A saga Guerra Civil (2006) abalou em definitivo o mundo das HQs da Marvel, com um conflito no qual os seus dois lados — Capitão América e Homem de Ferro — não estavam certos, nem errados. Enquanto um defendia a liberdade de ação dos super-heróis, o outro acreditava que o caminho era registrar todos e agir conforme as ordens da S.H.I.E.L.D. e dos governantes.
Além de trazer este conflito que colocava ambos como o vilão do outro lado, vimos um grande debate sobre como a humanidade lidava com dilemas morais e como isso nos molda. Este evento envolveu tanto os chamados “heróis de rua” quanto aqueles que estão no “nível Vingadores”, fazendo com que múltiplos pontos de vista fossem expostos.
Aclamado por milhões, Guerra Civil se tornou um sucesso instantâneo e foi adaptado para o Universo Cinematográfico Marvel (MCU) como o terceiro filme do Capitão América em 2016. Porém, com finais diferentes, os debates se dividiram e mostraram que os filmes e séries seguiriam um caminho distinto do visto nas HQs.
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O fim da Guerra Civil nas HQs
Nas histórias em quadrinhos, o evento Guerra Civil antecede um período sombrio dentro do universo da editora. O que veio depois trouxe um lado mais obscuro de alguns super-heróis, revelando aspectos que deixaram as suas ações — seja antes ou depois — mais questionáveis.

Durante uma intensa batalha em Nova York, onde milhões de pessoas viram os super-heróis da Marvel saindo no soco um com o outro, o Capitão América chega muito perto de matar o Homem de Ferro. No entanto, ao ver o olhar da população, ele recua e admite que ele está errado. Que todos estão. Então, ele deixa Tony Stark de lado e pede que as forças da lei o prendam.
Ao assumir todos os crimes que cometeu, ele pede para que seus aliados sejam poupados e continuem livres — seja para assinar o registro ou para deixarem o manto de lado, aposentando seus títulos como super-heróis. Assim, segue para a prisão enquanto Tony Stark é nomeado como o novo diretor da S.H.I.E.L.D. Novas formações dos Vingadores surgem e as coisas se acalmam um pouco.
O que ninguém esperava é que Steve Rogers terminaria a história de Guerra Civil levando um tiro, morrendo ainda dentro do presídio pelas mãos de Sharon Carter (seu cérebro estava sendo controlado pelo Doutor Faustus).
E este foi apenas o início, já que Tony Stark também admitiu seu erro durante o funeral do amigo, mas continuou perseguindo os opositores e prendendo cada um deles — o que gerou bastante controvérsia, algo que ele já está até acostumado.

A partir deste ponto, a história das HQs da Marvel muda bastante. Bucky assume o escudo e o manto do Capitão América, enquanto os super-heróis encaram outros tipos de ameaça: como a Invasão Secreta (2008) e o Reinado Sombrio (2008) — que lidava com o fim da S.H.I.E.L.D., a decaída de Tony Stark e o início da H.A.M.M.E.R. e dos Vingadores Sombrios.
Um fim mais light para o MCU
Obviamente que todas estas ideias não serviriam para Capitão América: Guerra Civil (2016). Não se podia matar o protagonista do filme, principalmente por Thanos estar a caminho e os Vingadores precisarem do herói neste embate. Tampouco poderiam colocar ambos os personagens em situações questionáveis — já que eles são ícones dentro e fora das telas.
Na trama, um incidente causado pelos Vingadores acende o debate sobre o registro de super-heróis e sua necessidade após a queda de Sokóvia, a falta de controle sobre a Feiticeira Escarlate e outros combates em que o grupo participou. Isso leva à criação da lei e à assinatura do tratado, que vira uma grande tragédia pelas mãos de Bucky, o Soldado Invernal.
Porém, na cerimônia vista em Capitão América: Guerra Civil, o rei de Wakanda estava presente e foi morto na explosão. Isso leva o Pantera Negra e o Homem de Ferro a caçarem Bucky, que está sendo protegido pelo Capitão América e pelo Falcão. A verdade é que o antigo aliado de Steve Rogers não foi responsável pelo incidente, mas sim o Barão Zemo.
Após a introdução do Homem-Aranha no MCU, um grande embate no aeroporto que deixou o Máquina de Combate debilitado e muita lavação de roupa-suja, Capitão América: Guerra Civil leva os heróis para uma antiga base da Hydra. Lá, eles descobrem uma verdade ainda mais obscura: foi Bucky, como Soldado Invernal, que matou Howard e Maria Stark — pais de Tony.

Ainda que o Homem de Ferro estivesse tentando ser compreensivo e ouvir o lado do Capitão América, saber disso o fez seguir apenas uma diretriz: eliminar o algoz de seus familiares. Para Tony, não importa se ele estava sendo controlado pela Hydra, se foi contratado por outras pessoas nem nada. Ele sabia quem era o assassino e se vingaria ali, a qualquer custo.
Capitão América tenta defender o amigo, mas acaba entrando em conflito direto contra o Homem de Ferro. No fim, Steve Rogers e seus aliados conseguem fugir (sem mortes) e Tony Stark não está preocupado em seguir os criminosos — inclusive recebe um telefone para entrar em contato com o antigo aliado, quando precisasse.
Por que o fim é tão diferente?
Ainda que o “poder do roteiro” fale mais alto, há algumas justificativas importantes para que o final de Guerra Civil ser diferente do visto no terceiro filme do Capitão América. Em relação à morte do super-herói, é claro que eles queriam mantê-lo vivo para enfrentar Thanos em Vingadores: Guerra Infinita (2018).

Com Guerra Infinita e Vingadores Ultimato (2019) sendo os últimos filmes de Robert Downey Jr. e Chris Evans nos papéis de Homem de Ferro e Capitão América, respectivamente, eles teriam de permanecer vivos ao menos até o grande embate final. Ou seja, Tony Stark não podia cair na escuridão e nem Steve Rogers poderia estar morto para vivenciarem este momento.
Claro que a HQ segue um caminho mais sombrio, mas isso não poderia ocorrer do mesmo modo no MCU para que a história deles se encerrasse de forma satisfatória. Isso permitiu que os dois tentassem compensar seus erros e trabalhassem juntos ao menos mais uma vez — o que muitos fãs concordam que foi um caminho mais “heróico”.
Se fosse adaptar corretamente e matassem o Capitão América ao fim de seu terceiro filme no MCU, isso geraria diversas consequências. Uma delas seria que veríamos Vingadores: Guerra Infinita sem a sua presença. Outra que ele talvez retornasse apenas em Ultimato, através das viagens no tempo. Até seria possível trazer uma versão sua do passado, como foi visto com Gamora, mas os fãs estariam satisfeitos?

Inclusive, já vimos que o Capitão América do passado não poderia levantar o Mjolnir e trazer uma das cenas mais épicas do embate contra Thanos. Isso sem levar em consideração o peso das cenas do super-herói com o Homem de Ferro ou do momento em que seu rádio apita e ele ouve a voz de Falcão com o icônico “Cap, consegue me ouvir? À sua esquerda”. Ou seja, não teríamos estes momentos emblemáticos.
Ainda que muitos fãs quisessem uma adaptação mais fiel (o que também exigiria que Guerra Civil fosse adaptada em uma Fase 5 ou 6 do MCU, mas isso é outro debate), seguir um caminho sombrio não se encaixava ao tom do que a Marvel Studios queria para a sua história naquele momento — algo que só passou a ser visto após os eventos de Vingadores Ultimato.
Talvez tenha sido para a melhor, já que Guerra Infinita e Ultimato definiram um grande momento para os fãs do MCU. Porém, é por estas razões que o fim do terceiro longa-metragem do Capitão América e a Guerra Civil das HQs seguiram caminhos tão distintos e têm tantas diferenças.
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