Meteoriticas | Grupo formado por mulheres quer preservar meteoritos no Brasil

Tecnologia

O Brasil é um dos países mais ricos em quedas de meteoritos, mas também um dos que mais sofre com a perda desses materiais para colecionadores estrangeiros. Em meio a esse cenário, surgiu o grupo As Meteoriticas, formado exclusivamente por mulheres cientistas que viajam pelo interior do país em busca de meteoritos para estudo, preservação e divulgação científica.

O grupo é composto por pesquisadoras de diferentes áreas: a geóloga Maria Elizabeth Zucolotto, curadora da coleção de meteoritos do Museu Nacional (UFRJ), a astroquímica Amanda Tosi, a astrônoma Diana Paula Andrade e a geóloga Elisa Rocha.

Unidas pela paixão pelo cosmos e pela necessidade de preservar o patrimônio científico brasileiro, elas percorrem regiões remotas, muitas vezes em condições adversas, para resgatar fragmentos de rochas espaciais e evitar que sejam vendidos no mercado paralelo.


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Além da busca em campo, o grupo atua fortemente em escolas e comunidades rurais, levando conhecimento sobre a origem dos meteoritos e seu valor para a ciência. Essa proximidade com a população local ajuda a conscientizar moradores de que os meteoritos não são apenas objetos de venda, mas verdadeiros tesouros científicos.

(Imagem: Reprodução/Meteoriticas/Flickr)

Como nasceu o grupo

Em entrevista ao Canaltech, Maria Elizabeth Zucolotto conta como surgiu a ideia de criar um grupo feminino dedicado aos meteoritos:

Eu sempre me aventurava no campo em busca de meteoritos que trazia para serem analisados pela Ananda Tosi. Ela pedia para acompanhá-me em uma destas viagens. Depois, a Diana também se interessou. Em 2017, conseguimos recursos da UFRJ para viajar juntas até Palmas de Monte Alto, onde elas se aventuraram pela primeira vez. Fugimos de vaca, pulamos cercas, passamos o dia inteiro no mato. Voltaram maravilhadas e percebi que havia trabalhado com várias mulheres na meteoritica. Assim, nos chamamos de Meteoriticas.

Entre os momentos inesquecíveis vividos pelo grupo, Zucolotto destaca que o achado do primeiro meteorito foi de um aluno da Diana, em Santa Filomena, cidade de Pernambuco.

“Lá encontramos mais alguns fragmentos e vivemos uma verdadeira corrida em busca das rochas espaciais”, relembra Maria Elizabeth.

A necessidade de uma legislação

No Brasil, ainda não há uma lei clara sobre a posse e preservação de meteoritos. Para Maria Elizabeth, essa lacuna é preocupante:

Venho solicitando ajuda faz anos. Já levei o tema para a SAB e para a SBG, mas sempre me diziam que era preciso interessar um deputado. Isso só aconteceu após a queda de Santa Filomena e a repercussão na mídia.

Uma regulamentação poderia equilibrar os interesses de colecionadores, cientistas e comunidades, evitando a perda de material científico único.

Mulheres na ciência

Outro ponto forte do grupo é a representatividade feminina em áreas ainda dominadas por homens, como geologia, astronomia e química.

“Eu vivi uma época em que já havia muitas mulheres na faculdade, mas na hora do emprego senti rejeição. Também enfrentei os desafios da maternidade. Hoje seguimos lutando, não só eu, mas todas as mulheres que enfrentam jornadas duplas e triplas”, afirma a geóloga.

Para as meninas que sonham em seguir carreira científica, a mensagem das Meteoriticas é uma só.

“Seguirem seus sonhos, não desistir nunca. A perseverança sempre vence”, disse.

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