visão Geral criada por IA do Google foi lançada em 2024, o mercado de conteúdo online passou por uma revolução que se estende até hoje. Nesta semana, foi descoberto que a big tech testa um novo recurso de resumo por inteligência artificial no Google Discover — ferramenta que sugere conteúdos personalizados aos usuários.
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O recurso, ainda limitado a poucas pessoas, remonta à ferramenta do Google que fornece respostas por inteligência artificial nos resultados de busca e resume notícias em até três linhas, exibidas ao lado dos logotipos das fontes.
Por outro lado, a novidade traz uma certa preocupação ao considerar que, desde o lançamento das Visões Gerais Criadas por IA, a taxa de cliques nas pesquisas teve uma redução média de 34,5%, segundo uma análise da Ahrefs, plataforma especializada em mecanismos de busca e mídia paga.
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Na avaliação feita em abril, a agência associou a queda ao número de cliques no primeiro link exibido nas pesquisas quando a Visão Geral é ativada, em comparação com os resultados sem o uso da IA.
Para a análise, foram examinadas 300 mil buscas feitas em março de 2024, quando a funcionalidade ainda não estava ativa, e comparadas com o mesmo período de 2025.
Ameaça a sites dependentes de tráfego orgânico
Diante desse cenário, o diretor de marketing de conteúdo da Ahrefs, Ryan Law, prevê um cenário ainda mais pessimista para a taxa de cliques nos próximos meses — visão que é compartilhada por especialistas ouvidos pelo Canaltech.
É o caso do jornalista e consultor em inteligência artificial Pedro Burgos ao avaliar que cada nova implementação de IA nas ferramentas do Google representa uma ameaça aos produtores de conteúdo. “Acredito que não vai parar por aí”, afirma.
Ele justifica a previsão com base na queda de audiência de grandes veículos de mídia: só em abril de 2025, o número total de visitas a grandes portais brasileiros caiu quase pela metade somando 4,2 bilhões de visitas, contra 7,9 bilhões no mesmo mês de 2022, segundo dados da Comscore.
“A impressão que tenho é que não há nenhum indicativo de que os produtores de conteúdo conseguirão reverter essa situação e voltar a ter um tráfego razoável vindo do Google”, analisa Burgos.
O diretor executivo do Núcleo Jornalismo, Sérgio Spagnuolo, por sua vez, ressalta que o Discover é uma importante fonte de tráfego para veículos, especialmente os de maior porte. Ele acredita que, quando lançado, o recurso de resumo por IA terá impacto significativo no mercado de conteúdo online.
“O Google promoveu o Discover como uma forma de as organizações seguirem seus parâmetros e diretrizes. As empresas investem em SEO, contratam profissionais para produzir conteúdo otimizado — e então, de repente, a plataforma insere uma funcionalidade que anula ou, no mínimo, reduz bastante esse esforço”, critica.
Ao Canaltech, o Google aponta que a nova função de IA está sendo testada apenas nos Estados Unidos, sem prazo para chegar ao Brasil, e ressaltou que a ferramenta “está tornando mais fácil para elas [pessoas] decidirem quais páginas desejam visitar”.
“O Discover ajuda as pessoas a descobrir novos conteúdos e se manterem atualizadas sobre seus interesses, e estamos tornando mais fácil para elas decidirem quais páginas desejam visitar”, disse a empresa. “O recurso com inteligência artificial exibirá uma breve prévia de alguns tópicos de estilo de vida em alta, como entretenimento ou esportes, para ajudar as pessoas a se conectarem com o conteúdo da web e se manterem atualizadas.”
Métricas aprisionaram veículos de notícia
O também jornalista e pesquisador da Université du Québec à Montréal, Marcel Hartmann, avalia que, por serem guiadas por indicadores criados por grandes empresas de tecnologia, como o Google, a tendência que foi estabelecida foi a criação de conteúdo que servisse ao público no momento, às vezes sem a qualidade e, em muita delas, sem a audiência desejada.
“As plataformas de busca desenvolveram uma relação com o jornalismo que muitas vezes é um pouco tóxica, no sentido de que elas fornecem informações que são muito importantes para o jornalismo, mas, ao mesmo tempo, de certa forma, aprisionam o mercado de conteúdo na própria linguagem que as plataformas criam. Então, por exemplo, com esses novos mecanismos que tem agora de resumo de notícia, de indicação, isso acaba encapsulando a audiência em assuntos em alta, sem a devida relevância, na maioria das vezes”, aponta Hartmann.
IA vs audiência: há escapatória?
Burgos também é pessimista em relação à recuperação de veículos de comunicação, frente a ampla implementação de inteligência artificial nos mecanismos de buscas. Ele aponta que uma saída é a mudança de modelos de negócios dentro do mercado para “casar” com a IA que chegou para ficar.
“Eu acho que um caminho, considerando que as pessoas vão usar as informações dos veículos em outros lugares, por exemplo, nos chatbots, é achar uma forma de ter um acordo com essas empresas para ter uma melhor remuneração, como o Spotify faz”, analisa Burgos.
Ele explica que, como os streamings de música pagam aos cantores pelos acessos de ouvintes em suas músicas, é possível que uma nova estratégia de negócio consiga valorizar notícias de qualidade feita por pequenos e grandes veículos, dentro das próprias plataformas de IA.
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