Você consegue se imaginar movendo seus principais heróis e heroínas em um grande tabuleiro, levando-os aos seus oponentes para tomar a vitória pelas próprias mãos? Cada passo conta, cada movimento precisa ser calculado, assim como um xadrez. Qualquer erro pode e vai comprometer toda sua estratégia.
E sabe o que isso se diferencia do RPG tático (TRPG)? Quase nada, o que faz muitos de nós sermos inclinados ao gênero mesmo antes de traçar este paralelo. Muitas vezes em um cenário de guerra, como visto em Final Fantasy e Fire Emblem, você posicionará suas tropas da melhor forma para defender seus ideais ou interesses em um complexo ambiente.
E não é apenas destas grandes experiências que o gênero vive. Você vê o TRPG nestas franquias, mas elas existem de forma muito mais ampla em Disgaea, Tactics Ogre e várias outras. Até franquias colossais, alheias a eles, já deram atenção para a categoria, levando em consideração a existência de Marvel’s Midnight Suns e Pokémon Conquest nesta mistura.
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Neste artigo vamos te mostrar do que se trata a confusão entre o RPG tático e suas similaridades com os SRPGs, além de falar como a expansão do gênero influenciou diversas outras experiências — como é o caso de Baldur’s Gate 3, que possui alguns elementos do gênero. Agora que movi meu personagem (escritor), poderá mover o seu (leitor) para o que virá a seguir.

Dos Wargames de tabuleiro aos pixels: O surgimento dos RPGs táticos
Quem já se aventurou pelos jogos de tabuleiro sabe como funcionam as mecânicas. Todos têm sua vez para mover as peças, fazer o possível dentro das suas mecânicas para ultrapassar os adversários e tomar vantagem do campo — seja de guerra ou qualquer outro.
Somado ao que já era visto em Dungeons & Dragons, onde temos combates formados de grades que determinam movimento, alcance de ataque e posicionamento, notamos a verdadeira espinha dorsal dos RPGs táticos dentro dos videogames. A diferença é que você não tem um tabuleiro físico, mas sim digital.
Um dos pioneiros que utilizaram esta estrutura foi a franquia Ultima, com Ultima III: Exodus e títulos como Tunnels of Doom. Enquanto isso, no Japão eram vistos passos largos com Fire Emblem – exclusivo das plataformas Nintendo. Estes foram os pilares principais do gênero, que apenas cresceu a partir disso.

Eles se aproveitaram das limitações de hardware para trazer combates em turnos ao invés de tempo real, o que gerou bastante similaridades com o que já era visto nos JRPGs. Com Fire Emblem, muitos viram a fórmula ideal para absorver o que já existia nestes moldes para trazer um RPG tático da melhor forma ao público, agregando elementos e ampliando eles a seu modo.
O que um RPG tático precisa ter?
Com alguns elementos já estabelecidos, os RPGs táticos precisam de uma certa estrutura para se aproximar de seus fãs. Ainda que alguns fujam de certos formatos, todos eles têm pontos de semelhança em algum aspecto. Confira eles abaixo:
Campo de batalha
Todo TRPG possui um “tabuleiro”, um campo onde ocorre o confronto (seja em moldes quadriculados, hexagonais ou outros). Ele tem uma quantidade de blocos pelos quais os personagens podem se mover, além de contar com obstáculos — como construções, torres e outros.
Alguns deles podem até carregar interações. Arqueiros posicionados em uma torre podem disparar flechas à uma distância maior. Outros, atrás de locais estratégicos, podem não ser atingidos por projéteis. Cada um usa estes elementos como bem entender, buscando a vitória certa.
O terreno também pode causar impacto, como uma lentidão maior ao atravessar um riacho ou subir uma ladeira. Em jogos clássicos como Final Fantasy Tactics e na franquia Tactics Ogre este elemento é crucial na movimentação e pode definir uma vitória ou a sua queda.

Batalhas em turnos
Assim como nos JRPGs, cada um tem o seu turno para agir dentro das partidas. A partir disso, temos diversos sistemas que ampliam este conceito. Em títulos como Fire Emblem, por exemplo, na sua vez é possível mover todas as suas unidades e montar a forma como estabelecerá cada uma delas.
Em outros, como Final Fantasy Tactics, você tem um turno para cada personagem — baseado na velocidade individual deles. Ou seja, a sua estratégia tem de ser redefinida a cada etapa, o que pode dificultar um pouco mais a sua ação conforme a batalha avança.
Este aspecto está sofrendo algumas alterações com combates mais próximos em tempo real — como é o caso visto por Unicorn Overlord e The DioField Chronicle. Você continua vendo a estratégia, posicionamento e outras funções, mas cada herói/heroína se move à sua própria velocidade para os seus objetivos (com a possibilidade de coleta de itens e outros no trajeto).

O posicionamento
Tenho certeza que a questão de qual a sua posição favorita não foi feita através dos RPGs táticos, mas ela faz toda a diferença dentro destes games. Porém, vamos com calma, já que estamos falando sobre a melhor estratégia para ataque e defesa dentro das disputas.
Como envolve um campo onde seu personagem normalmente está “imóvel”, você pode atacar pelos flancos (áreas laterais) ou pela traseira, para causar mais danos ou engatilhar combos diferentes com aliados.
O mesmo serve para a defesa, com a proteção das costas de unidades mais frágeis ou até mesmo a montagem de um “cerco” de defesa — imagine poder mover heróis o suficiente para ficar ao redor de sua principal personagem de cura, não a deixando ser atingida por ataques externos enquanto ela recupera o HP de todos ao redor.

A morte permanente
Chamado também de “permadeath”, ele é exatamente o que seu nome indica: quando um personagem morre, ele literalmente não participará de mais nenhum combate ou terá interações dentro da experiência. Ele é apagado da sua equipe e você que lute para cobrir a sua ausência.
O formato é uma “marca registrada” da franquia Fire Emblem, que mostra o quanto o campo de batalha pode ser perigoso e cruel. Isso eleva ainda mais cada decisão que é feita no RPG tático, já que existem unidades que você terá maior apreço ou se apoia mais dentro dos conflitos.

Progressão dos personagens
É o que conecta os TRPGs com os JRPGs, com uma verdadeira evolução de suas tropas. Com batalhas, você vê seus personagens subirem de nível, obterem novas técnicas, quem sabe uma árvore de habilidades também? O céu é o limite e alguns podem ter um deles ou todos.
O mesmo vale para as classes (jobs), que mudam toda a estratégia dos jogadores. Você pode fazer com que um guerreiro “se transforme” em um cavaleiro — para que ele utilize um cavalo e tenha um campo de movimentação muito maior do que antes. Ou talvez um personagem de cura virar um clérigo, que também pode usar magia ofensiva de luz.
Em alguns casos há, inclusive, escolhas fora do combate. Seja para se casar com um parceiro/parceira (que pode desenvolver uma habilidade conjunta em combate), fazer parcerias para expandir suas opções de unidades (um reino com magos vermelhos, por exemplo) e várias outras mecânicas que podem ser apresentadas dentro destes jogos.

Diferença entre RPG tático, RPG de estratégia e os cRPG
Existe uma zona cinzenta muito grande entre os RPGs táticos, os RPGs de estratégia e os cRPG. Embora eles conversem, cada um possui elementos distintos e que funcionam com um certo propósito dentro de cada jogo.
Um RPG tático, por exemplo, é centrado no controle de um personagem ou de uma tropa pequena — tudo em “menor escala”. Não apenas a trama é centrada em um personagem só, como o controle unitário pode te dar um maior controle sobre cada situação.
Geralmente vemos nestes embates entre dois personagens ou duas tropas reduzidas, com cada um agindo conforme sua classe e stats (com armas, atributos e outras particularidades agindo). Assim, temos títulos como XCOM, Fire Emblem: Three Houses, Triangle Strategy, Unicorn Overlord e outros.
Já nos RPGs de estratégia, o TRPG está incluso, mas ele não é tudo o que o game oferece. Geralmente eles trazem um gerenciamento em larga escala, permitindo que conquistem territórios, organizem recursos e seu exército e tenha um escopo maior.

Em termos mais simples, o RPG tático é apenas uma batalha. O SRPG é uma guerra completa. Dentre os jogos que se destacam nesta categoria, podemos notar experiências como Valkyria Chronicles, Langrisser, Brigandine: The Legend of Runersia e outros que envolvem algo grandioso.
Por fim, temos os RPGs de computador (cRPG) que podem usar o combate tático por turnos, mas que na verdade são jogos com um foco completamente diferente dos TRPGs. Eles têm um destaque muito maior para a narrativa, um sistema denso de escolhas e de consequências.
Em grau de comparação, eles estão muito mais próximos dos WRPGs do que dos RPGs táticos. Neste aspecto, podemos contar com títulos da Larian Studios como o premiado Baldur’s Gate 3 e Divinity: Original Sin 2, que usam elementos do gênero, mas que expandem para um formato diferenciado.
RPGs táticos essenciais
Se você quer adentrar neste universo hoje ou quer conhecer algum jogo diferente dos que está acostumado, nós alinhamos algumas experiências que não pode perder dentro dos TRPGs.
RPGs táticos para iniciantes
3. Fire Emblem: Three Houses (Nintendo Switch)
Com uma forte narrativa e personagens extremamente carismáticos, Fire Emblem: Three Houses é a opção ideal para quem deseja dar seus primeiros passos sem sofrer muito no processo.
Não, caros leitores, ele não é um RPG tático “fácil”. Porém, aqui você encontrará sistemas acessíveis e até a opção de reverter o tempo para corrigir algumas falhas (leia como “trazer seu querido e bem-treinado personagem de volta dos mortos”).
2. Mario vs. Rabbids Kingdom Battle (Nintendo Switch)
O crossover da Nintendo com a Ubisoft chegou ao público como o TRPG Mario vs. Rabbids Kingdom Battle, que traz uma introdução divertida ao gênero e com os personagens mais amados dos videogames.
Ainda que traga todas as mecânicas táticas como a conhecemos, eles apresentam uma versão simplificada e bem mais leve para que todos se habituem ao formato. Como porta de entrada, essa é uma das melhores (principalmente para crianças).
1. Final Fantasy Tactics: The War of the Lions (PSP/Mobile)
Um clássico nunca pode ser dispensado, não é mesmo? Se você deseja uma trama mais madura e a experiência absoluta entre os RPGs táticos, Final Fantasy Tactics: The War of the Lions pode ser a pedida ideal para você.
De todos, este game é um dos mais acessíveis por permitir que o público se aventure até em seu próprio smartphone. Isso sem falar na sua line-up de personagens épicos, sua trilha sonora marcante e um combate digno do melhor que a Square Enix já providenciou dentro do gênero.

RPGs táticos para os veteranos
3. Tactics Ogre: Reborn (multiplataforma)
Este é considerado por muitos fãs o “auge” dos TRPGs, sendo lançado inicialmente no PS1 e chegando de forma remasterizada em todas as demais plataformas atualmente. E você ousaria perder a chance de jogar este?
Com sistemas extremamente complexos e uma trama política que mergulha na ambição dos seres humanos, Tactics Ogre: Reborn é o título definitivo para quem deseja explorar mais do gênero e se sentir desafiado.
2. XCOM 2: War of the Chosen (multiplataforma)
Saindo um pouco das sugestões japonesas, XCOM 2: War of the Chosen mostra muito bem como um estúdio ocidental também consegue lidar bem com um RPG tático sem perder a classe e o brilho do gênero.
Seja pela sua alta dificuldade, pela constante sensação de tensão e uma camada de estratégia global, a experiência criada pela Firaxis é o desafio perfeito para quem busca algo maior dentro da categoria.

1. Unicorn Overlord (PS4, PS5, Xbox Series e Nintendo Switch)
Criado pela Vanillaware e pela Atlus, Unicorn Overlord é um dos RPGs táticos modernos mais queridos por quem busca inovações e elementos clássicos dentro da mesma experiência,
Cortando os turnos para movimentos em tempo real, introduzindo a formação de pequenos esquadrões e trazendo uma história digna dos melhores títulos que já viu no PS1, ele mistura elementos e traz uma briga intensa para quem quer ir além do que já viu nos TRPGs antes.
Grande carinho com os RPGs táticos
Muito amado por uma parcela do público, os RPGs táticos valorizam quem trabalha com um pensamento frio e cauteloso — com ações similares às de um jogo de xadrez, esperando apenas pelas movimentações corretas para vencer determinados desafios.
Isso sem abrir mão de narrativas poderosas, de um grande apego aos seus personagens (principalmente aqueles que acompanha desde o começo de sua trajetória) e de um planejamento que pode beirar ao visto pelos maiores líderes da História.
Tudo isso jogando ao seu próprio ritmo, com o planejamento milimetricamente calculado para tirar o melhor desempenho de suas unidades. Este gênero acaba por ressoar ainda mais com pessoas que buscam experiências menos frenéticas, com desafios mais voltados ao cérebro do que o simples esmagar de botões do seu controle ou teclado.
Ele esteve adormecido por algum tempo, sendo mantido sob aparelhos através da franquia Fire Emblem — que nunca abandonou seus fãs desde seus primórdios. Porém, com o investimento da Square Enix (com Triangle Strategy) e da Atlus (com Unicorn Overlord), as coisas estão prestes a mudar.

Também não é possível não dar créditos a Baldur’s Gate 3, cuja popularidade elevou ainda mais os padrões e apresentou os elementos dos TRPGs pela primeira vez ao grande público. Se vemos uma quantidade maior de curiosos e pessoas ávidas por mais títulos similares nos últimos anos, foi graças a ele.
O seu futuro é promissor, já que diversos estúdios continuam de olho nos RPGs táticos e trazem grandes jogos neste estilo — sejam eles grandes ou até mesmo desenvolvedores independentes. Basta ver que a Dotemu lançou nos últimos anos Metal Slug Tactics, que também expande o público e traz uma visão mais divertida para o gênero.
E você, já teve a sua mente desafiada por algum game da categoria? Ou pretende começar agora a investir em um TRPGs, para conhecer mais daquilo que se tornou um verdadeiro fenômeno entre os jogadores? Compartilhe este texto e conte para nós o que enxerga destas experiências.
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