Angela Cristina Kochinski Tripoli (*)
Em um cenário global marcado por tensões comerciais e disputas tarifárias, o Brasil surpreende ao alcançar um marco histórico: a exportação de 102,2 milhões de toneladas de soja entre janeiro e outubro de 2025. O feito supera os recordes de 2023 e 2024 e rompeu, com três meses de antecedência, a barreira simbólica do recorde anual, segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).
Este desempenho revela não apenas a força do agronegócio brasileiro, mas também a capacidade do país de se posicionar estrategicamente em meio a uma guerra comercial entre duas das maiores economias do mundo: China e Estados Unidos. Em um contexto de reconfiguração das cadeias globais de suprimentos, o Brasil soube ocupar um espaço privilegiado, aproveitando a conjuntura internacional para fortalecer sua presença no comércio agrícola global.
Com base nos dados mais recentes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o ritmo diário de exportações de soja em outubro cresceu 31,1% em relação ao mesmo mês de 2024, saltando de 214 mil para 280 mil toneladas por dia. Em apenas 13 dias úteis, o Brasil embarcou 3,6 milhões de toneladas, com tendência de encerrar o mês acima das 4,7 milhões registradas no ano anterior.
O principal vetor desse crescimento foi a combinação entre uma safra recorde e a demanda extraordinária da China. Segundo a Anec, o Brasil colheu mais de 170 milhões de toneladas de soja em 2025, o que garantiu oferta suficiente para atender à crescente demanda internacional.
A China, envolvida em uma guerra tarifária com os Estados Unidos, reduziu drasticamente suas compras da soja americana — uma queda de 78% entre janeiro e agosto de 2025. Com tarifas de até 34% sobre o produto dos EUA, o país asiático voltou-se ao Brasil, que oferece soja com tarifa zero. No mês de setembro, 93% das exportações brasileiras de soja tiveram como destino a China, consolidando uma participação média de 79,9% ao longo do ano. Esse percentual supera a média histórica de 74% registrada entre 2021 e 2024, evidenciando o fortalecimento da parceria comercial sino-brasileira.
Esse movimento não apenas impulsionou os embarques brasileiros, como também reafirmou o Brasil como fornecedor estratégico em meio à instabilidade comercial global. A projeção da Anec é que até dezembro o país exporte cerca de 110 milhões de toneladas de soja, consolidando um novo recorde absoluto e reafirmando o protagonismo brasileiro no comércio agrícola global.
O recorde antecipado das exportações brasileiras de soja em 2025 é mais do que um número impressionante, é um reflexo da resiliência, da competitividade e da capacidade de adaptação do Brasil frente aos desafios globais. Mesmo diante de barreiras tarifárias e disputas geopolíticas, o país soube aproveitar uma janela de oportunidade criada pela guerra comercial entre China e Estados Unidos.
Contudo, é preciso refletir sobre a sustentabilidade desse crescimento. A demanda chinesa, embora intensa, pode ser temporária. Caso haja uma reaproximação comercial entre China e EUA, ou mudanças nas políticas tarifárias, o Brasil poderá enfrentar uma retração.
Assim, o desafio futuro será diversificar mercados, investir em infraestrutura logística, ampliar acordos comerciais multilaterais e agregar valor à produção por meio de industrialização e certificações sustentáveis, garantindo que o sucesso de hoje não seja apenas um ponto fora da curva, mas o início de uma nova era para o comércio exterior brasileiro.
(*) Angela Cristina Kochinski Tripoli é graduada em Administração com Habilitação em Gestão de Negócios Internacionais, mestre e doutora em Administração e coordenadora de cursos no Centro Universitário Internacional – UNINTER.
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