YouTube altera vídeos sem avisar e usuários questionam aparência de IA

Tecnologia
Resumo
  • Usuários e criadores de conteúdo notaram filtros em vídeos do YouTube Shorts, com imagens mais nítidas, porém artificiais.
  • YouTube admite que está fazendo um experimento e afirma usar aprendizado de máquina tradicional, mas sem IA generativa.
  • Em julho, a plataforma atualizou sua política para punir criadores que publicam conteúdos de baixa qualidade feito por IA.

Falamos muito por aqui sobre a grande dificuldade de parte dos usuários em identificar conteúdo feito por IA. Mas e quando a própria plataforma deixa vídeos reais parecidos com conteúdo automatizado? Segundo a BBC e alguns usuários, esse tem sido o caso com vídeos no YouTube Shorts.

A plataforma reconheceu, na última quarta-feira (20/08), que está de fato realizando um “experimento” em alguns vídeos, mas negou o uso de IA generativa, afirmando se tratar de “aprendizado de máquina tradicional”. A mudança não foi comunicada previamente aos criadores de conteúdo e gerou críticas no Reddit e no X/Twitter, com perfis acusando a plataforma de modificar os vídeos sem consentimento.

Curiosamente, em julho, o YouTube atualizou suas políticas de monetização justamente para punir criadores que publicam o chamado AI Slop — conteúdo de baixa qualidade feito em massa por inteligência artificial. Agora, a própria empresa está sendo acusada de aplicar um efeito de IA indesejado nos vídeos.

Como os usuários descobriram?

As críticas começaram a aparecer em redes sociais há pelo menos dois meses e ganharam força com uma thread no Reddit. Nela, o usuário Ulincsys publicou uma comparação de um vídeo do criador Hank Green, mostrando o antes e o depois da aplicação do filtro. “Eu estava tendo um problema há vários dias, no qual os Shorts pareciam ‘borrados’, ou como se um efeito de pintura a óleo tivesse sido aplicado”, relatou.

Na comparação, o usuário nota que a versão processada do vídeo tem contornos mais nítidos e sombras mais fortes, o que, no mínimo, já indicaria um upscaling feito pela plataforma. No entanto, ele observa características comuns em imagens processadas por IA, como uma textura que faz o cabelo do youtuber parecer “de plástico”.

Outros usuários rapidamente corroboraram a descoberta, compartilhando exemplos de vídeos que apresentavam os mesmos detalhes visuais. A suspeita era de que o YouTube estaria aplicando algum tipo de upscaling com IA para melhorar a resolução de vídeos publicados em baixa qualidade.

“Inicialmente, presumi que os próprios criadores estavam adicionando efeitos de retoque, como para manchas na pele etc. Mas depois percebi nos vídeos em que você não se daria ao trabalho de fazer isso”, explica outro usuário na thread, que segue recebendo novos comentários.

Justificativa do YouTube não convence

Diante da repercussão, o perfil oficial da empresa respondeu uma das críticas em um post no X/Twitter. Segundo a companhia, se trata de um “experimento para melhorar a qualidade de vídeo”. Além disso, Rene Ritchie, chefe editorial do YouTube, detalhou os testes, afirmando que não se trata de IA generativa e nem de upscaling.

“Estamos rodando um experimento em Shorts selecionados que usa tecnologia de aprendizado de máquina tradicional para remover o desfoque, reduzir o ruído e melhorar a clareza dos vídeos durante o processamento (semelhante ao que um smartphone moderno faz quando você grava um vídeo)”.

Rene Ritchie, chefe editorial do YouTube

A justificativa, no entanto, foi vista por muitos como um jogo de palavras. Como apontou a BBC, “aprendizado de máquina” (machine learning) é, na verdade, um subcampo da inteligência artificial. Para especialistas ouvidos pelo veículo, usar o termo seria uma tentativa de se distanciar da conotação negativa que a IA generativa adquiriu.

Para Rhett Shull, criador de conteúdo, o ponto não é a terminologia, mas a falta de transparência e controle. “Se eu quisesse essa nitidez excessiva terrível, eu mesmo a teria feito”, disse o youtuber à BBC. “Mas o mais importante é que parece gerado por IA. Acho que isso me representa mal e pode corroer a confiança que tenho com meu público”.

Até o momento, o YouTube não informou se dará aos criadores a opção de não participar do “experimento” e manter os vídeos no estado original.

Com informações da BBC

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