Na última segunda-feira (25), cientistas da Guangzhou Medical University, na China, anunciaram o transplante de um pulmão geneticamente modificado de porco para um paciente humano com morte cerebral. O órgão funcionou por nove dias, marcando um passo histórico no campo da xenotransplantação (técnica que utiliza órgãos de animais para suprir a escassez de doadores humanos). O estudo foi publicado na prestigiada revista Nature Medicine.
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A xenotransplantação tem sido estudada como alternativa para a crise global de doação de órgãos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), apenas cerca de 10% da demanda por transplantes é atendida em todo o mundo. Os porcos, por terem órgãos de tamanho e funcionamento semelhantes aos humanos, vêm sendo geneticamente modificados para reduzir as chances de rejeição.
Até hoje, já foram realizados transplantes de coração, rins e fígado de porco em humanos, com resultados variados. Porém, os pulmões representam um desafio ainda maior, já que estão em contato direto com o ambiente externo a cada respiração, o que os torna extremamente vulneráveis a infecções e processos inflamatórios.
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Primeiro pulmão de porco em humano

O receptor do primeiro pulmão de porco foi um homem de 39 anos, declarado com morte cerebral após um derrame hemorrágico. Sua família autorizou o procedimento. O pulmão doado veio de um porco da raça Bama, especialmente modificado com seis edições genéticas por CRISPR para reduzir respostas imunológicas e inflamatórias.
A cirurgia consistiu em remover o pulmão esquerdo humano e substituí-lo pelo órgão suíno, conectando-o a vias aéreas, artérias e veias. O paciente recebeu uma combinação de medicamentos imunossupressores, ajustados conforme a resposta do organismo.
Rejeição do órgão
Nos primeiros momentos, o transplante não apresentou sinais de rejeição hiperaguda, uma reação imediata e intensa do sistema imunológico. No entanto, já nas primeiras 24 horas foi observada acumulação de líquido.
Com o passar dos dias, o pulmão passou a sofrer danos causados por anticorpos, levando à chamada disfunção primária do enxerto, complicação comum em transplantes de pulmão. Apesar disso, o órgão permaneceu funcional por 216 horas (nove dias), até que a equipe encerrou o experimento.
Enquanto as técnicas de transplantes com órgãos de porco avançam, outras alternativas também estão sendo estudadas. Algumas equipes trabalham em “humanizar” órgãos de animais por meio de células-tronco, enquanto outras buscam recuperar pulmões humanos inicialmente rejeitados para transplante.
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