Visita à fábrica da Lenovo mostra desafios e planos para transição do Windows 10

Tecnologia

O fim do Windows 10 será uma grande dor de cabeça para os usuários que continuam apegados ao sistema operacional, já que muitos continuam resistentes em investir e migrar para um PC com Windows 11. Ainda assim, o momento é propício para grandes oportunidades e a Lenovo está atenta a este momento do mercado.

Em visita guiada à fábrica da empresa em Indaiatuba, São Paulo, o Canaltech conheceu a linha de produção e viu de perto como a empresa está se preparando para este ponto de virada. O objetivo é suprir consumidores e o setor corporativo da melhor forma, sem comprometer a qualidade e condições que o público confia. 

E se depender do desempenho de sua equipe, a Lenovo já tem em mãos metade da fórmula para cumprir seu desejo. Chamou a atenção como a velocidade das operações é assustadora, com um notebook sendo montado do zero até o seu embalamento entre 500 e 700 segundos — em um ritmo de produção que entrega 6 mil computadores novos ao mercado diariamente.


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Com mais de 30 modelos fabricados para o mercado B2C (consumidores) e B2B (corporativo), a Lenovo planeja abocanhar uma boa fatia dos R$ 74 bilhões que o fim do suporte ao Windows 10 deve movimentar no Brasil, principalmente entre os meses de setembro e outubro. 

Imagem do Windows 10
O fim do Windows 10 pode gerar grandes oportunidades para a Lenovo (Imagem: Divulgação/Microsoft)

E este ritmo tem se provado certeiro dentro do mercado. Ao Canaltech, o presidente da Lenovo, Ricardo Bloj, revelou que houve um crescimento no volume de vendas de até 23% em comparação ao que foi apresentado no mesmo período em 2024

Pelo que vimos da fábrica da companhia, há uma grande flexibilidade para a produção do que tiver maior demanda. As baias e equipamentos de testes podem ser adaptados para diferentes produtos, conforme notarem um aumento de pedidos de determinado computador ou tendência de mercado.

Ou seja, se houver um alto número na saída de um certo notebook e exigir aumento na sua fabricação, eles podem “tomar” divisões que montam outros dispositivos para focar no modelo com mais vendas. Assim, eles estarão prontos para qualquer mudança brusca do mercado — apesar de também acompanharem as estimativas ao lado da Microsoft.

Além dos notebooks, a Lenovo também está aproveitando para adentrar cada vez mais na área corporativa. Atualmente a marca possui 10 estações para produção de servidores em suas fábricas — todas elas aptas para a montagem de máquinas compatíveis com inteligência artificial.

Imagem da Petrobras
A Lenovo tem acordo para 5 supercomputadores e servidores com a Petrobras (Imagem: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Além de clientes como o Bradesco e Itaú, a equipe também atende as demandas para os computadores e servidores da Petrobras. De acordo com as informações apresentadas pela companhia, a fábrica de Indaiatuba consegue produzir até 100 servidores por dia dentro do formato atual. 

Lenovo e IA

Ricardo Bloj afirma que a Lenovo agora está com foco total na “nova onda”, que é a presença de IA nos PCs domésticos. De acordo com o executivo, eles foram os primeiros a trazerem os Copilot PC+ para o Brasil e buscam viabilizar a tecnologia em território nacional.

Eles também revelaram que, até 2027, cerca de 80% dos computadores produzidos no país terão uma NPU — componente que faz parte do processador e permite rodar recursos de IA nativamente

E isso não é direcionado apenas aos consumidores. A própria Lenovo tem planos de aumentar a própria produtividade via IA, com o objetivo de trazer mais tecnologias para a produção de seus servidores e notebooks. A ideia é otimizar o que eles oferecem, conforme as exigências do mercado.

Porém, isso não significa que a companhia trocará sua mão de obra humana pelas inteligências artificiais. Eles afirmam que muitas áreas de produção dependem totalmente do ser humano, logo uma parte considerável das operações não podem ser resolvidas pelas IAs ou por automação.

Imagem da fábrica da Lenovo
Lenovo afirma que IA e automação não “roubarão” empregos (Imagem: Diego Corumba/Canaltech)

Avanços em Pesquisa & Desenvolvimento

O setor de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) também é um dos maiores destaques da Lenovo. O laboratório Optimus dá suporte a toda a fábrica com ideias, produtos e soluções para os problemas do dia-a-dia — além de criarem projetos que se mostram úteis para a sociedade no Brasil.

Na visita às instalações, foi mostrado como funciona o processo desde a criação até sua execução. Existiam máquinas que rodam softwares de gêmeo digital, equipamentos de automação (para inserção da memória, CPU e encaixe da placa-mãe nos gabinetes), monitores, impressoras 3D e PCs para a equipe desenvolver todas as ideias para dentro e fora da companhia.

Um exemplo disso são as “sushi box”, caixas com os moldes do tamanho exato das partes que são usadas para montar notebooks, All-in-One e outros. Assim, aprimoram a organização e impedem a presença de erros (já que outros tamanhos terão folga ou nem sequer encaixa). O modelo nasceu no Brasil e foi repassado para as demais fábricas da Lenovo ao redor do mundo.

Imagem da fábrica da Lenovo
As “sushi box” foram modeladas pela equipe de P&D da Lenovo (Imagem: Diego Corumba/Canaltech)

O laboratório Optimus está trabalhando em diversos projetos e um deles é na automação na linha de produção para desktops. Com PCs munidos com o sistema Thinkpad, eles fazem todo o monitoramento das operações que promete agilizar o processo de inserção de memória, CPU e o encaixe da placa-mãe na estrutura do gabinete.

Segundo as informações apresentadas pela Lenovo, o laboratório é o único do gênero no Brasil e suas operações foram auxiliadas graças a presença de incentivos fiscais. Entre 2009 e 2019, eles revelam que haviam apenas 100 funcionários na equipe — com o número ampliando nos últimos 6 anos para mais de 600 funcionários em 2025.

Todos os projetos criados pelo time de P&D são compartilhados com as fábricas da companhia em outros países. Eles afirmam que países como China e Estados Unidos já utilizam projetos que nasceram em solo brasileiro, com 850 milhões de máquinas operando com softwares criados pela equipe

Porém, eles não se limitam apenas ao que acontece dentro das quatro paredes da fábrica da Lenovo. Eles expandiram suas operações para auxiliar a sociedade — com incentivos de projetos voltados à saúde (comum e esportiva) e até programas de IA.

Um dos destaques é o projeto para monitoramento de arritmias, em parceria com o Instituto de Coração (Incor). Com ele, o objetivo é prevenir sinistros e eventos que podem ocorrer durante o tratamento cardíaco de pacientes — com mais de 250 pessoas participando dos testes como voluntários.

Como a Lenovo tem parceria com a FIFA, eles também investem em saúde esportiva. Atualmente, a companhia dá suporte ao Esporte Clube Primavera (time local de Indaiatuba), para monitorar e desenvolver melhorias no desempenho dos atletas. 

Imagem do Esporte Clube Primavera
A Lenovo ajuda no monitoramento de desempenho esportivo do E.C. Primavera (Imagem: Rodrigo Corsi/Ag. Paulistão) 

O time de P&D também criou uma linguagem de inteligência artificial para traduzir a conversa em libras em tempo real. O usuário cria um avatar à sua imagem e semelhança, com a possibilidade de conversar naturalmente e a pessoa que está no outro lado da tela ver uma imagem extra com o diálogo traduzido para os sinais.

Todos estes projetos estão em processo de melhorias e passarão por mais testes. De acordo com a companhia, toda esta inovação é aberta e eles investem em um fundo de 16 startups para auxiliar no seu desenvolvimento

Cenário atual da Lenovo

Ricardo Bloj também revelou que as operações da Lenovo no Brasil não serão impactadas pelas tarifas dos Estados Unidos. Ou seja, este movimento não será responsável pelo aumento no preço de notebooks e outros dispositivos que eles produzem aqui.

Isso porque aproximadamente 60% dos componentes usados para montar notebooks, AIO e outros dispositivos são fabricados no Brasil. A placa-mãe, por exemplo, vem direto de Manaus. Já os demais chegam ao nosso país diretamente da China e são montados dentro das suas fábricas. 

O executivo aponta que o maior desafio nacional é trabalhar com a taxa de juros, com dificuldade para obter crediários e a sensação de que o mercado segue retraído. De acordo com ele, é difícil ver uma elasticidade maior nos preços por conta desses entraves fiscais que vemos na economia. 

Apesar deste cenário, a Lenovo se enxerga em um momento benéfico. Eles reforçam que foram vistos muitos investimentos em âmbito estadual e federal nas empresas brasileiras — o que pode reforçar ainda mais as suas operações no país.

Imagem da fábrica da Lenovo
Os investimentos federais e estaduais dão apoio à Lenovo (Imagem: Diego Corumba/Canaltech)

Bloj também afirma que eles fecharam recentemente um grande negócio de workstations para a Petrobras, além de estarem em negociações com diversas frentes do setor agropecuário e da saúde. 

A demanda é bem similar para todos eles: computação de alto desempenho (HPC). Através de máquinas capazes de trabalhar com uma performance acima dos PCs corporativos comuns, eles pretendem adotar ainda mais o uso das inteligências artificiais e softwares pesados.

Foco no Brasil

A fábrica da Lenovo em Indaiatuba tem como foco central atender o mercado nacional. Além dela, a companhia tem fábricas em Jaguariúna (tablets e smartphones) e em Manaus (que além de também produzir tablets e smartphones, também trabalha com placas-mãe). 

Durante a visita guiada, foi revelado que houve um grande crescimento nas vendas online. Além dos seus produtos que são vendidos em grandes magazines (KaBuM!, Magazine Luiza e outras plataformas), eles afirmam que 15% de todos os seus PCs e notebooks são vendidos diretamente no seu próprio site — algo que é visto com muita positividade pela companhia.

A equipe também revelou algumas curiosidades para o Canaltech: no momento, o produto de maior saída é a linha de notebooks Ideapad. Além disso, é no local que são recebidos os produtos em garantia — com mais de 850 milhões de unidades de dispositivos espalhadas pelo mundo todo que são cobertas pelos seus serviços

A Lenovo também possui um vasto serviço de customização para clientes corporativos em nosso país. Além de poderem decidir os componentes, muitos deles podem gravar sua marca no chassi para destacar seus produtos dos dispositivos pessoais dos funcionários. Essa parceria se estende entre grandes empresas e até órgãos públicos. 

Imagem do notebook Lenovo
A Lenovo está ampliando suas atividades no Brasil (Imagem: Divulgação/Lenovo)

Isso sem contar o programa de capacitação para profissionais em todo o Brasil. De acordo com as informações apresentadas pela Lenovo, eles financiam cursos especializados em diversas frentes: inteligência artificial e cibersegurança são suas duas “meninas dos olhos”

A equipe da companhia revelou que até o momento já existem 3 turmas formadas e eles apoiam as aulas ministradas no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Universidade Federal do Ceará e na Facens. 

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