Review Arc Raiders | Um jogo em que a comunidade é realmente o foco

Tecnologia

A inovação é algo difícil nos jogos atualmente. Tantas ideias já foram exploradas e o máximo que vemos é uma pitada de tempero extra que o desenvolvedor conseguiu colocar naquele determinado gênero. Shooters com foco em extração e PvPvE não são novidades. The Division, Hunt: Showdown, Escape from Tarkov e Helldivers são alguns nomes consolidados. Mas, em 2025, eis que surge Arc Raiders, uma surpresa.

Lançado no dia 30 de outubro, entre os dois colossos dos shooters online, Battlefield 6 e Call of Duty: Black Ops 7, Arc Raiders chegou tímido, mas não demorou muito para chamar muito a atenção dos jogadores. Eu joguei os três títulos, e já adianto que o game da Embark Studios, o mesmo de The Finals, merece o sucesso que tem tido.

Prós

  • Leve nos PCs, mesmo feito na UE5
  • Sistema de crafting e menus simplificado
  • Sem enrolação de modos no multiplayer
  • Chat de aproximação adiciona muito mais diversão
  • Premissa geral é simples, mas ela funciona muito bem

Contras

  • Jogador que te trai depois de formar uma aliança (brincadeira, claro)

Arc Raiders é nostálgico

Costumo dizer que a história de jogos com foco em multiplayer é a mais rasa possível. No caso de BF6 e BO7, temos uma campanha detalhando mais um pouco o motivo pelo qual a guerra do multiplayer acontece, algo que não temos em Arc Raiders, mas isso é o de menos.


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Se olharmos para as conquistas dos jogadores do game da EA, somente 22% terminaram a primeira missão, e olha que estamos falando de uma campanha que até diverte. Porém a situação é muito pior quando olhamos para o novo Call of Duty, já que, pasmem, somente 0,4% avançaram pela primeira missão, muito também por conta da campanha desastrosa do game. Ou seja, Arc Raiders não precisa disso.

Mesmo assim, a construção de mundo do jogo é bastante interessante. Tudo é muito nostálgico, já que o game traz aquela temática de futuro pelos olhos de quem vivia nas décadas passadas. E como alguém dos anos 1980, senti uma certa nostalgia por conta dos filmes daquela época, que tentava imaginar o futuro que vivemos hoje.

Existem computadores com monitor de tubo, muitas máquinas analógicas, tubos e fios para todo lado, incluindo nos equipamentos, e a trilha sonora usa muito sintetizador, algo que dominou os filmes de décadas atrás e que tem sido resgatado com certa frequência por diferentes obras, como a série Stranger Things, por exemplo.

Em resumo: você é um explorador que vive em uma cidade subterrânea chamada Speranza. De tempos em tempos, você precisa subir à superfície para coletar recursos e continuar vivendo nessa sociedade que foi devastada e obrigada a se isolar por conta das máquinas que dominam o mundo de cima. Apesar de ameaças mortais, elas rendem recursos valiosos.

O foco é coletar o máximo de loot possível e voltar para a base com tudo, senão você pode começar uma próxima partida assim, sem nada (Imagem: Raphael Giannotti/Canaltech)

Sempre que uma sociedade está caída assim, a luta não acontece só pela sobrevivência contra zumbis, monstros ou máquinas, mas também contra os outros seres humanos, que precisam sobreviver, e é aí que entra as partidas online de Arc Raiders

Em busca do melhor loot possível

O game vai desenrolando um pouco mais da história conforme nós avançamos no multiplayer através de missões que NPCs, basicamente os comerciantes de Speranza, nos dão. Porém esse não é o foco e o game brilha mesmo é em suas partidas online.

“Mas o que esse jogo tem de tão diferente?”, você pode estar se perguntando. Olhando nu e cru, não muito em relação a outros shooters de extração disponíveis. Com esse tipo de jogo, minha única experiência é com Hunt: Showdown, game no qual me diverti bastante. A base é a mesma, mas algumas peculiaridades fazem o game do Embark Studios se destacar.

Primeiro, seus mapas são grandes, bem grandes na verdade. Não estou falando aqui de uma escala a nível de battle royale, mas certamente são maiores do que o maior mapa de Battlefield 6. Ou seja, existe muita exploração a ser feita em todos eles. Fora que cada um tem uma versão noturna e com tempestades elétricas, adicionando ainda mais desafio.

Todos os mapas oferecem diferentes regiões para serem exploradas (Imagem: Raphael Giannotti/Canaltech)

O segundo ponto é que o seu maior foco é conseguir o melhor loot possível em uma run e voltar para a base de forma segura e com tudo o que pegou consigo. Essa não é uma tarefa fácil, porque você precisa sobreviver às máquinas, que vão desde aranhas robóticas que pulam na sua cara, até colossos (também parecido com aranha) que pode ser visto a quilômetros de distância. Quanto mais difícil o inimigo a ser derrubado, melhor é o loot.

Mas eles não são os únicos inimigos que você precisará enfrentar. Lembre-se que Arc Raiders é um game PvPvE, ou seja, além de enfrentar os inimigos comuns, você tem outros humanos para lidar, conhecidos também como outros jogadores.

A cereja do bolo de Arc Raiders

O foco da trama de Arc Raiders é lidar com a ameaça das máquinas, seja sozinho ou em equipe com três membros. Mesmo que você encontre jogadores rivais, é possível estabelecer um pacto de trégua com eles para que, juntos, sigam para o objetivo em comum. Isso acontece com um emote que diz “Don’t shoot” (não atire), ou caso esteja usando um microfone, apertando a tecla designada para o uso a cereja do bolo do game: o chat por aproximação. Assim, é possível conversar com as pessoas que estão próximas, que não são de sua equipe.

Entenda uma coisa: chat por aproximação não é novidade em shooters online, o próprio Hunt: Showdown faz uso do recurso, mas a implementação feita pelos desenvolvedores do Embark Studios é tão boa, que deu outro tom ao jogo. Não sei se os responsáveis pelo game queriam manter o tom um tanto mórbido que o game traz, mas com essa ferramenta, o mundo virtual virou de cabeça para baixo.

A essa altura, caso ainda não tenha jogado, você deve ter visto algum clipe com o chat de aproximação em uso. Jogadores rivais se comunicam tentando formar uma aliança para enfrentar o inimigo maior, ou criar histórias para vídeos, enfim, a criatividade é o limite.

No modo solo, as chances de você conseguir se juntar com outros jogadores é maior, a comunidade é mais solícita e grupos são formados mais facilmente. Já no modo de três jogadores, a coisa muda um pouco. Não é que seja impossível formar alianças com inimigos, mas é bem mais difícil, já que cada um tem sua equipe. A não ser que os outros morreram e sobre um, aí você verá uma pessoa suplicando por sua vida.

Essa foi uma situação em que os inimigos pediram para não atirar, e nós seguimos nosso caminho (Imagem: Raphael Giannotti/Canaltech)

Algo que deixa o chat por aproximação mais divertido, é que o jogo entrega efeitos de voz condizente com o ambiente e distância entre os jogadores. Se está em um ambiente fechado, existe eco, se está longe, a voz fica mais fraca, e por aí vai. Isso tem potencial em transformar uma situação desesperadora em engraçada.

Mas, cuidado, não confie em todo mundo, já que as chances de você ser traído nessas alianças com desconhecidos é bem grande (e frustrante). Tem jogador que, mesmo você gritando no chat aberto que está sozinho só está “loteando” e que ir embora, irá atirar primeiro e perguntar depois. Essa tensão extra adiciona uma diversão a mais, não vou negar. Rende muitas risadas.

E eu falei sobre ir embora, já que Arc Raiders é um game de extração, e isso é possível ao encontrar uma das diferentes formas de “vazar”: seja por elevador, trem, escotilha ou entrada de ventilação. O mais rápido deles é a escotilha (mas é o único que precisa de uma chave) e os outros precisam de um tempo de ativação, que acionarão um alarme e indicarão para os jogadores da região e as máquinas que você está tentando ir embora.

Aliás, o áudio tem um papel bem importante no game e ele é bem executado. O feedback de acerto de tiros, seja em você ou no inimigo, é muito bom e satisfatório. Muita coisa no game faz barulho. Além dos seus passos, abrir coisas para conseguir um loot, abrir portas, e também ser detectado pelas máquinas dedo duro, que te veem e logo começam a fazer barulho para os outros saberem que você está ali.

Arc Raiders é divertido e ponto final

Não vou ficar aqui explicando questões técnicas. O jogo tem bons gráficos e roda muito bem no PC (e é feito em Unreal Engine 5!); tem mecânicas simples; o hub não é complicado; o áudio é preciso; o layout dos mapas é interessante. Enfim, eu posso falar que Arc Raiders é divertido e ponto final. E vale mencionar que esse elogio vem de um gamer que joga shooters online “de vez em nunca”.

Arc Raiders oferece uns momentos assim, dignos de serem apreciados (Imagem: Raphael Giannotti/Canaltech)

Eu lembro de ver o primeiro trailer de Arc Raiders no The Game Awards de 2021 e ficar empolgado com a premissa. Os anos se passaram, o game acabou caindo no esquecimento para muitos, chegou como um jogo pago, mesmo tendo sido anunciado como gratuito. Mas, em defesa do estúdio, o preço foi reduzido em países emergentes, incluindo o Brasil.

Além disso, os preços de itens dentro do jogo ficaram mais baratos, e quem já tinha pago o valor inicial, recebeu uma compensação com a moeda do jogo. Ou seja, vemos aqui um cuidado dos desenvolvedores com a comunidade, algo que deve se estender pelo tempo de vida do jogo.

Arc Raiders criou um engajamento pela comunidade como pouco visto em outros jogos. Você consegue ver streamers entrando em partida e organizando verdadeiras raids com todos os jogadores para enfrentar a máquina mais forte. O game também trouxe à tona o potencial artístico de alguns jogadores, que personificaram verdadeiros NPCs vivos. Isso por si só já é uma grande conquista.

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