Review Ford Mustang Mach-E: esportivo elétrico prova que é “puro sangue”

Tecnologia

O nome Mustang é tratado pela própria Ford como uma marca (quase) independente. E com toda a razão, pois trata-se de um carro esportivo com mais de 60 anos de história, boa parte dela envolta pelo sonoro ronco de seus motores, sejam eles V6 ou V8.

Recentemente, porém, a Ford resolveu ousar e colocar no mercado uma versão 100% elétrica do Mustang, silenciando o que, para muitos, sempre foi uma verdadeira sinfonia. Mais do que isso: trocou as linhas do consagrado muscle car por um visual futurista, envelopado em uma carroceria de SUV.

O Ford Mustang Mach-E, portanto, para muitos entusiastas, também chamados de “gearheads”, pode até ser potente, rápido e bonito, mas, lá no fundo, “não é um Mustang”. Será mesmo?


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O CT Auto teve a oportunidade de passar alguns dias ao volante do esportivo elétrico em sua versão GT Performance, que entrega 487 cv de potência e 87,7 kgf/m de torque. A aceleração é tão brutal que fez, literalmente, um celular grudar no banco traseiro por alguns segundos durante os testes. E, após esse período, dá para cravar, sem medo: o Mach-E é, sem sombra de dúvidas, um autêntico puro sangue, digno do nome Mustang. Veja o porquê nesse review completo.

Mach-E provou que é digno do “sobrenome” Mustang, mesmo sem o ronco do V8 (Imagem: Paulo Amaral/Canaltech)

Prós

  • Aceleração
  • Dirigibilidade
  • Design
  • Pacote tecnológico
  • Autonomia

Contras

  • Problema no sistema eletrônico (*recall)

Conectividade, Tecnologia & Segurança

O Mustang Mach-E tem um pacote recheado de tecnologias de ponta, mas algumas delas, que destacamos logo após nosso primeiro contato com o carro, têm dado dores de cabeça para a Ford.

Estamos falando do sistema elétrico, mais precisamente do travamento elétrico das portas dianteiras. A marca já até convocou os donos dos modelos produzidos entre 2021 e 2025 para o recall, tantas foram as reclamações sobre os problemas causados por uma “descarga inesperada” da bateria de 12V.

Defeitos à parte, vale ressaltar que o botão de acesso incorporado às portas, justamente para deixar o visual das laterais do Mach-E o mais clean possível, é extremamente charmoso. Para completar, dispensa o uso da chave física e até das maçanetas escamoteáveis, presentes em outros modelos.

Botão de acesso elétrico gerou dores de cabeça para a Ford (Imagem: Paulo Amaral/Canaltech)

Outro recurso bacana faz parte do Ford Pass. Por meio do aplicativo oficial da marca, é possível programar diariamente o horário de saída com o carro para pré-climatizar a cabine, verificar o status da carga da bateria e a lista de estações de recarga próximas, assim como a disponibilidade dos pontos.

O sistema de Inteligência Artificial do Ford Mustang Mach-E também é de última geração. Segundo os executivos, ele é capaz de aprender com os hábitos do usuário e, a partir deste aprendizado, sugerir tarefas rotineiras que por ventura acabam passando despercebidas vez ou outra. O carro pode, por exemplo, “sugerir” que você ligue para determinada pessoa em um certo horário, caso isso faça parte do seu dia-a-dia.

O Mustang Mach-E conta ainda com faróis full-LED com projetor, sistema de som Bang e Olufsen com 10 alto-falantes, ajuste elétrico no banco do motorista, porta-malas com abertura por gesto, câmera 360° e ACC, o controle de cruzeiro adaptativo.

Câmera 360º, carregador por indução, painel digital e tela gigante: destaques do Mach-E (Imagens: Paulo Amaral/Canaltech)

Conforto e Experiência de uso

Se os mais puristas duvidam que o Mach-E é, verdadeiramente, merecedor do nome Mustang, o CT Auto vai deixar aqui um convite: esqueçam que o ronco do motor V8 não estará presente (embora a tecnologia tente simular algo parecido), sentem-se ao volante e afundem o pé no acelerador.

Ouso dizer que, ao alcançar os 100 km/h em 3,7 segundos, até mesmo o mais apaixonado pelos muscle cars terá que se render ao poder e à força do Mach-E, um esportivo elétrico tão forte que é capaz de grudar um celular (e a sua cabeça) no banco por alguns instantes.

Tudo isso, claro, com a máxima segurança que um carro da Ford se caracteriza por oferecer. Embora seja um SUV de proporções generosas (4,74 m de comprimento, 1,88 m de largura e 1,61 m de altura e 2,98 m de entre-eixos), o Mustang Mach-E é extremamente equilibrado na tocada, com comportamento dinâmico excelente e estabilidade invejável, até mesmo nas curvas em alta velocidade. “Cortesia” da calibradíssima suspensão e da tração integral eAWD.

Mach-E é forte na tocada e extremamente equilibrado (Imagem: Paulo Amaral)

Não dá para deixar de citar ainda que o Mustang Mach-E entrega o que promete (e, talvez, até mais) no que diz respeito à autonomia. Equipado com um pacote de baterias de ion lítio com 12 módulos e 91 kWh de capacidade, o esportivo elétrico roda até 379 km por carga segundo o Inmetro. Na prática, porém, foi tranquilo passar dos 450 km, mesmo com uma ou outra aceleração mais forte nas saídas.

Design e Acabamento

Um dos pontos mais polêmicos, senão o maior deles, em relação ao Mustang Mach-E, é o design. Embora se trate de um carro com linhas bem desenhadas e, portanto, “bonito”, ele se caracteriza como SUV. Esse fato, por si só, causa calafrios no enorme fã-clube dos “Mustang raiz”.

Engana-se, porém, quem pensa que o Mach-E não tenha traços herdados de seus irmãos a combustão. Segundo Ricardo Sugimoto, Supervisor de Design da Ford, a marca se inspirou em um outro ícone para criar o superesportivo elétrico.

De acordo com o responsável pelo design do Mach-E, o crossover elétrico tem diversas similaridades com o Mach 1, tanto em design quanto em performance. A “sobrancelha” retilínea, o capô longo, o sharknose, o pilar C acelerado e a lanterna com três barras em LED foram algumas das características apontadas como comuns entre os modelos a combustão e elétrico.

Design do Mach-E foi inspirado no Mach-1, segundo a Ford (Imagem: Paulo Amaral/Canaltech)

“Para falar de Mach-E, primeiro temos que falar de Mach-1. Não queríamos lançar apenas mais um carro elétrico nas ruas, e sim algo que só a Ford pode oferecer em termos de esportividade. Um ícone”, resumiu Sugimoto.

Acabamento minimalista

Se por fora o Mustang Mach-E chama a atenção pelo visual diferenciado, por dentro ele tem mais pontos em comum com o lendário muscle car, especialmente no que diz respeito ao acabamento.

Embora bem trabalhado, e com materiais de alta qualidade, o interior do esportivo elétrico preza mais pelo visual minimalista do que por itens que saltam aos olhos. A exceção é a enorme tela multimídia de 15,5 polegadas, posicionada na vertical e interligada com o painel de instrumentos, que é de 10,2”.

Outro destaque do design, esse tanto externo quanto interno (e nada minimalista) é o teto solar panorâmico, que ocupa toda a área superior e dá um charme especial ao Mach-E, com um visual de tirar o fôlego para os ocupantes.

Teto solar panorâmico do Mustang Mach-E proporciona um verdadeiro espetáculo aos ocupantes (Imagem: Paulo Amaral/Canaltech)

A Ford revelou que o acessório é o maior já usado em um veículo da marca e, de quebra, bastante tecnológico. Segundo a Ford, o teto solar panorâmico “aumenta a sensação de amplitude da cabine e tem um revestimento especial contra raios infravermelhos e ultravioleta”.

“O Mustang Mach-E tem qualidades suficientes para agradar até mesmo os gearheds e fazê-los “esquecer” da paixão pelo motor V8.”

— Paulo Amaral

Concorrentes

O Ford Mustang Mach-E tem alguns rivais de peso no Brasil, embora muita gente não considere um deles como adversário direto, mas não pela potência e desempenho, e sim pelo “peso” da marca no mundo esportivo.

Estamos falando do BYD Seal, coupé 100% elétrico da marca chinesa, que entrega 531 cv de potência, 68,3 kgf/m de torque e acelera de 0 a 100 km/h em apenas 3,8 segundos, um décimo mais “lento” que o Mach-E. Tudo isso por quase a metade do preço do modelo da Ford: R$ 299,8 mil.

A marca estadunidense, porém, coloca o Mustang elétrico em uma prateleira diferente. Nela, os dois principais concorrentes do Mach-E são modelos mais reconhecidos por sua esportividade e por terem os dois pés no segmento premium.

Estamos falando do BMW iX3, que sai por cerca de R$ 521 mil, e do Porsche Macan elétrico, que parte de R$ 580 mil. Ambos entregam pacotes semelhantes de tecnologia, potência e desempenho, mas sem a “grife” Mustang atrelada, algo que, sem dúvida, tem um peso enorme.

“No duelo com Seal, iX3 e Macan elétrico, Mustang Mach-E pode levar vantagem pelo “nome da família”.”

— Paulo Amaral

Ford Mustang Mach-E: vale a pena?

A tarefa de responder se o Ford Mustang Mach-E vale ou não a pena é, na verdade, bastante simples, e depende de apenas um fator: ter cerca de meio milhão de reais para levar o SUV esportivo elétrico para casa.

Goste ou não da ausência do lendário motor V8, não dá para negar, por mais “gearhead” que a pessoa seja, que o Mustang Mach-E é um “senhor” carro, pois entrega, em um só produto, design, esportividade, potência, desempenho, tecnologia e segurança.

Goste ou não, o “cavalinho elétrico” é um senhor carro (Imagem: Paulo Amaral/Canaltech)

O esportivo elétrico chegou ao Brasil custando R$ 486 mil e, em julho de 2025, estava avaliado em R$ 524,3 mil. Embora muita gente afirme, de pés juntos, que o Mach-E “não é um Mustang”, se você tiver condições financeiras de apostar em um carro elétrico e sonha com um esportivo de “raça”, o “filho adotivo” da lendária família Ford é uma ótima opção.

* A unidade do Ford Mustang Mach-E utilizada para a confecção deste review foi gentilmente cedida ao CT Auto pela Ford do Brasil.

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