Sem grana, sem treino: Cloudflare declara guerra aos bots de IA

Tecnologia

A Cloudflare anunciou na terça-feira (1º) o “Dia da Independência do Conteúdo” que bate de frente com bots de IA. A medida visa padronizar o bloqueio de sistemas de inteligência artificial que rastreiam sites de clientes da companhia para treinar modelos de linguagem, e já está em vigor. 

A Cloudflare oferece serviços de segurança e otimização para milhares de sites e serviços online no mundo. Sua atuação permite que a identificação de quando as plataformas de seus clientes estão sendo rastreadas por IAs.

Com a medida, a empresa mira em crawlers, ou seja, robôs que acessam páginas da web e vasculham informações, usados por empresas de IA.


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O CEO da Cloudflare, Matthew Prince, destacou que a medida é motivada, principalmente, por novos modelos de pesquisa como as “Visões Gerais de IA” do Google, que fornecem respostas diretas e dispensam a visita aos sites originais que as forneceram.

Os bots de IA serão bloqueados em todos os sites?

A decisão de permitir ou bloquear bots para acesso às informações caberá aos clientes da Cloudflare. Assim, algumas IAs poderão ser bloqueadas, e outras não.

Essa ação não é uma novidade, visto que a Cloudflare já oferecia o serviço de bloqueio de crawlers para domínios que utilizam a plataforma desde 2024. Contudo, a nova medida amplia as opções de controle e, crucialmente, abre caminho para monetizar o acesso aos conteúdos dos clientes.

“Em seguida, trabalharemos em um marketplace onde criadores de conteúdo e empresas de IA, grandes e pequenas, possam se unir”, explicou a empresa.

A ideia é que empresas de IA paguem aos criadores por seus conteúdos, considerando que, muitas vezes, os bots geram respostas de buscas baseadas em informações “raspadas” de sites sem remuneração.

Freepik/frimufilms
Rastreio de dados de sites feitas por bots afeta acesso de portais de criadores de conteúdo (Imagem: Reprodução/Freepik/frimufilms)

Medida visa “devolver o poder” aos criadores de conteúdo

O diretor da Netskope, Ray Canzanese, analisa que a medida da Cloudflare é um passo importante para controlar o consumo desenfreado da IA no mercado de conteúdo.

“O rápido desenvolvimento da IA fez com que ela se comportasse um pouco como um Pac-Man — consumindo tudo em seu caminho. Agora, finalmente, estamos começando a ver uma correção, na qual as organizações estão percebendo exatamente o valor de seus dados”, aponta Canzanese.

O diretor da Netskope também avalia que a decisão da Cloudflare “devolve o poder a quem ele pertence: o proprietário dos dados”, permitindo maior controle e segurança sobre suas informações.

Já o diretor do Centro de Excelência em IA (CEIA) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Arlindo Galvão, observa que a decisão da Cloudflare evidencia uma imaturidade global na legislação de direitos autorais na produção de conteúdo que leva empresas a tomarem suas próprias medidas para oferecer o controle sobre o conteúdo. 

Galvão também aponta que a medida abre espaço para a monetização desse conteúdo, que pode funcionar como um sistema de royalty para o detentor original da informação. 

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