Na última quinta-feira (14), em um estudo publicado na revista Cell, cientistas conseguiram decodificar palavras que as pessoas pensaram, mas não disseram. A descoberta pode transformar a vida de pessoas com doenças como ELA (esclerose lateral amiotrófica), e faz parte do projeto BrainGate2, que já vinha testando implantes cerebrais para restaurar a comunicação de pacientes incapazes de falar. Os voluntários receberam microeletrodos no córtex motor da fala, região do cérebro que comanda os músculos da voz.
- Prótese cerebral traduz pensamentos em fala usando a voz original do paciente
- Implante cerebral decifra pensamentos com precisão inédita
Com ajuda de inteligência artificial, o sistema conseguiu identificar sinais elétricos quando os pacientes tentavam dizer palavras em voz alta. Em alguns casos, a precisão foi de 97,5%, permitindo que frases fossem sintetizadas com a própria voz gravada antes da doença.
A grande novidade foi perceber que o mesmo padrão, embora mais fraco, aparece quando as pessoas apenas imaginam falar. Ou seja, o computador também conseguiu traduzir a chamada fala interior.
–
Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.
–
No estudo, quando os voluntários imaginaram dizer palavras como “dia”, o sistema conseguiu identificá-las com boa precisão. Após mais treinamento, a IA passou a decodificar até frases inteiras, como “Eu não sei há quanto tempo você está aqui”.
Essa possibilidade é importante porque pacientes com ELA ou sequelas de AVC podem se cansar ao tentar articular sons. Usar apenas a voz interior pode tornar a comunicação mais rápida e menos desgastante.
Riscos e preocupações com a privacidade mental

Um dos pontos mais discutidos é a privacidade dos pensamentos. Se o sistema pode decodificar palavras imaginadas, poderia também captar ideias que a pessoa não pretende compartilhar? Em alguns testes, a IA chegou a identificar números quando os voluntários estavam apenas contando formas na tela. Isso levantou a preocupação de que o dispositivo pudesse “ouvir” pensamentos involuntários.
Para evitar isso, os pesquisadores testaram soluções, como o bloqueio seletivo, em que o sistema reconhece apenas tentativas reais de fala, ou a senha mental, em que os pacientes usam uma frase incomum para ativar ou desativar a decodificação. Esse método alcançou 98,75% de precisão, oferecendo controle sobre o que é revelado.
O futuro da comunicação pela mente
Os próprios autores do estudo reconhecem que a tecnologia ainda está longe de permitir conversas naturais apenas com a voz interior, mas o avanço é considerado um “prova de conceito” com potencial. Se refinada, essa inovação pode oferecer a pacientes a chance de se comunicar de forma fluida novamente.
Leia também:
- Chip da Neuralink funciona há 1 ano no cérebro humano; confira próximas etapas
- Neuralink | O que o implante cerebral pode fazer por você
VÍDEO | NEURALINK
Leia a matéria no Canaltech.