Laura Fryer, uma das principais arquitetas por trás da criação do Xbox e ex-executiva da Microsoft Game Studios, disparou críticas severas contra a atual liderança da divisão de games da empresa nesta quarta-feira (10). Em vídeo publicado em seu canal no YouTube, ela classificou o recente aumento de preços do Xbox Game Pass como “traição” aos fãs e afirmou que os executivos atuais estão “fora da realidade” e vivem em uma “bolha” corporativa.
O desabafo de Fryer ganhou ainda mais relevância diante do impacto que o reajuste do Game Pass causou no Brasil. Por aqui, o Xbox Game Pass Ultimate saltou de R$ 59,99 para R$ 119,99 mensais — um aumento de 100% que deixou a comunidade gamer brasileira revoltada. Nos Estados Unidos, o serviço teve “apenas” 50% de aumento, saindo de US$ 19,99 para US$ 29,99.
Para a veterana da indústria, que ajudou a estabelecer marcos como Gears of War durante sua passagem pela Microsoft, essas decisões são reflexo de uma liderança desconectada dos consumidores e desenvolvedores. “A liderança não entende o que os tornou grandes”, declarou Fryer, apontando que uma “cultura de ‘homens sim'” dominou a empresa desde 2008 e resultou nessas políticas controversas.
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“Xbox perdeu a essência”
Uma das críticas mais contundentes de Laura Fryer diz respeito à perda de identidade da marca Xbox. Segundo ela, a empresa abandonou sua proposta original de criar um ecossistema fechado e coeso. “O Xbox não foi criado para vender hardware. Era sobre criar um loop fechado no qual o Xbox era dono das relações com consumidores e com desenvolvedores”, explicou.
A ex-executiva se mostrou particularmente incomodada com a estratégia atual da Microsoft de expandir a marca para múltiplas plataformas. “Se tudo é um Xbox, então nada realmente é”, resumiu Fryer, criticando o slogan “This is an Xbox” da empresa. Para ela, essa mensagem inclusiva acabou “destruindo todo o valor da marca construído ao longo dos anos”.
Fryer também destacou como a Xbox perdeu elementos que a tornaram relevante, como exclusivos de primeira linha que “impulsionavam a identidade” da plataforma e parcerias sólidas com desenvolvedores que criavam experiências únicas no ecossistema.
Preços brasileiros geram revolta na comunidade
O aumento de 100% no Xbox Game Pass Ultimate no Brasil se tornou um dos pontos mais polêmicos da nova estratégia da Microsoft. Enquanto nos EUA o reajuste foi de 50%, chegando a US$ 29,99, os jogadores brasileiros foram penalizados com um valor que dobrou o custo mensal do serviço.
A reformulação também atingiu outros tiers do serviço no país. O antigo Xbox Game Pass Standard, rebatizado para Premium, passou a custar R$ 59,99 — exatamente o valor que o Ultimate custava antes. Já o Essential (ex-Core) ficou em R$ 43,90 mensais.
“É como se a ganância tivesse domínio sobre os games”, disparou Laura Fryer sobre o reajuste. Para a fundadora do Xbox, o aumento representa uma quebra de confiança com a base de fãs, especialmente considerando que a Microsoft havia prometido não elevar os preços do Game Pass após a aquisição da Activision Blizzard.

“Traição” após bilhões em receita
Um dos aspectos que mais irritou Fryer foi o timing do aumento. Segundo ela, a Microsoft anunciou o reajuste logo após revelar que o Game Pass havia faturado US$ 5 bilhões. “Um aumento de preços doloroso para seus fãs, depois de anunciar que o Game Pass tinha feito US$ 5 bilhões”, criticou.
A veterana também questionou se os novos benefícios prometidos justificam o aumento. Entre as adições estão o Clube Fortnite, acesso ao Ubisoft+ Classics, melhorias no Xbox Cloud Gaming e a promessa de mais de 75 lançamentos “day one” por ano. Para muitos jogadores, essas funcionalidades não compensam dobrar o investimento mensal.
“Com este último aumento do Game Pass, o Xbox jogou fora uma de suas últimas vantagens: eles eram o melhor negócio nos games”, avaliou Fryer. “Esses aumentos de preço parecem uma traição. Ganância sobre os games”.

Futuro incerto para a plataforma
Laura Fryer demonstrou incerteza sobre o rumo que a Microsoft pretende tomar com o Xbox. Ela especula que a empresa está “se movendo em direção ao Cloud Gaming e se distanciando do hardware”, mas também levantou a possibilidade de que os executivos simplesmente “não entendam o que estão fazendo”.
“Não posso dizer com certeza para onde isso está indo”, admitiu Fryer. “Parece que o Xbox está se movendo em direção aos games na nuvem e se distanciando dos hardwares. Mas também pode ser que eles só sejam incompetentes, que não entendam o que estão fazendo e só estejam testando as coisas”.
A crítica da fundadora encontra respaldo na escassez de Xbox no mercado, o que indica que a Microsoft pode ter desistido de fabricá-lo ou reduziu drasticamente sua manufatura. No Brasil, por exemplo, há meses não é mais possível encontrar um Xbox Series X oficialmente à venda; na Espanha, há rumores de que Redmond cancelou as vendas de ambos os Xbox Series. Nos EUA, varejistas como Walmart e Costco desistiram de comercializar os consoles por acreditarem que eles não são mais atraentes.

Comunidade brasileira busca alternativas
O impacto do aumento no Brasil tem levado muitos jogadores a cancelarem suas assinaturas ou buscarem alternativas mais acessíveis. Com R$ 119,99 mensais, o Xbox Game Pass Ultimate agora custa mais que algumas opções de internet banda larga no país, tornando-se proibitivo para grande parte do público.
A situação é ainda mais delicada considerando que os jogadores brasileiros já enfrentam preços elevados de hardware e jogos em comparação com outros mercados.
As críticas de Laura Fryer ecoam o sentimento de uma comunidade que se sente abandonada pela empresa que um dia prometeu democratizar o acesso aos games através de serviços por assinatura acessíveis.
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