Ambiente de trabalho distribuído, migração para nuvem em ritmo de foguete, identidades por toda parte e IA entrando em cada fluxo de trabalho. O resultado é conhecido, a superfície de ataque cresceu mais rápido do que a capacidade de muita gente de medir e responder. O instinto natural é tentar “fechar todas as portas”. Não dá. E tudo bem, porque segurança eficaz nunca foi sinônimo de correção total e, sim, de escolhas certas feitas no tempo certo.
Quando tratamos risco como lista infinita de CVEs, a conversa não sai do lugar. Mas, ao traduzir risco em impacto de negócio, quanto custa uma hora de operação paralisada, qual processo é mais crítico para o caixa ou para o cliente, a discussão sobe de patamar. É aqui que a gestão de exposição se torna disciplina estratégica: unificar sinais dispersos, normalizar em uma régua única e priorizar o que realmente reduz risco.
Ainda, precisamos aceitar verdades do mundo do CISO. Primeiro: faltam profissionais. O déficit de pessoas qualificadas em cibersegurança é global, já vem de muito tempo e não vai se resolver amanhã. Segundo: orçamento é sempre menor que a necessidade e a segurança sofre com isso em dobro. Terceiro: a minoria dos problemas vem da minoria das vulnerabilidades. A Tenable coletou e analisou aproximadamente 50 trilhões de pontos de dados relacionados a mais de 240 mil vulnerabilidades e desenvolveu uma metodologia a qual aponta que, desse total, apenas 3% frequentemente resultam em riscos de exposição significativos. Em outras palavras, priorização é fundamental.
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Mas nem tudo que está no “alto” da planilha vale o mesmo. Uma vulnerabilidade crítica em um ativo secundário pode esperar alguns dias, no notebook do administrador de domínio, ela precisa ser corrigida em segundos. O contexto – onde está, quem usa, quanto impacto gera – é o que transforma a priorização em ROI. É também o que permite falar de segurança em uma linguagem que o board entenda, convertendo risco técnico em impacto financeiro.
Romper silos para ganhar confiança
O maior inimigo hoje não é a falta de tecnologia, mas o excesso mal coordenado. Cada área com sua métrica, cada ferramenta com sua escala e ninguém com a fotografia completa. Gestão de exposição faz a costura, consolida indicadores, gera um score único e dá clareza para que todos falem a mesma língua. Quando isso acontece, a reunião com o board deixa de ser um pedido de orçamento baseado em jargões e passa a ser uma demonstração de evolução e resultado. É nesse ciclo que a confiança cresce e os investimentos fluem.
IA, nuvem e o futuro imediato
IA e nuvem ampliam valor e risco ao mesmo tempo. Com o avanço do trabalho distribuído e a digitalização acelerada de processos, empresas de todos os setores passaram a operar em ambientes cada vez mais complexos e interconectados. Hoje, desde aplicações críticas em nuvem até dispositivos de infraestrutura básica podem se tornar portas de entrada para ataques. Basta um ativo mal configurado para comprometer toda a operação.
No caso da inteligência artificial, o cenário é ainda mais dinâmico. Estamos apenas no começo, mas já sabemos que a velocidade de adoção supera em muito a capacidade de governança. Uma pesquisa da Tenable indica que 70% das cargas de trabalho em nuvem que utilizam IA contêm vulnerabilidades não corrigidas. Essa “torre” de aplicações pode deixar peças soltas como credenciais expostas, permissões excessivas e configuração deficitária se transformando rapidamente em pontos de alto risco.
Não adianta frear a inovação, porque ela é vital à competitividade. O que precisamos é governar o uso, inventariar onde cada tecnologia aparece, revisar identidades e permissões, definir políticas claras e priorizar de acordo com o impacto. Tratar IA e nuvem como mais vetores dentro da régua única de exposição é a forma de colher benefícios sem abrir flancos. A equação não é risco zero, mas sim o equilíbrio entre velocidade e segurança para que a inovação continue sendo diferencial de negócio e não porta aberta ao crime digital.
Segurança não é corrida para fechar todas as portas, é maratona para fechar primeiro as portas que importam. Risco zero não existe. E essa constatação, longe de ser um problema, é o que permite aos líderes de segurança focarem no que realmente cria valor sem travar a inovação.
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